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Bárbara Cariry estreou no cinema como atriz, mais precisamente fazendo uma participação especial e afetiva no clássico Corisco e Dadá (1996), filme dirigido por seu pai, Rosemberg Cariry. Ela tinha entre sete e oito anos de idade. No entanto, sua principal atividade cinematográfica futura não seria diante das câmeras, mas nos bastidores, especificamente na produção. Formada em audiovisual pela Universidade de Fortaleza (Unifor), ela é igualmente conhecida por seu trabalho como roteirista, assistente de direção, montadora e cineasta. Aliás, ela estreou com 2021 como diretora de longas-metragens com Pequenos Guerreiros (2021). Mas, ao longo das últimas duas décadas ela vem se dedicando prioritariamente à produção dos projetos do pai e do irmão Petrus Cariry – mas não apenas deles, pois é preciso ressaltar que Bárbara é vencedora do Prêmio Guarani de Melhor Filme de 2021 pelo trabalho em Sertânia (2021), do saudoso Geraldo Sarno. Figura fundamental para a viabilização e distribuição de Mais Pesado é o Céu (2023), longa-metragem de Petrus atualmente em cartaz, ela conversou com exclusividade com o Papo de Cinema sobre produção, trabalhar em família e distribuir um filme independente. Confira.

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Como foi produzir um filme de estrada em meio a uma pandemia e a uma das maiores crises institucionais políticas dos últimos tempos no Brasil?
Esse foi um filme feito com recursos de edital, mas dentro do que chamamos de baixo orçamento. Os desafios enfrentados foram vários. Desde o processo do roteiro até conseguir a equipe e o elenco que acreditávamos serem os melhores para o projeto. Dito isso, tivemos a alegria de contar com profissionais parceiros que acreditaram muito no filme. E, no fim das contas, isso é o que faz a diferença. Quando começamos um projeto do porte do nosso, e com os que desejávamos para ele, essas conexões são fundamentais. No caminho fomos encontrando parceiros, como na cidade da Quixadá, onde fizemos toda a filmagem. Encontramos apoio em produtores locais, em pessoas que nos ajudaram a desenhar possibilidades e caminhos.

E quais são as dores e as delícias de se trabalhar em família, uma vez que você constantemente produz os filmes de seu pai e de seu irmão?
Participo dos projetos do meu pai e do meu irmão desde a ideia embrionária. Muitas vezes recebo um primeiro e-mail com pouquíssima linhas e acompanho o projeto desde aí. E isso é maravilhoso, mas também dificílimo. Até que ponto não coloco minhas observações como produtora nesse processo criativo? É um desafio. Mas os dois têm uma compreensão enorme de produção, o que me deixa confortável. E olha que estou falando do meu pai e do meu irmão mais velho (risos). Lembro, por exemplo, no Pobres Diabos (2013) precisamos adaptar alguns desejos do roteiro sem perder a essência. E isso é complicado. Porém, como acompanho tudo desde o primeiro ponto, até isso facilita. Da minha parte há uma vontade enorme de conseguir realizar tudo sempre da melhor maneira. Quando se está em família, fica ainda mais forte isso de ir até a última instância. E esse resultado fica evidente na telona.

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Barbara e seu pai, o grande Rosemberg Cariry. Foto/Divulgação

Nas conversas que tive com o Petrus ao longo dos anos, ele sempre se refere a você como uma produtora criativa, daquelas que dão palpites valiosos em aspectos artísticos? É por aí?
Me coloco realmente como uma produtora criativa, principalmente por isso de estar presente desde as primeiras etapas. Acompanho desde a inscrição no primeiro festival até o roteiro, ao qual dou sugestões, claro. Há a organização da parte financeira para tudo caber naquele recurso. Mas, sobre isso da produção criativa, é importante escolher as pessoas certas para estarem no projeto. Este é o desenho de produção: pensar nos espaços de filmagens e tentar simplificar sem perder. Aliás, esse é o segredo. Meu desafio é simplificar as coisas sem que haja perdas. No processo faço minha decupagem. Não sei ler o roteiro sem decupá-lo. Quando sou convidada a dar uma disciplina na universidade daqui sobre produção, o passo inicial é ler os roteiros dos alunos. E a primeira coisa que faço é decupar. Eles não entendem nada (risos). Mas, se não decupar, não tenho noção de tamanho, da dimensão do filme. Fico muito nesse lugar de tentar oferecer ao projeto o que ele precisa, dentro do orçamento que ele tem. A produção criativa é pensar em todos os aspectos do filme.

A que fatores principais você atribui o atual protagonismo do cinema cearense?
Acredito muito em construção de cinematografia. Acho estranho quando as pessoas se esquecem da história dos realizadores. Vivemos um momento de muita alegria, de ebulição e protagonismo do cinema cearense. E isso tudo foi plantado lá atrás. Atualmente estamos colhendo. Se o governo do estado continuar compreendendo a importância do audiovisual, se as políticas públicas federais oferecerem mecanismos para realizar e lançar os nossos filmes, vamos ser vistos. E temos um cinema de qualidade. Por exemplo, o Guto Parente tem uma carreira super relevante, primeiramente como curta-metragista e depois como diretor de longas. Você vê uma construção. O Karim Aïnouz é a cereja do bolo. Esteve recentemente no Festival de Cannes com um filme rodado no Ceará, tendo 90% da equipe cearense. Isso é um reconhecimento mito importante para os profissionais daqui. Tudo isso é fruto de um plantio no passado. Estamos colhendo agora.

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Mais Pesado é o Céu está indo para a sua segunda semana em cartaz. Como você pode definir esse processo de lançar um filme independente nos cinemas brasileiros atualmente?
É um desafio. Antes de falar contigo, estava olhando a planilha dos números de bilheteria e fazendo projeções. É muito complexo pensar num lançamento em cinema e colocar todos juntos. Não estou no mesmo lugar da Disney ou de qualquer grande distribuidora estrangeira. E isso nos distancia profundamente. Mesmo quando falamos de cinema brasileiro, também precisamos pensar em escalas. Existem grande comédias lançadas, e é importante que elas existam, mas a situação do pequeno produtor e distribuidor é muito difícil. Que salas e horários a gente consegue? São muitas pressões que vêm de todos os lados para atingir um panorama razoável. Estou feliz que o filme tem chegado ao público, contente pelo reconhecimento. Isso é importante coletivamente para todos nós. Mas também acho que é muito complicado levar um filme hoje aos cinemas, principalmente nos moldes atuais de exibição. Escuto muitas coisas em cada conversa que tenho com os exibidores. Compreendemos o valor do filme que estamos distribuindo e sabemos que ele deveria estar em muito mais salas. Estar no TOP 10 é super bacana, mas há inúmeros desafios a serem superados.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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