Billy Crystal é um dos maiores astros de Hollywood. Com mais de 70 créditos no cinema e na televisão, estrelou sucessos e campeões de bilheteria, além de ser conhecido também como o “Senhor Oscar”, por já ter apresentado a grande festa do cinema diversas vezes. Ben Schwartz, por sua vez, é mais novo, mas possui uma carreira semelhante: costuma atuar em séries e também como dublador, e já ganhou um Emmy justamente pela letra da canção que Hugh Jackman cantou no número de abertura da… Festa do Oscar de 2009! Os dois, agora, interpretam estranhos que se encontram por acaso e acabam sendo fundamentais nas vidas um do outro na comédia dramática Caindo em Pé (2019), que chega ao Brasil com exclusividade pelo selo TNT Original! Para saber mais sobre o projeto, nós conversamos com os dois, em um bate-papo inédito e exclusivo. Confira!
Em Caindo em Pé, Ben interpreta um comediante. Billy, você deu alguma dica para ele criar esse personagem?
Billy Crystal: Curioso você começar justamente por essa pergunta. Sabe, nós conversamos muito, entre nós, a respeito disso. E a conclusão que chegamos é que interpretar um comediante é algo muito difícil. No papel, até se pode ter essa impressão no começo: “puxa, que moleza”. Mas não é nada disso. Aliás, muito pelo contrário, é complicado de se fazer. Veja bem, Ben Schwartz é um ator talentoso, com muitas qualidades, e foi justamente isso que me atraiu nesse projeto, a oportunidade de estar ao lado dele e acompanhá-lo interpretando esse cara. Eu o vi em tantos tipos diferentes de comédia, e depois de assisti-lo interpretando um rabino, em frente a uma grande plateia, no filme Sete Dias Sem Fim (2014), ele foi tão engraçado e, ao mesmo tempo, sensível com tudo que estava acontecendo, que tive certeza que seria perfeito para esse personagem. E foi o que aconteceu, se juntou a nós e arrasou. Ele é tão maravilhoso que, acredito, algum dia ainda teremos um Funko sobre ele!
Ben Schwartz: Mas já existem dois Funkos baseados em mim! Ok, são de outros personagens que interpretei antes. Um Funko do Scott não sei se seria muito divertido. (risos)
Ben, o quanto de você está em Scott?
BS: O Scott tem muitos pontos em comum comigo, mas não chega a ser baseado na minha própria história. O que acontece é que, entre nós, atores, os começos de carreira, o modo como cada um começou, é sempre parecido. Todos já passamos por um ponto em que parecia não haver mais esperança. Como se “isso nunca vai dar certo”, já tem gente demais fazendo a mesma coisa, sabe? A gente se questiona o tempo todo: “será que sou mesmo talentoso?”. Você realmente precisa trabalhar duro. Houve um momento em que fiquei me perguntando: “o que irá acontecer comigo se isso nunca der certo?”. O que será de mim se eu for aquela pessoa que, apesar de ter me dedicado muito, o momento certo nunca aparecer? Temos a impressão de que basta esforço que uma hora a oportunidade irá aparecer, mas sabemos que nem sempre é assim. Não adianta ter todo o talento do mundo, se você também não tiver sorte de estar no lugar certo, na hora certa, por exemplo.
As coisas não estão nada fáceis para o Scott.
BS: Exatamente. O Scott é esse tipo de cara, que tem trabalhado muito por um longo tempo, e as coisas simplesmente não tem melhorado. O que poderia acontecer? Muito já me perguntei: “o que poderia fazer, se o que faço agora não fosse mais possível?”. Foi esse questionamento que tentei levar ao personagem. Essa incerteza do que pode acontecer com a carreira de alguém. Em relação a mim, tentei fazer diferente, mas a gente nunca sabe como vai ser. Tentei fazer desse cara alguém que, mesmo quando dá certo, não é tão incrível assim, sabe? Não é o comediante que vai no clube e deixa o salão inteiro rindo até não poder mais. Ele até pode provocar alguns aplausos, mas não é dos mais marcantes. Porque você não nasce maravilhoso. Pelo contrário, vai melhorando com o tempo. Esse foi o maior desafio para mim, algo muito interessante de fazer: alguém que não é bom o bastante, apesar de ser esforçado.
Vocês sentem saudade dos tempos que atuavam em stand up comedy?
BC: Confesso que ainda me apresento, de vez em quando. Há alguns anos cheguei a fazer uma pequena turnê por algumas cidades. É revigorante estar ao vivo, na frente das pessoas, e ter essa troca. Torço para que esses tempos turbulentos pelos quais estamos enfrentando agora passem logo, para que a gente possa, mais uma vez, estar juntos e possibilitando essa conexão. E que fique claro, adoro todos os aspectos do que estamos fazendo diante das atuais condições. Mas acontece que não há nada igual a estar em frente às pessoas – e sei que o Ben concorda comigo. Não há prazer maior, para um ator, do que esse retorno imediato que apenas o palco pode oferecer. É maravilhoso, pois a troca se dá no mesmo instante.
Qual a principal diferença, para você, entre fazer teatro e televisão?
BC: Ah, com filmes é diferente. Para você ter uma ideia, filmamos o Caindo em Pé entre outubro e novembro, e só fomos ouvir falar de novo sobre o filme em abril, quando fomos chamados para vê-lo pela primeira vez. É difícil, mas também é a parte bonita no processo de se fazer cinema: essa precisão em atuar da maneira correta, em achar o timing perfeito. Afinal, há tantos pequenos detalhes que podem comprometer o sucesso de uma piada. Isso é o que mais gosto quando estou em frente à câmera, pois ela me desafia a estar cada vez mais próximo da perfeição.
Qual a sua relação com os palcos, Ben?
BS: O Billy tem razão a respeito do que diz sobre se apresentar ao vivo em frente ao público. É uma experiência muito gratificante. Eu, por exemplo, gosto de improvisar, e isso só é possível quando temos essa troca com o espectador. Também estava no meio de uma turnê quando a quarentena começou e tivemos que interromper tudo. Não me entenda mal, adoro fazer cinema, shows para televisão e outros programas, mas nunca irei esquecer que foi assim como comecei, me apresentando ao vivo, só eu e o palco, e mais nada. É uma sensação maravilhosa. E quando você fica afastado, é claro que as saudades batem. Você está acostumado com aquilo, afinal. Sinto falta de fazer as pessoas rirem, de vê-las se divertindo com as minhas piadas. Sentir essa energia pela sala é o que há de melhor. Dividir essa experiência, de apenas uma noite, com aquele grupo de pessoas, é único. Aquilo nunca mais se repete, é sempre diferente. Só quem viveu, sabe.
O fato de Scott ser um comediante foi um dos aspectos que te atraiu nesse personagem? Por ele lhe ser tão familiar?
BS: Com certeza foi em parte por isso. Foi divertido explorar esse aspecto da natureza dele. Além, é claro, de vivenciar esse constrangimento dele se ver obrigado a voltar a morar com os pais. Ele está passando por um momento muito complicado, e estes problemas dele me atraíram. Mas poderia ser o leiteiro, que não faria diferença. Só pela oportunidade de poder fazer parte desse elenco e trabalhar ao lado de um ídolo, como Billy Crystal, pra mim já era mais do que suficiente.
Caindo em Pé é uma comédia, mas também tem momentos dramáticos. Como foi para vocês encontrar o tom certo dos personagens?
BC: Bom, acontece que o filme foi muito bem dirigido. Matt Ratner fez um trabalho incrível, e nós sabíamos como trabalhar a partir do roteiro do Peter Hoare. Estava tudo ali. A gente sabia bem o que queríamos fazer. Era uma questão, portanto, de apenas fazer certo. O filme inteiro nos levou, se não me engano, cerca de 22 dias até encerrar as filmagens. Foi uma experiência maravilhosa, e posso dizer, sem risco de errar, que foi um dos melhores projetos que já participei. Ben e eu estávamos sempre prontos para a ação. Afinal, os protagonistas é que ditam o ritmo para os demais. Nós éramos os exemplos a serem seguidos, e essa é uma responsabilidade enorme. Então, quanto mais preparado você estiver, mais fácil será todo o processo.
É curioso que o filme fala sobre problemas entre pais e filhos. Scott não se dá bem com o pai, ao mesmo tempo em que Marty deseja se conectar com o filho. O que vocês acham que os personagens de vocês teriam a ensinar um ao outro?
BS: Acho que as vidas de ambos estão muito bagunçadas. Se não tivessem um ao outro, simplesmente seguiriam cometendo os mesmos erros, e nem se dariam conta. Seja pela ligação de um com a bebida, ou o outro, que é um fracasso no que faz. Então, acredito que não seriam capazes de lidar com o que precisam enfrentar. Com a bagunça que eles próprio criaram para si mesmos. Acho que é isso que acabam aprendendo entre eles. Scott aprende com Marty como fazer da comédia um estado de ser, um lugar real dentro dele. Mas, além disso, há essa questão dele ser também uma figura paternal. É com esse estranho que vai conseguir, enfim, se abrir e falar sobre os problemas que tem enfrentado. E precisa colocar tudo isso para fora. A sorte dele, no entanto, é que veio a calhar ser o Marty, uma pessoa engraçada, e será com esse humor que irá ajudá-lo a superar tudo. É a confiança que transmite, e a ideia de ter alguém que acredita nele. Isso era muito importante para o Scott. O que você acha, Billy?
BC: A mesma coisa. (risos) Marty começa num certo ponto em que a esperança parece ter lhe abandonado. Ele busca pelo filho, e esse não quer mais saber dele. Por mais que busque se refugiar todas as noites, ainda tem uma vida com a qual lidar. É isso que o leva a beber, a fazer as bobagens que comete, até mesmo faltar ao trabalho. No final, está péssimo. É por isso que Scott lhe faz tão bem, pois renova essa vontade de ir atrás do que ele realmente precisa.
Ben, qual dos icônicos personagens já interpretados por Billy Crystal você gostaria de encontrar, à noite, num bar, para passar algumas horas bebendo e conversando?
BS: Wow! Essa pergunta é muito boa! Acho que se fosse o Harry, de Harry e Sally: Feitos Um Para o Outro (1989), ele teria tanto o que dizer que eu ficaria apenas escutando. Precisaria estar preparado para ouvir o máximo e aprender tudo o que ele estivesse disposto a me ensinar. Agora, se fosse mais tarde da noite, talvez não estivesse tão atento. Então, talvez fosse melhor encontrar o Mitch, de Amigos, Sempre Amigos (1991). Acho que a gente se daria muito bem, independente de qual hora do dia, ou da noite, a gente se encontrasse. Afinal, é um cara tão divertido, e ao mesmo tempo, amoroso, que é o tipo de gente que dá prazer em ter ao nosso lado. Confesso que ficaria indeciso entre o Mitch e o Mike Wazowski (Monstros S.A., 2001), mas no final acabaria escolhendo o Mitch mesmo.
Billy, e o que esse personagem diria ao Ben?
BC: Olha… você pode me emprestar alguns dólares? (risos) Acho que isso funcionaria para qualquer um dos personagens.
(Entrevista feita pelo zoom em setembro de 2020)
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