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Sinopse

Forçado a voltar para a casa dos pais depois de ser demitido, um comediante engata uma amizade improvável com um dermatologista alcoólatra.

Crítica

Scott não é nenhuma exceção. Já com quase trinta anos, o rapaz ainda não encontrou um rumo na vida. E tudo isso por um motivo muito simples: seu sonho é ser comediante. Mas não um astro do cinema ou uma figura popular na televisão, ou quem sabe talvez um influencer digital reconhecido por milhares. Sua ambição é mais imediata: quer se dar bem em um palco, sozinho, apenas ele e a plateia. Ou seja, no modelo stand up comedy. O problema é que nem todo mundo parece achar graça do que ele tem a dizer, ou sequer lhe dedica tempo suficiente para ouvir suas piadas. Sem emprego e, portanto, sem condições de se manter por conta própria, acaba fazendo o que muitos como ele já fizeram antes: se vê obrigado a voltar para a casa dos pais. Esse momento de volta ao ninho dá início ao drama vivido pelo protagonista de Caindo em Pé, uma história que promete pouco e que, por isso mesmo, acaba se saindo melhor do que a encomenda.

Quem cai em pé, é porque está preparado para seguir andando. Seria mais ou menos essa a ideia do original Standing Up, Falling Down, ou seja, em tradução literal, ‘se mantendo erguido, mesmo durante a queda’. Essa é a postura de Scott, mas não apenas dele. Quem também passa por um percurso semelhante é o doutor Marty, um homem com bem mais experiência que o rapaz e que, por isso mesmo, se permite observar o que está se passando consigo de uma maneira mais leve e despreocupada. Os dois acabam se conhecendo em um bar, onde um vai parar por acaso e o outro já é cliente frequente. E se num primeiro momento parecem dois estranhos, ao menos aos olhos um do outro, logo vão descobrindo e revelando suas semelhanças, que ao invés de afastá-los, terminará por colocá-los lado a lado em um momento em que a companhia certa pode fazer toda a diferença.

A questão, no entanto, está justamente aí: será que Scott é a melhor pessoa para estar com Marty? E Marty, o que tem a oferecer à Scott? Enquanto o mais novo busca descobrir qual caminho seguir, como recuperar o orgulho ferido e retomar o controle da própria vida, o outro busca resgatar o que perdeu pelo caminho, tentando reparar decisões impensadas e resgatar relações que já foram fortes, mas acabaram desgastadas pelo tempo. Os dois, portanto, estão em lados opostos de uma mesma balança, e estará no entendimento dessa situação o fator determinante que poderá tanto fazer de um o exemplo para o outro, como também terminar por afastá-los de vez, desperdiçando uma oportunidade que ambos tanto necessitam. Não é apenas uma questão de juventude versus velhice, mas de experiência aliada à vontade de aprender.

Ben Schwartz, visto em séries cômicas como Parks and Recreation (2010-2020) e Space Force (2020), revela um lado frágil e contido como Scott. Ao mesmo tempo em que equilibra uma petulância que cai bem a alguém que se recusa em admitir o quanto necessita de apoio, também possui a jovialidade necessária a essa figura tão patética quanto carismática. Por outro lado, o veterano Billy Crystal controla bem o histrionismo que lhe é característico, oferecendo à Marty um perfil mais sensível e variado do que está acostumado a permitir que seja percebido. Os dois formam uma boa dupla, e Caindo em Pé funciona melhor quando estão juntos em cena, ao invés das – felizmente, poucas – tentativas de guiá-los em separado. Por mais que o roteiro de Peter Hoare (A Grande Luta, 2020) não se esforce em reinventar a roda, está na segurança em permitir que seus atores façam o que tão bem sabem o maior mérito da produção.

Isso, claro, é crédito ainda do diretor Matt Ratner, aqui estreante na função. Ciente de suas limitações, resigna-se em fazer o mínimo para criar o espaço e as condições necessárias para que seus intérpretes principais possam desempenhar com tranquilidade o que deles é esperado. Assim, Caindo em Pé se revela uma grata surpresa, tanto pelo singelo que oferece, como também por não se arriscar por terrenos irregulares, contentando-se em entregar com competência o que dele é esperado. Um filme bonito, sobre homens e suas sensibilidades, que talvez não encontre a ressonância merecida, mas que ainda deverá se mostrar à altura tanto dos esforços envolvidos como, principalmente, da dedicação daqueles que por ele decidirem se aventurar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Leonardo Ribeiro
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MÉDIA
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