Todo ano é a mesma coisa: ao mesmo tempo em que muitos comemoram a seleção de alguns dos seus filmes favoritos entre os finalistas do Oscar, outros tantos reclamam a omissão de outros títulos nesta ou naquela disputa mais badalada. E entre esquecimentos compreensíveis e opções absurdas, foi possível elencar neste ano 15 longas – seja pelo conjunto ou por méritos individuais – que mereciam um impacto maior na festa dos melhores do ano. Muitos destes títulos receberam indicações importantes – dois deles concorrem até à Melhor Filme do ano – mas foram eclipsados por outros em categorias fundamentais, justamente naquelas nas quais acreditava-se estarem suas maiores forças. E como o Oscar é quase como que um resumo de todas as premiações prévias – National Board of Review, Globo de Ouro, os prêmios dos sindicatos e das agremiações de críticos – os indicativos iniciais que não se confirmaram na reta final também deixaram muito o que se lamentar. Confira abaixo os quinze filmes que deveriam ter sido recebidos com mais carinho no Oscar 2014:

 

15. O Mordomo da Casa Branca
Este impressionante sucesso de bilheteria – mais de US$ 100 milhões só nos EUA – inspirado em fatos reais era, no momento de sua estreia em agosto do ano passado, um dos favoritos para figurar no Oscar na categoria principal e na de Direção (Lee Daniels, indicado anteriormente por Preciosa, 2009), mas com o passar do tempo viu suas chances ficarem reduzidas nas categorias de Maquiagem (indicado ao BAFTA e ao Critics Choice), Ator (Forest Whitaker foi indicado ao Screen Actors Guild e ao Satellite) e, principalmente, como Melhor Atriz Coadjuvante (Oprah Winfrey, a estrela mais popular da América, foi indicada por este trabalho ao Satellite, ao SAG Award, ao BAFTA e ao Critics Choice, além de ter sido premiada no Festival de Santa Barbara). Mas, como o filme é, de fato, ruim, e Winfrey está, no máximo, adequada, sua exclusão não é motivo de muito lamento.

 

14. Frances Ha
A comédia dramática escrita e estrelada por Greta Gerwig foi o sucesso hipster do ano, e muitos apostavam em sua força nas categorias de Melhor Atriz (Gerwig foi indicada ao Globo de Ouro e ao Critics Choice, além dos prêmios dos críticos de Vancouver, Toronto, Londres e Central Ohio) e como Roteiro Original (afinal, concorre ao Independent Spirit Award como Melhor Filme), ao menos. No entanto, não emplacou em nada e ficou a ver navios.

 

13. Universidade Monstros
Se até o mediano Carros (2006) conseguiu ser indicado como Melhor Longa de Animação, como essa divertida sequência estrelada pelos monstruosos Mike e Sully acabou não sendo lembrada? Há anos uma produção da Pixar – o estúdio que mais vezes venceu nessa categoria – não ficava de fora da disputa pela estatueta dourada, e sua exclusão causa espanto e tristeza – até porque é muito melhor do que Meu Malvado Favorito 2, seu concorrente direto nas bilheterias desse ano e que acabou sendo selecionado. Mesmo assim, foi indicado ao BAFTA, ao Critics Choice, ao Satellite, ao Producers Guild of America e recebeu nada menos do que 19 indicações ao Annie – o Oscar da animação.

 

12. Short Term 12
Escrito e dirigido pelo estreante Destin Cretton e baseado no seu curta homônimo, teve sua primeira exibição em março do ano passado, no South by Southwest Film Festival, nos EUA. Desde então já conquistou mais de vinte troféus em lugares como Atenas, Suíça, Estônia e Espanha, além do seu país de origem. Além de premiado no National Board of Review como uma das dez melhores produções independentes do ano, tinha esperança em conseguir vaga no Oscar também nas categorias de Canção (“So You Know What It’s Like”, indicada ao Satellite), Roteiro Adaptado (indicado pelos críticos Online, de San Diego e de Central Ohio) e, principalmente, na de Atriz (a protagonista Brie Larson foi premiada nos festivais de Santa Barbara, Locarno, Hamptons, Gotham e pelos críticos de Austin, além de indicada ao Independent Spirit, Critics Choice Award, nas premiações dos críticos Online, de Central Ohio, Chicago, Phoenix, San Diego e São Francisco).

 

11. Ela
Mas o que o filme de Spike Jonze, indicado em 5 categorias – inclusive a Melhor Filme – e favoritíssimo na de Melhor Roteiro Original, faz nessa seleção? Um simples motivo: Joaquin Phoenix! Sua exclusão dentre os finalistas à Melhor Ator foi um dos espantos deste ano – ele interpreta um homem solitário que se apaixona por uma voz. Ainda mais após o intérprete ter sido indicado no Globo de Ouro e nas premiações dos críticos Online, de Washington, de San Diego e da Florida. Mas como ele mesmo declarou que “competições como o Oscar são demonstrações de pura estupidez”, não é de se espantar muito por sua ausência.

 

10. O Grande Herói
Premiado no Critics Choice como Melhor Filme de Ação e Melhor Ator de Ação (Mark Wahlberg), além de ter sido apontado como um dos dez melhores filmes do ano pelo National Board of Review, esse drama de guerra almejava estar presente em categorias importantes, como Melhor Filme, Ator e até Roteiro Adaptado (indicado ao Satellite e ao Writers Guild of America). No entanto precisou se contentar com apenas duas indicações técnicas: Melhor Som e Edição de Som.

 

09. Antes da Meia-Noite
Ainda que tenha sido indicado como Melhor Roteiro Adaptado (era uma aposta certo, ainda mais que o segundo filme da trilogia também concorreu na mesma categoria), havia dúvida sobre a força deste filme que estreou no início de 2013 no Festival de Berlim e, desde então, colheu apenas elogios por onde passou. Os mais entusiasmados falavam até de uma indicação a Melhor Filme, mas após a seleção de Julie Delpy como finalista no Globo de Ouro, pela Sociedade Nacional dos Críticos e no Independent Spirit, suas chances de emplacar como Melhor Atriz também aumentaram. Porém não o suficientes para concretizarem uma almejada indicação.

 

08. À Procura do Amor
Essa simpática comédia romântica chegou como quem não quer nada, e aos poucos foi captando a atenção de muitos. Há os que apostavam no desempenho do recém falecido James Gandolfini – e num voto sentimental – na categoria de Ator Coadjuvante – afinal, ele obteve indicações póstumas ao SAG Awards, ao Critics Choice, ao Independent Spirit e nas premiações dos críticos de Chicago, Londres, Phoenix, San Diego e Washington, além de ter ganho nos críticos de Boston. A até então televisiva Julia Louis-Dreyfus era outra que despontava com chances como Melhor Atriz, principalmente após as indicações no Globo de Ouro, no Critics Choice e no Satellite. E por fim, havia ainda quem apostasse na diretora Nicole Holofcener na categoria de Roteiro Original, pois ela foi premiada pelos críticos de Boston e concorre no Independent Spirit, no Satellite e nos críticos de San Diego e de Washington. Mesmo tendo encontrado todo esse amor (perdão pelo trocadilho) de última hora, ele não foi suficiente entre os votantes do Oscar, que deixou o filme sem nenhuma indicação. Injustamente.

07. Até o Fim
Verdadeiro tour de force do protagonista Robert Redford, astro já oscarizado – como Melhor Diretor – e adorado em Hollywood por ser criador do Festival de Sundance, acreditava-se que seu esforço – ele é o único ator do filme, ficando sozinho em cena durante todo o tempo e em alto mar – seria recompensado com uma indicação como Melhor Ator. Redford foi lembrado no Globo de Ouro, no Critics Choice, no Independent Spirit, no Satellite e nas premiações dos críticos de Chicago, Phoenix, São Francisco e Washington, além de ter sido premiado pelos críticos de Nova York. O filme, no entanto, precisou se contentar com apenas uma indicação técnica, como Melhor Edição de Som. Infelizmente.

 

06. Inside Llewyn Davis
Os irmãos Coen são verdadeiros ‘queridinhos’ do Oscar, e já viram quatro produções suas concorrerem na categoria principal – e uma foi inclusive premiada, Onde os Fracos não têm Vez (2007)! Por isso causou espanto a ausência deste título premiado no Festival de Cannes e reconhecido como Melhor Filme do ano pela Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA e indicado ao Globo de Ouro, ao American Film Institut, ao Critics Choice e ao Independent Spirit Award. Apostava-se também na presença do protagonista Oscar Isaac como Melhor Ator (premiado pelos críticos de Vancouver, San Diego, Phoenix e de Toronto, nos festivais de Santa Barbara e de Hamptons e na Sociedade Nacional dos Críticos, além de indicado ao Globo de Ouro), como Roteiro Original (premiado no National Board of Review e indicado ao BAFTA e ao Critics Choice), nos próprios Coen em Direção (premiados pela Sociedade Nacional dos Críticos), em Canção Original (“Please Mr. Kennedy”, premiada pelos críticos de Las Vegas e indicada ao Globo de Ouro e ao Satellite) e na Trilha Sonora de T-Bone Burnett (premiada pelos críticos de Los Angeles e de Boston). Mesmo com tudo isso, conquistou apenas duas indicações técnicas: Melhor Fotografia e Melhor Som. E provavelmente deverá sair da festa de mãos abanando.

 

05. Azul é a Cor Mais Quente
No ano passado, o vencedor do Festival de Cannes – Amor (2012), de Michael Haneke – não só ganhou o Oscar de Filme Estrangeiro como recebeu outras quatro indicações, inclusive a Melhor Filme do ano. O mesmo feito não se repetiu nesse ano, e por vários motivos. Primeiro, pelo fato do seu país de origem – a França, no caso – não tê-lo indicado como seu representante oficial na disputa (o escolhido foi o mediano Renoir, 2012, de Gilles Bourdos). Depois, pesou a polêmica em torno do tema – uma história de amor entre duas garotas – e pela visão do diretor Abdellatif Kechiche, que entre outras ousadias filmou uma cena de sexo explícito entre as protagonistas com mais de dez minutos de duração, o que certamente provocou choque entre os votantes mais conservadores. Se tamanha coragem pode ter eliminado suas chances na categoria principal, a jovem Adèle Exarchopoulos era um nome forte para o prêmio de Melhor Atriz – ela foi premiada pelos críticos de Central Ohio, de Chicago, de Los Angeles e no National Board of Review (muitos desses como Revelação), além de ter sido indicada ao Critics Choice, ao Satellite e ao prêmio dos críticos Online, de Londres, de Nova Iorque, de San Diego, de São Francisco, de Washington e junto ao Sindicato Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA. Seria uma escolha revestida de muita visão e sintonizada com os novos tempos. O que nem sempre é igual ao que pensam as pessoas por trás de Hollywood.

 

04. Rush: No Limite da Emoção
O belo e emocionante filme dirigido por Ron Howard estreou cedo nos EUA – em setembro, quando a maioria dos filmes que visam serem lembrados ao Oscar ocupam datas de lançamento no final do ano. Mesmo assim, o impressionante longa ficou na memória de muitos, que apostavam numa performance igualmente impactante no maior prêmio do cinema mundial – o que, infelizmente, acabou não acontecendo. Indicado ao Globo de Ouro, ao BAFTA e ao Critics Choice como Melhor Filme, lançou também o nome do espanhol Daniel Brühl entre os melhores coadjuvantes do ano, visto que ele foi selecionado ao Globo de Ouro, ao BAFTA, ao SAG Awards, ao Critics Choice e aos prêmios dos críticos de Dallas-Fort Worth, San Diego e Washington. Poderia também tranquilamente almejar categorias técnicas Edição, Trilha Sonora, Som, Edição de Som, Maquiagem e Fotografia. Acabou sem nada, no entanto.

 

03. Walt nos Bastidores de Mary Poppins
Indicado apenas como Melhor Trilha Sonora, essa investigação sobre a vida de Walt Disney e como teria sido a criação de um dos seus maiores sucessos era aposta certa em todas as principais categorias, e sua ausência foi uma das mais sentidas deste ano. Emma Thompson foi premiada no National Board of Review e junto aos críticos de Las Vegas, além de indicada ao Globo de Ouro, ao Bafta, ao SAG Award, ao Critics Choice, ao Satellite e ao prêmio dos críticos de Dallas-Fort Worth, Londres, Phoenix, San Diego e Washington. Sua exclusão entre as cinco candidatas à Melhor Atriz é quase inexplicável. Tom Hanks, como coadjuvante, foi indicado ao Satellite e ao prêmio dos críticos de Phoenix e de Londres, e mesmo sem tanta força quanto a protagonista faria bonito caso tivesse sido selecionado entre os finalistas. Causou espanto também a ausência desse longa entre os indicados como Melhor Filme, pois foi selecionado no prêmio do Sindicato dos Produtores (o mais forte indicativo dessa categoria), ao Critics Choice, ao Satellite, ao American Film Institute e aos prêmios dos críticos de Las Vegas e de Phoenix, além de ter sido eleito um dos dez melhores do ano no National Board of Review.

 

02. Fruitvale Station
Saudado com entusiasmo em janeiro de 2013, quando teve sua estreia mundial no Festival de Sundance, o primeiro longa do escritor e diretor Ryan Coogler tinha tudo para ocupar a vaga destinada ao poético Indomável Sonhadora (2012) no ano passado, ou seja, era o filme pequeno e independente que faria bonito frente aos grandes da indústria. Tal previsão, no entanto, acabou não se concretizando, infelizmente, mesmo sendo essa obra ainda superior à do ano passado. Premiado na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes, foi indicado ao Independent Spirit e eleito um dos dez melhores filmes do ano pelo National Board of Review, premiação que reconheceu ainda Octavia Spencer como Atriz Coadjuvante, e Coogler (Diretor) e Michael B. Jordan (o protagonista) como revelações. Spencer foi indicada aos prêmios dos críticos de Washington e de São Francisco, enquanto que Jordan ficou entre os finalistas a Melhor Ator no Independent Spirit e na premiação dos críticos de Central Ohio, Phoenix e Florida. Trata-se de um filme forte, que resgata um episódio real trágico e comovente que não poderia ser esquecido. Se mais gente o tivesse visto – seu lançamento nos cinemas norte-americanos foi limitado – certamente suas chances no Oscar teriam sido diferentes. E muito mais justas.

 

01. Capitão Phillips
Indicado em seis categorias, inclusive a Melhor Filme, o longa dirigido por Paul Greengrass e estrelado por Tom Hanks registrou as maiores surpresas desse ano, tanto pelo viés positivo como também pelo negativo. Se por um lado registrou a primeira indicação ao Oscar de um ator somali – o novato Barkhad Abdi, que concorre como Coadjuvante – por outro representa o maior absurdo deste ano: a exclusão de Hanks entre os melhores atores do ano. Seu desempenho aqui não é digno apenas da indicação, mas também de uma vitória justa e simples! Ter ficado de fora dos finalistas é quase um desrespeito, uma humilhação que o astro vencedor de dois Oscars não merecia enfrentar. Apenas como registro, ele foi indicado ao Globo de Ouro, ao Bafta, ao SAG Awards, ao Satellite, ao Critics Choice ao aos prêmios dos críticos Online, de Central Ohio, Dallas-Fort Worth, Londres, Phoenix e San Diego – ou seja, a praticamente tudo! Presente em dois longas que tinham tudo para colocá-lo novamente entre os grandes – a última indicação de Hanks ao Oscar foi por Náufrago (2000), há mais de uma década – ele viu suas chances se reduzirem a pó após essa esnobada dupla! Perto desse triste sinal de descaso com um dos mais confiáveis e competentes atores de Hollywood, a exclusão também de Greengrass entre os finalistas à Direção nem choca tanto, ainda que ele tenha sido indicado ao prêmio do Sindicato dos Diretores (que são os mesmos que votam no Oscar!!!), ao BAFTA, ao Critics Choice, ao Satellite e ao Globo de Ouro!

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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