13 fev

Top 10 :: Erros do Oscar

Quantas vezes você assistiu ao Oscar e pensou: “Como deram um prêmio para este filme? Aquele ator merecia muito mais a estatueta do que aquele outro! Porque diabos aquela atriz não foi premiada?” Pois é. Muitos de nós já pensamos isso. E não seria ótimo se pudéssemos mudar o jogo? Tirar o prêmio daquele astro e passar para outro? Remover uma injustiça que sempre martelou nossa cabeça? Claro que a junta de votantes da Academia, que dá o Oscar todos os anos, tem suas opiniões e é pelo montante dos seus votos que é escolhido o vencedor. Portanto, dizer que o Oscar “erra” ou que é “injusto” nada mais é do que uma figura de linguagem. Uma forma de expressar a nossa insatisfação quando o prêmio não é entregue para quem, na nossa cabeça, realmente merece. Dito isso, a inabalável equipe do Papo de Cinema resolveu arregaçar as mangas e brincar de justiceiros. Apagar os momentos em que achamos que a Academia equivocou-se e consertá-los. Fique à vontade em participar, logo abaixo, nos comentários, dizendo o Oscar que você sempre quis dar e de quem você certamente retiraria o prêmio. Chances são de que você, inclusive, pense que os errados somos nós. Eis a nossa lista.

 

CATEGORIA: Melhor Filme de 1976
ERRO: Rocky: Um Lutador
ACERTO: Taxi Driver
A história do Oscar está repleta de “injustiças”, mas em 1976 parece que a tônica da premiação era mesmo evitar reconhecimento aos concorrentes verdadeiramente bons. Senão, vejamos. Rocky: Um Lutador saiu vitorioso da cerimônia, justo na categoria Melhor Filme. Até aí, nada demais, sobretudo se levarmos em conta que longas piores já levaram a estatueta principal para casa em outras ocasiões. Mas o que dizer, então, da decisão dos membros da Academia, quando sabemos que o filme edificante do boxeador interpretado por Sylvester Stallone derrotou nada mais, nada menos, que Taxi Driver, de Martin Scorsese, e Rede de Intrigas, de Sidney Lumet, duas obras-primas? O fato é que, além do marketing, sempre tão eficiente para definir vencedores e perdedores, ao que parece a sociedade americana em particular estava mais propensa a acolher uma narrativa de redenção, de superação, do que encarar um veterano do Vietnã psicologicamente abalado ou mesmo refletir sobre os mecanismos nefastos da grande imprensa e o sensacionalismo que seduz espectadores em busca de polêmica e pouco conteúdo. É o preço (a derrota) que dois dos melhores filmes dos anos 1970 pagaram pela ousadia. – Por Marcelo Müller

 

CATEGORIA: Melhor Atriz de 1998
ERRO: Gwyneth Paltrow, por Shakespeare Apaixonado
ACERTO: Fernanda Montenegro, por Central do Brasil
Antes de mais nada, por favor, que não me chamem de ufanista. A questão é que, das cinco concorrentes ao prêmio de Melhor Atriz em 1998, é muito provável que Gwyneth Paltrow tenha tido o pior desempenho – e, mesmo assim, foi a que saiu premiada. Paltrow colocou suas mãos na estatueta dourada por um trabalho competente, mas anos-luz dos apresentados por Cate Blanchett, Emily Watson, Meryl Streep e pela nossa Fernanda Montenegro. Num feito inédito, a atriz brasileira conquistou essa cobiçada vaga por um desempenho emocionante e bastante meticuloso, repleto de nuances e de singular profundidade, reconhecido no Festival de Berlim, de Havana e no National Board of Review, entre tantos outros. Mesmo assim, não foi suficiente. Afinal, como uma senhora latina, ao lado de uma jovem australiana, uma inglesa gordinha e de uma veterana já muito premiada, poderia fazer frente a uma filha da nata de Hollywood – o pai é diretor, e mãe é atriz – afilhada artística de Steven Spielberg e queridinha por todos? A disputa, realmente, era difícil. Ainda mais que méritos artísticos não estavam na balança. – Por Robledo Milani

 

CATEGORIA: Melhor Atriz de 2001
ERRO: Halle Berry, por A Última Ceia
ACERTO: Nicole Kidman, por Moulin Rouge
No Oscar referente aos melhores de 2001, a academia errou feio, como muitas vezes faz. Errou em premiar Uma Mente Brilhante como melhor filme, por exemplo. No começo da temporada de premiações, Halle Berry, concorrendo por A Última Ceia, era a zebra da história. Não ganhava nada até chegar no SAG e surpreendentemente levar a estatueta. Embalada, então, por uma campanha engrossada pelos irmãos e produtores da Miramax, os Weinstein, Berry chegou com tudo no Oscar. Se tornou a “favorita” instantaneamente, deixando a ver navios performances de atrizes como Judi Dench, Sissy Spacek e a que deveria realmente ter vencido: Nicole Kidman, por Moulin Rouge. Apesar de vencedora no ano seguinte por As Horas, a performance de Kidman no filme de Stephen Daldry não é de se exaltar tanto quanto a Satine do musical visionário de Baz Luhrmann. Se entregando completamente à produção ao interpretar a prostituta do bordel francês que dá título à produção, e lidando com temas como amor e liberdade, Nicole mostra sua versatilidade para o drama, comédia e cenas musicais, cantando e dançando de modo esplendoroso. Com isso, criou uma Satine inimaginável de ser interpretada por outra atriz. – Por Renato Cabral

 

CATEGORIA: Melhor Filme de 2002
ERRO: Chicago
ACERTO: O Pianista
Chicago é um bom filme, mas está longe de entrar em qualquer lista de “melhores”. É até um pouco incompreensível que muitas pessoas atribuam a ele o fato de os grandes musicais terem voltado à moda, algo que deveria entrar na conta do excepcional Moulin Rouge (2001). De qualquer forma, o musical de Rob Marshall apareceu como um dos favoritos no Oscar e acabou ficando com seis estatuetas, entre elas a de Melhor Filme, o que é triste quando vemos que O Pianista estava na disputa. Este é um dos melhores e mais sensíveis trabalhos de Roman Polanski, contando a grande história do pianista judeu Wladyslaw Szpilman (espetacularmente interpretado por Adrien Brody), que fez tudo o que podia para sobreviver às perseguições dos nazistas na Segunda Guerra Mundial. O Pianista até surpreendeu um pouco ao ganhar nas categorias de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator e Melhor Diretor, mas é realmente uma pena que, em um ano em que O Senhor dos Anéis: As Duas Torres e As Horas também estavam indicados, a Academia tenha preferido o caminho mais fácil e premiar uma obra que agrada, mas que é muito superestimada. – Por Thomas Boeira

 

CATEGORIA: Melhor Ator Coadjuvante de 2003
ERRO: Tim Robbins, por Sobre Meninos e Lobos
ACERTO: Andy Serkis, por O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei
O Oscar 2004 foi dominado tão intensamente por O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei que a produtora de Invasões Bárbaras, durante seu discurso de agradecimento pela estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, resolveu dar graças pelo filme de Peter Jackson não estar concorrendo em sua categoria. Foram 11 prêmios em 11 indicações. Ainda que seja um número que, para muitos, possa soar demasiado, o filme merecia uma estatueta a mais: a de Melhor Ator Coadjuvante. Naquela noite, Tim Robbins recebeu o prêmio por sua performance em Sobre Meninos e Lobos. O real merecedor, no entanto, nem lembrado foi pela Academia. Andy Serkis, por sua performance como Gollum, deveria não só ser indicado como ter vencido. Os votantes da Academia teriam revolucionado sua premiação ao entregar os louros a um ator que não dá as caras em momento algum. Toda sua performance foi capturada por computadores e transposta na tela através de efeitos especiais de ponta. Efeitos estes que não escondem em momento algum a composição perfeita que Serkis tem de um dos personagens mais memoráveis da obra de J.R.R. Tolkien. “My Precious”, com aquela voz anasalada e rasgante, é simplesmente inesquecível. Um trabalho digno de uma estatueta dourada. – Por Rodrigo de Oliveira

 

CATEGORIA: Melhor Filme de 2004
ERRO: Menina de Ouro
ACERTO: Closer: Perto Demais
Os membros da Academia supervalorizarem filmes não é novidade nenhuma. Porém, em 2005, parece que houve uma profusão de longas nem tão interessantes assim que foram indicados na categoria de Melhor Filme: Ray é trabalho de ator; Sideways, o queridinho indie do ano; Em Busca da Terra do Nunca é lindo, mas clichê; O Aviador, uma produção menor de Martin Scorsese. O vencedor daquele ano, Menina de Ouro, também não pode ser considerada uma obra-prima de Clint Eastwood. Se houve ao menos um filme que ficou de fora desta lista e merecia ter sido indicado – aliás, ganho todos os louros – este era Closer: Perto Demais. Não só pelo elenco espetacular (aliás, Natalie Portman e Clive Owen foram as duas únicas indicações do longa), mas por tratar de forma crua e séria aquilo que Hollywood sempre coloca em panos quentes: as relações amorosas. A direção invasiva de Mike Nichols, aliada ao texto provocador de Patrick Marber, causam estranheza e aproximação no espectador. Afinal, quem nunca teve uma desilusão amorosa, sofreu por uma traição ou jogou na cara do parceiro tudo que pensava sobre ele? Closer vai direto ao ponto, não sem antes causar a ruptura do romantismo açucarado, tratando do amor e suas dores reais. Algo que a Academia não quis entender. Aliás, como de praxe. – Por Matheus Bonez

 

CATEGORIA: Melhor Filme de 2010
ERRO: O Discurso do Rei
ACERTO: A Origem
Quem conhece o funcionamento do Oscar sabe que a premiação é, acima de tudo, pura politicagem, e como tal, filmes que se promovem melhor, ganham mais votos. Por isso que normalmente (não sempre) a Academia costuma premiar longas medianos, nos dois sentidos: por serem nem muito bons e nem muito ruins, e independente de serem bons ou ruins, não se posicionam em nenhum lado. Produções que dividem o público e a crítica não costumam levar o prêmio. Dito isso, ainda é muito difícil ver um título como O Discurso do Rei, que não é ruim (!), levar a mais cobiçada das estatuetas ao lado de seu estapafúrdio diretor, quando com ele concorriam ao menos quatro obras irretocáveis – Cisne Negro, A Origem, Toy Story 3 e A Rede Social – sem contar com Bravura Indômita, Inverno da Alma e O Vencedor, que embora não tão admiráveis quantos os primeiros, ainda eram muito melhores e mais memoráveis que o longa-metragem dirigido por Tom Hooper. Em um mundo perfeito e com estes indicados, David Fincher (por A Rede Social) deveria ter sido agraciado com o prêmio de Melhor Direção, ao passo em que A Origem, venceria o de Melhor Filme. – Por Yuri Correa

 

CATEGORIA: Melhor Longa de Animação de 2012
ERRO: Valente
ACERTO: Detona Ralph
Não dá pra entender muito bem a categoria Melhor Animação. Às vezes, parece que o critério é a qualidade da animação, tecnologia empregada em seu desenvolvimento e contribuição da produção para o gênero. Outras, parece que as animações são julgadas exatamente como os filmes “live action”: por seu roteiro, dublagens, direção, montagem e etc. Como o segundo critério é mais amplo, acaba parecendo também mais justo. Motivo pelo qual, quando o primeiro é levado em conta, o resultado é indigesto para a maioria dos espectadores da festa. Foi o que ocorreu quando Valente bateu Detona Ralph. Tudo bem que a história da princesa Mérida (a primeira de princesas da Pixar) está longe de ser ruim. Mas com roteiro e direção simples, distantes das obras primas que o estúdio normalmente produz, a noite tinha tudo pra ser de Detona Ralph, uma animação que fez com os videogames o que Toy Story (1995) fizera com os brinquedos quase dez anos atrás, arrebanhando fãs dos mais diversos tipos. Uma artimanha, aliás, que tinha sido da própria Pixar, e desta vez, curiosamente, ganhava vida pelas mãos da Disney, que teria também um novo filão para suas animações. Uma pena que não aconteceu. – Por Dimas Tadeu

 

CATEGORIA: Melhor Atriz de 2012
ERRO: Jennifer Lawrence, por O Lado Bom da Vida
ACERTO: Emmanuelle Riva, por Amor
O cinema norte-americano se retroalimenta permanentemente. Come sua própria carne para não morrer de fome e forja estrelas para dar continuidade a uma indústria que já foi a maior do entretenimento, mas que hoje perde cifras para os games. Um momento marcante do modus operandi desta tática de sobrevivência ocorreu quando Jennifer Lawrence levou o Oscar de melhor atriz pelo mediano O Lado Bom da Vida, tendo na telona um resultado similar ao de uma estudante de artes dramáticas, enquanto a estupenda Emmanuelle Riva, do impactante Amor, se contentou em aplaudir a entrega da estatueta. Veja: pelo mesmo papel, Lawrence foi nomeada em 23 premiações, das quais ganhou 16 prêmios individuais, quase todos nos EUA, sendo o Globo de Ouro o único realmente importante além do Oscar. Já Riva foi nomeada 20 vezes, das quais ganhou nove, incluindo o BAFTA, o César, o Lumière, o San Francisco Critics Circle, o London Critics Circle e o European Film Awards. O que se percebe? Que J.Law vive num mundo de ilusões, em que prêmios são como ração para nutrir uma indústria faminta – e no qual o Oscar é seu símbolo maior. Riva, entretanto, vive no mundo real, onde grandes atrizes disputam entre si prêmios entregues por júris qualificados. – Por Danilo Fantinel

 

CATEGORIA: Melhor Filme de 2012
ERRO: Argo
ACERTO: O Mestre
O que um filme precisa ter para ser o grande vencedor do Oscar? Além, obviamente, de ser bem sucedido nos requisitos básicos que qualificam o bom cinema – uma direção segura, atores competentes, um roteiro coerente, entre as outras coisas que você já sabe – o longa-metragem que recebe o principal prêmio do evento deve ter uma característica essencial: ele pre-ci-sa arrebatar o expectador; pre-ci-sa conduzi-lo para dentro de sua trama através de uma história bem contada, atuações que não permitam que o público despregue o olho nem por um segundo e, principalmente, atinja um nível de profundidade intelectual e emocional excepcionais. Em 2013 Argo, de Ben Affleck, recebeu a estatueta como melhor filme do ano. O filme não é bom? Claro que é. Ótimo, por sinal. Entretanto, não atinge o nível e as características definidas acima como O Mestre, do genial Paul Thomas Anderson – que nem sequer foi indicado em sua categoria – consegue não só atingir, mas superar com folga. O que são as atuações? O que é a fotografia? O que é o ensaio filosófico sobre o vazio existencial pós-guerra e do ceticismo em busca de algum tipo de espiritualidade? O Mestre foi o melhor filme de 2012, mas nem sequer foi lembrado pela Academia. É a vida. Nem sempre os melhores vencem. – Por Eduardo Dornelles

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