Crítica


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Sinopse

Frankie Dunn passou a vida nos ringues, tendo agenciado e treinado grandes boxeadores. Frankie costuma passar aos lutadores com quem trabalha a mesma lição que segue para sua vida: antes de tudo, se proteja. Magoado com o afastamento de sua filha, Frankie é uma pessoa fechada e que apenas se relaciona com Scrap, seu único amigo, que cuida também de seu ginásio. Até que surge em sua vida Maggie Fitzgerald, uma jovem determinada que possui um dom ainda não lapidado para lutar boxe. Maggie quer que Frankie a treine, mas ele não aceita treinar mulheres e, além do mais, acredita que ela esteja velha demais para iniciar uma carreira no boxe. Apesar da negativa de Frankie, Maggie decide treinar diariamente no ginásio. Ela recebe o apoio de Scrap, que a encoraja a seguir adiante. Vencido pela determinação de Maggie, Frankie enfim aceita ser seu treinador.

Crítica

Menina de Ouro não é um filme ruim. Não, muito pelo contrário, longe disso. É repleto de qualidades, digno de aplausos e extremamente emocionante. Mas, isso faz dele o melhor de 2004? É bem provável que não. Até por ter uma estrutura narrativa basicamente simples, que tem como principais alicerces três interpretações estonteantes, oferecidas pelos protagonistas Hilary Swank, Morgan Freeman e o próprio Clint Eastwood, que além de atuar e dirigir também assina a trilha sonora e a produção. Esses trabalhos, merecidamente, foram reconhecidos com indicações ao Oscar, sendo que os dois primeiros (Hilary e Morgan) acabaram premiados. E este – o Oscar – foi somente um dos troféus que levaram para casa por seus desempenhos. E, creio, deveria ser também a síntese de todos os seus méritos.

Com elementos bastante recorrentes em obras badaladas, como Rocky: Um Lutador (1976) e As Invasões Bárbaras (2003) – para não mencionar o espanhol Mar Adentro (2004) e qualquer outro que tenha como pano de fundo competições esportivas – Menina de Ouro trata da história de uma garota que sonha em ser campeã de boxe. Suas intenções começam a ficar sérias quando encontra um treinador veterano que a aceita, mesmo com relutância, como pupila. Muito empenho, esforço e dedicação são recompensados, e ela vai galgando continuamente os degraus do sucesso, até que um trágico acidente dentro do ringue a deixa tetraplégica, eliminando, ou adiando, qualquer promessa de futuro melhor.

O enredo de Menina de Ouro não deve entusiasmar muita gente. Mas o resultado apresentado nas telas é bastante positivo. O diretor teve como seu principal trabalho não interferir na atuação do seu elenco, dando espaço para que cada um desenvolvesse seu talento de acordo com o potencial investido. E isso é feito magistralmente. Todos estão em plena forma, desde o personagens centrais até os mais coadjuvantes. E a história, se não chega a ser revolucionária, ao menos consegue capturar a atenção do espectador, envolvendo com suas reviravoltas e comovendo como poucos. O final é um verdadeiro soco no estômago, colocando qualquer um a nocaute.

A explicação, entretanto, para o sucesso demasiado do filme talvez seja justamente esse excesso da carga dramática. Menina de Ouro é bem feito, bonito, sincero, simples. Mas está longe de ser genial, fantástico, ousado. É uma obra bem feita. Claro que isso não é pouca coisa, ainda mais diante de tanta mediocridade que regularmente chega aos cinemas. Mas não é nada que vá mudar a vida de alguém. Não é memorável, mesmo se olharmos o próprio currículo de Eastwood, que já realizou filmes superiores, como Sobre Meninos e Lobos (2003), As Pontes de Madison (1995) ou o igualmente oscarizado Os Imperdoáveis (1992).

O que acredito ter acontecido foi uma volta ao plano, ao comum, ao humano, aliado a um sentimento de culpa (pela derrota do realizador no ano anterior), que culminou nesta overdose no Oscar com os prêmios de Melhor Filme e Melhor Direção. Numa outra temporada mais fraca talvez até fosse justo. Mas em 2005, diante concorrentes de peso como O Aviador, Em Busca da Terra do Nunca e Sideways: Entre Umas e Outras – isso sem mencionar os que nem concorriam e mas eram inegavelmente superiores, como Closer:Perto Demais e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças – estas vitórias parecem opacas, destinadas ao esquecimento. Não que isso faça qualquer diferença, entretanto, ou que prejudique o resultado do filme enquanto obra artística independente. Quanto a isso, não há o que ir contra. Mas também não tem como evitar o gosto amargo de mais uma das tantas injustiças do Oscar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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