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Sinopse

"Irish" Micky Ward percorreu um difícil trajeto até chegar ao título mundial de boxe na categoria peso leve. Ele teve a ajuda de seu irmão, Dicky, sujeito que se tornou treinador após envolver-se com drogas e criminalidade.

Crítica

David O. Russell é um cineasta muito criterioso – só faz o que quer, como quer, quando quer. Nos últimos 10 anos fez apenas 3 filmes, e todos em parceria com Mark Wahlberg. Essa parceria chega agora, com O Vencedor, ao seu ápice. Se o primeiro da trilogia – Três Reis (1999) – é uma pérola a ser descoberta que afugentou muita gente pelo seu tema (a Guerra do Iraque), o segundo – Huckabees: A Vida é uma Comédia (2004) – foi ainda menos compreendido, pelo exagero no humor negro e na perspicácia. Agora, seis anos depois, ele retorna com uma produção muito mais ‘redonda’, acessível e menos exótica. E, justamente por isso, muito mais bem sucedida. Não que tenha feito muitas concessões. Apenas deixou de lado suas ‘estranhezas’.

O Vencedor é baseado num episódio real, e só por isso já parte com meia partida ganha – toda história com fundo verídico que mostra como um derrotado conseguiu virar o jogo e se sair bem no final tem de imediato a simpatia da plateia. A partir daí, basta dispor com eficácia dos elementos levantados. E os daqui são verdadeiras preciosidades. Apesar dos títulos – nacionais e original – nos remeterem à conquistas, batalhas e derrotas, o que temos em cena faz mais referência a um embate que não se pode contar em pontos, mas que é conquistado pela persistência, humildade e obstinação: as relações familiares. É um filme de boxe, sim, como o trailer e o cartaz deixam claro. Mas é muito mais sobre pais e filhos, irmãos e namoradas, maridos e esposas, cunhadas e genros.

Senão, vejamos: Micky Ward (Wahlberg) é um jovem com grande potencial para o esporte. Seu irmão mais velho, Dicky (Christian Bale, fenomenal), teve a mesma chance antes, porém desperdiçou com irresponsabilidades, drogas e assaltos. A mãe dos dois (Melissa Leo, igualmente merecedora dos mais diversos elogios) não consegue ser imparcial, e trata o menor como se esse tivesse obrigação de cumprir o que estava destinado ao mais velho, num esquema shakespeareano de intrigas, mentiras e ilusões que só estando muito envolvido para não perceber. Qualquer um de fora consegue ver o que realmente se passa, e é essa luz exterior que a nova namorada de Micky, Charlene (Amy Adams, muito eficiente em sua reinvenção) leva até ele. Somente longe da mãe e do irmão é que ele conseguirá algum sucesso, é o que ela diz. E após mais um tropeço, ele será obrigado a concordar.

Mas nada é simples, e há muito mais entre eles – e há ainda o pai submisso louco para ser ouvido, um novo treinador e sete irmãs completamente desmioladas – do que é possível ser traçado através de estereótipos superficiais. Temos aqui personagens complexos, em que cada decisão pesa muito, e que se não for tomada com cuidado poderá levar a perdas irrecuperáveis. Ninguém é totalmente mau ou bom, irrecuperável ou invencível. As camadas estão dispostas, e o difícil é conseguir visualizar o quadro completo – ainda mais quando se está no meio do furacão.

Além de protagonista, Wahlberg é também produtor de O Vencedor é um dos principais responsáveis pelo filme ter se concretizado. Na mesma linha de outras obras semelhantes e também oscarizáveis, como Rocky: Um Lutador (1976), Menina de Ouro (2004), e o recente O Lutador (2008), estamos diante de um conto de superação, em que o fraco consegue ir contra todas as adversidades e ainda se consagrar, num final feliz emocionante e arrebatador. Mas o que chama realmente atenção aqui são os diálogos inteligentes e bem elaborados, um roteiro estruturado que consegue abranger todos os lados das personalidades envolvidas e, principalmente, um trio de atores – Bale, Leo e Adams – que estão em suas melhores formas. Os três, justamente, concorrem ao Oscar na condição de favoritos. Pena que somente dois poderão vencer – as duas mulheres concorrem na mesma categoria. Mas, independente do resultado, todos aqui são vencedores. Em ambos os lados da tela.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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