Crítica
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Sinopse
Em Londres, Inglaterra, cinco pessoas descobrem que têm poderes extraordinários. Agora, um homem vai tentar reunir o grupo para salvar a mulher que ama.
Crítica
Há quem afirme que o filão dos super-heróis está esgotado. Depois de quase 25 anos sendo a principal tendência comercial do cinema e da TV norte-americanos, aparentemente esse tipo de produção estaria com os dias contados. Será mesmo? Marvel e DC, as duas potências mundiais do universo audiovisual dedicadas aos heróis, não parecem desacelerar, mesmo com resultados muito aquém do que ambas conseguiram anos atrás. Cinematografias periféricas continuam tentando se encaixar nessa toada, lidando com restrições orçamentárias e outras dificuldades para garantir uma fatia desse bolo que, certamente, já foi bem mais saboroso. O sucesso recente da série britânica Supacell na Netflix (ela ficou um bom tempo como o programa mais visto do streaming) fornece munição àqueles que não acreditam na perda de fôlego dos super-heróis nos cinemas e na TV. Criada, roteirizada e às vezes dirigida pelo rapper Rapman, a produção é ambientada na área sul de Londres, capital da Inglaterra. Pessoas que aparentemente não têm nada a ver uma com a outra desenvolvem poderes extraordinários repentinamente. Michael (Tosin Cole) viaja no tempo e se teletransporta; Sabrina (Nadine Mills) movimenta corpos e objetos com o poder da mente; Andre (Eric Kofi Abrefa) manifesta força sobre-humana; Rodney (Calvin Demba) tem velocidade sem igual; e Tazer (Josh Tedeku) possui o dom da invisibilidade.
Tudo na primeira temporada é para eles se juntarem. Supacell tem uma premissa pouco original: um grupo de notáveis precisa unir forças contra uma organização obscura interessada nos seus superpoderes. Rapman requenta arquétipos e contextos bem melhor utilizados em histórias semelhantes, passando longe de ser reverente ou de inovar na abordagem. Na trama, sem muito tempo para se acostumar à nova realidade, os super-heróis são atropelados pelas circunstâncias, como quando Michael fica sabendo que a noiva morrerá em poucos meses, o que o força a entrar em ação a fim de tentar mudar esse destino traçado. Do ponto de vista do conflito, a primeira temporada não faz mais do que reaproveitar um velho feijão com arroz de anteontem, ou seja, repetir fórmulas, alternando perseguições insossas e raros vislumbres dos conspiradores de uma sociedade secreta com aspirações enigmáticas (o que acaba não sendo). Alçado ao posto de personagem principal, Michael é encarregado de juntar os outros poderosos a fim de evitar a tragédia pessoal – ainda que não seja discutida a função efetiva da assembleia à sobrevivência da noiva desse homem que transita pelo tempo. Já do ponto de vista dos dramas pessoais, eles também seguem cartilhas bastante desgastadas, partindo do princípio de que os poderosos têm amigos, amores e/ou familiares pelos quais lutar. E essas circunstâncias são bastante superficiais.
Os efeitos especiais de Supacell são de qualidade satisfatória (nada que um amador talentoso não conseguisse fazer com uma máquina boa e um par de softwares adequados). Nenhuma cena pirotécnica da primeira temporada é grandiosa ou emocionalmente significante. Assim, os truques digitais são somente um modo de viabilizar a ficção científica. São apenas utilitários. Se a intriga é mais do mesmo e os efeitos especiais estritamente adequados, resta à série o aspecto dramático das relações. Michael tenta salvar a noiva em perigo; Sabrina vive preocupada com a irmã caçula que tem uma queda pelos bandidos do bairro; Andre é um ex-presidiário lutando para reatar o vínculo com seu filho; Rodney é o sobrevivente que cultiva uma amizade com traços de irmandade; e Tazer é o líder de gangue que tem protegidos debaixo de suas asas. Mas, as urgências pessoais são trabalhadas de maneira tão simplista e superficial que nem elas tornam o desenvolvimento da trama interessante. Trata-se de um programa que não empolga e nem mesmo emociona, principalmente em virtude das displicências da dramaturgia e da mise en scène. Combinando um texto pouco inspirado e uma pegada diretiva não menos dispersiva, os criadores nos apresentam um produto absolutamente genérico e que pouco acrescenta ao filão que, para uns, segue exibindo fôlego, e, para outros, dá sinais evidentes de cansaço e desgaste.
A instituição vilã não é trabalhada como uma sombra constante, especialmente porque Rapman parece mais disposto a discutir a criminalidade local do que a construir um panorama amplo e verdadeiramente interessante que leve em consideração todos os aspectos do enredo. Há coincidências demais, sendo que a trama hesita diante da possibilidade de cair no melodrama. Quando algo parece super importante, é abruptamente interrompido por situações semelhantes acontecendo com outros personagens. O despertar dos poderes das pessoas até então comuns não é visto com o assombro necessário para nos impactar. É a mesma debilidade identificada na construção dos problemas familiares desses candidatos a super-heróis. Falta muito para Supacell ser uma produção notável, digna do sucesso que vem fazendo na Netflix, sobretudo a julgar por suas evidentes fragilidades conceituais e de execução. Ela falha como ficção científica (por repetir fórmulas sem personalidade), tem dramas humanos xoxos/previsíveis, cenas anêmicas de batalha e dilemas pessoais que sempre enfatizam a propensão dos personagens à bondade. A série almeja surfar numa onda de intensidade variável, mas não tem pernas próprias. Com um elenco majoritariamente negro (algo ótimo), o programa fala sobre perda, criminalidade e conspiração, mas nem sequer investiga profundamente as personalidades, os porquês e senões. O resultado? Episódios que demoram a passar, nos quais sempre prevalece o mais do mesmo.
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