Crítica


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Sinopse

Shadow aprende os caminhos dos mortos com a ajuda do Sr. Ibis e do Sr. Nancy. Em Nova Orleans, Mad Sweeney apresenta Laura a velhos amigos. Sr. Wednesday embarca em uma viagem com Salim e o Jinn.

Crítica

A tática de apresentar missões paralelas, especificamente pequenos grupos se preparando concomitantemente para a guerra entre os antigos e os novos deuses, dá sinais de fadiga em Os Caminhos dos Mortos, quinto episódio da segunda temporada de Deuses Americanos. Shadow (Ricky Whittle) estabelece contato insólito com um personagem emblemático do passado, alguém que sublinha a questão racial até então levantada nas partes imediatamente anteriores como algo possivelmente relevante ao conjunto. Vemos Will James (Warren Belle), homem negro, sendo torturado, enforcado e tendo seu cadáver vilipendiado por simplesmente cruzar o caminho de uma mulher branca posteriormente assassinada. O racismo presente nos Estados Unidos é bem trabalhado nessa sequência forte, que se reporta de pronto à realidade.

Os Caminhos dos Mortos coloca mais lenha na fogueira a respeito da natureza do protagonista da série, uma vez que Shadow e Will se confundem em determinados momentos. Emily Browning, a intérprete da esposa morta, também faz às vezes da assassinada de outrora, o que aponta para uma provável conexão. Afora isso, o elemento de maior valor nesse episódio é a visita da cônjuge, então em busca da mortalidade, ao Barão (Mustafa Shakir), entidade ligada às práticas de vodu que pode, de acordo com Mad Sweeney (Pablo Schreiber), devolver-lhe ao reino dos vivos. Numa passagem repleta de erotismo e sensualidade, dois casais transam paralelamente e, como num passe de mágica, os parceiros são trocados a fim de revelar desejos mais ou menos já evidentes. É um núcleo que deve dar pano para manga.

A despeito do interesse gerado pela relação de Shadow com o sujeito brutalizado no passado, especialmente em virtude da cor de sua pele, a diretora Salli Richardson-Whitfield subaproveita a supervisão de Anansi (Orlando Jones) e Ibis (Demore Barnes), especialmente deste, cujos conhecimentos relativos à morte tendem a ser imprescindíveis ao porvir. Em vários instantes de Os Caminhos dos Mortos a narrativa parece seguir em banho-maria, sem avançar com potência equivalente aos desdobramentos de graves ações e reações. Bilquis (Yetide Badaki) é uma mera espectadora nesse fragmento que prescinde, ainda, da presença dos novos deuses, ou seja, dos antagonistas. O foco é integralmente nos aliados de Wednesday (Ian McShane), que parece mais próximo de completar o seu exército excepcional.

Salli Richardson-Whitfield se contenta com encaixar burocraticamente peças novas numa equação há muito marcada pelo desvelamento paulatino das verdades por trás das aparências. O surgimento de uma nova figura, o anão que auxilia no alargamento do conhecimento acerca das mitologias inevitavelmente acessadas – com suas falas sobre ferreiros e forjadores de armas celestiais –, é um indício dessa fragilidade. Isso, porque ele tem uma função meramente expositiva, encarregado, sobremaneira, de oferecer dados, mas sem tanta densidade. Os Caminhos dos Mortos demonstra que a estrutura narrativa predominante na segunda temporada está prestes a se esgotar. Para o segundo ano decolar, falta os idealizadores investirem mais nas correlações, nos entrelaçamentos e afins. Mesmo assim, a série continua instigante.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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