27 fev

Geralmente, o grande termômetro utilizado para tirar a temperatura dessa disputa é o prêmio do WGA, o Sindicato de Roteiristas de Hollywood. No entanto, em 2024 o WGA Awards será entregue apenas no dia 14 de abril, ou seja, um mês após a 96ª edição do Oscar. Esse atraso incomum se deve à greve dos roteiristas que ocorreu nos Estados Unidos entre maio e setembro de 2023, o que acabou embolando um pouco o meio campo – afinal de contas, geralmente o Oscar é a cereja do bolo da temporada de premiações hollywoodianas. No entanto, mesmo assim podemos fazer um prognóstico relativamente seguro sobre o possível vencedor, claro, levando em consideração os reconhecimentos que ele vem recebendo até agora. No entanto, como prudência e canja de galinha não fazem mal a ninguém, é bom não excluir totalmente a possibilidade de uma zebra. Então, sem delongas, confira as nossas apostas para a categoria Melhor Roteiro Adaptado do Oscar 2024.

Indicados

 

FAVORITO
Ficção Americana, de Cord Jefferson
Baseado no livro Erasure, de Percival Everett, lançado em 2001, o roteiro de Ficção Americana venceu o BAFTA, o Critics Choice Awards, além de ter sido indicado ao Independent Spirit Awards e ao Satellite. Até mesmo por conta das vitórias recentes na disputa direta com Oppenheimer, o trabalho de Cord Jefferson se credencia como o grande favorito da noite do dia 10 de março – provavelmente será o único reconhecimento que este filme deve ganhar na maior festa de Hollywood. Lançado no Brasil diretamente no Prime Video da Amazon, o longa-metragem fala de um romancista cansado de ver a indústria lucrar com o entretenimento afro. Ele então utiliza um pseudônimo para publicar uma história que o leva ao núcleo da hipocrisia. Tá com pinta de campeão.

AZARÃO
Oppenheimer, de Christopher Nolan
O cenário está todo armado para uma consagração enorme de Oppenheimer no Oscar 2024, mas nesta categoria ele aparece como azarão, afinal de contas bateu na trave em diversas premiações, perdendo terreno justamente para Ficção Americana. Indicado ao BAFTA, ao Critics Choice Awards, ao Globo de Ouro, ao Satellite e ao WGA Awards, o roteiro é baseado no livro vencedor do Prêmio Pulitzer, American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer (Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer), de Kai Bird e Martin J. Sherwin, lançado em 2005. O resultado é um filme de praticamente três horas de duração que consegue apresentar e desenvolver bem diversos assuntos e acontecimentos históricos. Sem dúvida, a vitória lhe cairia bem.

SURPRESA
Zona de Interesse, de Jonathan Glazer
Indicado ao BAFTA e ao Satellite nesta categoria de Roteiro Adaptado, Zona de Interesse é a boa surpresa entre os concorrentes. Alguns dirão que é meio estapafúrdio considerar a sua presença na disputa como surpreendente, pois estamos falando de um longa-metragem com outras quatro indicações, entre elas a para Melhor Filme, mas havia concorrentes mais “quentes” nas bolsas de aposta prévias, como a produção que elencamos logo abaixo como esnobada. Baseado no livro homônimo de Martin Amis, lançado em 2014, o roteiro assinado pelo próprio Jonathan Glazer é bem-sucedido na construção dessa banalização do mal observada na convivência entre a família de um militar alemão e o campo de concentração com o qual seus muros fazem divisa. 

ESNOBADO
Nyad, de Julia Cox
Um dos indicados ao WGA Awards que foi completamente preterido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles foi o roteiro de Nyad, de Julia Cox. Baseado no livro Find a Way: The Inspiring Story of One Woman’s Pursuit of a Lifelong Dream, de Diana Nyad, publicado originalmente em 2016, o longa-metragem estreou por aqui diretamente na Netflix e acabou meio perdidão no emaranhado de filmes e séries que chegam diariamente no catálogo dos gigantes do streaming. Seria um prêmio interessante para a jovem Julia Cox uma primeira indicação ao Oscar por essa história que mostra a atleta Nyad, aos 64 anos de idade, decidida a ser a primeira pessoa a nadar de Cuba até a Flórida, nos Estados Unidos. Ela é auxiliada por seu melhor amiga e uma equipe de apoiadores para completar uma viagem de mais de 160km. Pena que a indicação ao Oscar não veio.
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Marcelo Müller

Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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