Ao tentar valorizar o trabalho de quem assina a direção cinematográfica, muitas vezes as pessoas acabam reduzindo a importância de quem assina o roteiro. Parte fundamental da construção de um filme, o roteiro é um documento prévio à existência das produções, no qual constam diálogos, cenas e demais apontamentos a respeito do que veremos adiante transformado em sons e imagens. Curiosamente, quase todos os concorrentes ao Oscar de Melhor Roteiro Original em 2023 são os próprios diretores dos seus respectivos filmes – exceção feita a Tony Kushner, co-autor de Os Fabelmans com Steven Spielberg. Trata-se de uma valorização do diretor-autor, assim mesmo, no masculino, visto que, infelizmente, não temos nenhuma roteirista mulher disputando a categoria. Utilizamos como principal parâmetro para essas apostas o resultado do WGA Awards 2023, prêmio concedido pelo Sindicato dos Roteiristas de Hollywood que deixou muito claro quem são os favoritos da vez. Confira!

INDICADOS

 

FAVORITO
Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, de Daniel Scheinert, Daniel Kwan
Daniel ScheinertDaniel Kwan assumiram de vez o posto de grandes favoritos a essa estatueta ao ganhar o WGA Awards de Melhor Roteiro Original. Será uma zebra enorme se os também diretores de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo não saírem da festa com o Oscar de Roteiro Original embaixo do braço, afinal de contas também foram indicados ao Bafta, ao Globo de Ouro, às premiações de inúmeras associações de críticos dos Estados Unidos e ganharam o Critics Choice Awards. Isso sem contar as numerosas vitórias em outras áreas, o que tornou esse filme que toca de modo criativo no assunto do multiverso o exemplar a ser batido nessa temporada de premiação. Podemos dizer sem medo: os Daniels que preparem mais esse discurso, pois o Oscar tá no papo.

AZARÃO
Os Banshees de Inisherin, de Martin McDonagh
Se existe um filme que pode (mesmo remotamente) representar algum risco à vitória quase certa de Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo é Os Banshees de Inisherin. Senão vejamos. Em termos de premiação, credenciais não lhe faltam, afinal de contas o roteiro assinado por Martin McDonagh ganhou  BaftaGlobo de Ouro, dando passos importantes para assumir o protagonismo na temporada de premiações. Mas, você pode estar se perguntando: se o roteiro do filme é tão badalado assim, porque ele sequer concorreu ao WGA Awards? Isso acontece por conta das rígidas regras do Sindicado dos Roteiristas dos Estados Unidos que fizeram de Os Banshees de Inisherin inelegível para o seu prêmio anual. Mesmo assim, ele ainda tem muita força nessa corrida tão importante ao Oscar.

SURPRESA
Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund
O Oscar é uma festividade com quase 100 anos de idade. Quanto mais tradicional é uma coisa, mais difícil que certas engrenagens fundamentais mudem. Estamos falando de uma celebração do cinema hollywoodiano, que sempre deu as suas brechinhas para filmes feitos fora dos Estados Unidos, mas cujas atenções permaneceram muito no próprio umbigo. Pois bem, nos últimos anos essa realidade têm se alterado, ao ponto de um filme sul-coreano ter vencido o Oscar de Melhor Filme recentemente. Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund, venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e se tornou o estrangeiro da vez no Oscar – embora seja quase todo falado em inglês. Pensar que ele pode levar a estatueta de Melhor Roteiro Original é um pouco demais. Estar entre os cinco da disputa parece ser o seu principal prêmio nesse quesito.


ESQUECIDO
Não! Não Olhe!, de Jordan Peele
Há quem defenda a ideia de que Não! Não Olhe!, de Jordan Peele, foi um dos principais esnobados do Oscar 2023. Nos últimos anos, Peele vem se notabilizando como um cineasta instigante, mas também como um roteirista de mão cheia. Vale lembrar que ele ganhou o Oscar 2018 de Melhor Roteiro Original por Corra! (2018), uma credencial e tanto. Não! Não Olhe! estava concorrendo ao prêmio principal do WGA Awards e disputou também essa categoria em algumas das principais premiações anuais de associações de críticos de cinema dos Estados Unidos. Seria um reconhecimento (merecido) e tanto se ele concorresse novamente ao Oscar, mas infelizmente acabou ficando pelo caminho.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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