Foi-se o tempo em que os curtas-metragens eram realmente curtos. Os critérios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles ditam o seguinte: até 40 minutos (incluindo os créditos) é curta-metragem. Passou disso, a produção é considerada longa-metragem. E boa parte dos concorrentes deste ano à estatueta de Melhor Curta Documentário são filmes que aproveitam o máximo esse limite de 40 minutos – alguns até extrapolam essa duração em suas fichas oficiais, o que sugere que podem ter sido levemente editados para ter uma “versão de Oscar”. Bom, fato é que temos fortes candidatos neste ano. É bom você ficar ligado em nossas apostas, afinal de contas essa categoria é uma daquelas que costumam desequilibrar os bolões. Diferentemente das mais “famosas”, que podem ser relativamente previstas de acordo com os resultados de premiações prévias consideradas termômetros, essa impõe um cenário mais difícil de ser antevisto. Porém, vamos abraçar o desafio. Confira a nossa análise sobre a categoria Melhor Curta Documentário do Oscar 2023.

INDICADOS


FAVORITO

Como Cuidar de um Bebê Elefante
Um bebê elefante que ficou órfão é adotado por um casal do sul da Índia. O grande favorito para levar a estatueta para casa é um filme que, ao mesmo tempo, fala de um tema urgente (a preservação da vida animal) e cria uma daquelas histórias diante das quais é difícil não se emocionar. Indicado a Melhor Documentário em Curta-metragem no International Documentary Association, o curta-metragem é distribuído mundialmente pela Netflix. E, se a gigante do streaming continua perseguindo obsessivamente o Oscar de Melhor Filme, nas categorias de curtas-metragens ela vem sendo dominante há algumas temporadas. Difícil imaginar que esse filme perca o Oscar, embora o azarão da vez possa ser quase compreendido como o co-favorito. Vamos a ele.

AZARÃO
O Efeito Martha Mitchell
Martha Mitchell foi esposa de uma figura importante do governo norte-americano da era Richard Nixon. Ela fez denúncias contra a administração durante o famoso caso de corrupção Watergate. Agradando ou não, Martha falava a real. E esse curta-metragem que remonta à sua curiosa existência no meio de um dos maiores escândalos políticos dos Estados Unidos é um filme muito interessante – embora pudesse ser mais propositivo em alguns momentos específicos (confira aqui a nossa crítica completa sobre ele). Também distribuído mundialmente pela Netflix, foi indicado ao Grande Prêmio de curtas do Festival de Sundance 2022 e tem figurado pau a pau com Como Cuidar de um Bebê Elefante nas bolsas de apostas. Embora esteja ligeiramente atrás do seu concorrente neste momento, é um candidato e tanto ao reconhecimento da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

SURPRESA
Stranger at the Gate
Premiado como Melhor Documentário em Curta-Metragem no Festival de Tribeca 2022, esse filme chegou meio quietinho na corrida pelo Oscar. Continua quietinho, sem fazer muito alarde diante da forte concorrência, tanto que nem chegou a ser lançado oficialmente aqui no Brasil. Produzido por Malala Yousafzai, jovem ativista que foi uma das vencedoras do Prêmio Nobel da Paz em 2014, o filme aborda um militar norte-americano que planeja um atentado terrorista a uma mesquita nos Estados Unidos. Mas, quando algo completamente inesperado acontece, ele é obrigado a ficar diante de suas potenciais vítimas. A islamofobia colocada em xeque numa obra que, assim, toca num tema bastante espinhoso e contemporâneo.

ESQUECIDO
As Far As They Can Run
As Far As They Can Run
chegou muito perto da indicação ao Oscar, mas infelizmente ficou pelo caminho. Integrante da shortlist, a lista com os 15 filmes então ainda no páreo, ele perdeu terreno na campanha e acabou não figurando por aqui, o que é uma pena. Ele mostra três jovens se juntando a um programa para pessoas com deficiência no Paquistão a fim de mudar as perspectivas em sua comunidade rural. A soma de um tema importante (e potencialmente emocionante) com uma abordagem sensível resulta na realização que merecia um espacinho para, ao menos, figurar entre os candidatos à tão cobiçada estatueta dourada. Infelizmente não foi desta vez.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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