O drama espanhol Petra, de Jaime Rosales, foi o grande vencedor do 28º Cine Ceará – Festival Iberoamericano de Cinema, encerrado na noite deste sábado, 11. Escolhido como Melhor Filme na mostra de longas-metragens ibero-americanos, recebeu um total de cinco troféus Mucuripe – foi o título mais premiado deste ano – levando ainda nas categorias de Direção, Ator, Roteiro e Prêmio da Crítica. A segunda obra mais reconhecida desta edição foi o curta O Vestido de Myriam, de Lucas Rossi, que ganhou como Melhor Direção, pelo Júri Oficial, e ainda o Troféu Samburá de Melhor Filme, o Prêmio Aquisição Canal Brasil e o Troféu Olhar Universitário. A Mostra Olhar do Ceará, voltada somente para a produção local, e que contou, no seu júri, com a participação de Robledo Milani, editor-chefe do Papo de Cinema, escolheu Cartuchos de Super Nintendo em Anéis de Saturno, de Leon Reis, como Melhor Filme.

Na mostra de longas, causou espanto a escolha de Petra como Melhor Filme e com o Prêmio da Crítica – raramente os júris Oficial e Crítica coincidem, até por suas propostas dissonantes (um visa objetivamente o ‘melhor’, enquanto que o segundo deve se preocupar com o caráter de inovação e originalidade). Petra, por sua vez, é um suspense bastante convencional, com um roteiro um tanto rocambolesco, digno de uma novela televisiva. Não merecia nenhum dos destaques – no máximo, o troféu para Barbara Lennie, a protagonista. Mesmo assim, a colombiana Marcela Benjumea, de Amália: A Secretária, que, aliás, estava presente em Fortaleza, era uma competidora mais forte – mesmo assim, a vencedora foi a chilena Nathalia Aragonese, de Cabras de Merda (este foi o segundo trabalho dela no cinema, pois é mais conhecida como atriz de televisão). Com isso, o concorrente da Colômbia perdeu na única categoria que tinha alguma chance, ficando sem nenhuma vitória.

Já na disputa de melhor ator, a grande injustiça foi não terem reconhecido o excelente trabalho do português Carloto Cotta, o protagonista – e personagem-título – de Diamantino – filme que merecia muito mais do que apenas o troféu de Melhor Montagem. Ao invés disso, o júri decidiu premiar o espanhol Joan Botey, um ator da terceira idade que está estreando somente agora como intérprete. E se isso não causa desconforto suficiente, é preciso reconhecer também que sua participação em Petra, ainda que crucial, em cena não é mais do que a de um coadjuvante – Romulo Braga, por O Barco, ou o menino Elias Collado, de Cabras de Merda, seriam escolhas mais óbvias (e merecedoras).

O Barco, de Petrus Cariry, que aparentava estar forte na disputa nas categorias principais, de Filme e Direção, precisou se contentar apenas com prêmios técnicos: Fotografia, Som e Trilha Sonora, além do Olhar Universitário. Esse, pelo jeito, foi o preço por ter sido exibido na noite de abertura do evento, pois após uma semana de programação é natural que não esteja mais tão vivo na memória dos jurados. E se por um lado foi bastante justo títulos problemáticos como o brasileiro Anjos de Ipanema – de longe, o pior da competição – e o colombiano Senhorita Maria: A Saia da Montanha terem saído de mãos abanando, é quase inexplicável a ausência de troféus na conta de Eduardo Galeano Vagamundo, disparado o melhor da seleção deste ano – além do Mucuripe de Melhor Filme, poderia tranquilamente ter ganho como Direção, Roteiro, Montagem, Fotografia ou Trilha Sonora, por exemplo. Além disso, trata-se de um documentário sobre um escritor uruguaio, feito por um brasileiro, com depoimentos e declarações de artistas de todo o mundo – como Paulo José e Ricardo Darín – a respeito de um ícone latino-americano. Mais apropriado para um festival com a proposta como a do Cine Ceará, impossível. Lamentável e vergonhoso o júri ter desperdiçado tal oportunidade.

Entre os curtas nacionais, a fraca seleção desta edição resultou em escolhas bastante óbvias. Nova Iorque, de Leo Tabosa, de fato se destaca, mas filmes como Plantae (premiado apenas com o Troféu Samburá), CapitaisMaria Cachoeira e Nomes que Importam não poderiam ter sido esquecidos. Pesa para isso, no entanto, o fato dessa mostra contar com apenas três categorias: Filme, Roteiro e Direção. Portanto, pergunta-se: onde estão os melhores atores, atrizes, fotógrafos, montadores, diretores de arte? Curtas-metragens não precisam de nenhum destes profissionais? A mensagem que o festival passa, ao oferecer tão poucos reconhecimentos aos curtas, não é das melhores – deveria ser, no mínimo, um tratamento igual ao dos longas. Confira, a seguir, a lista completa com todos os premiados do 28º Cine Ceará:                                                         

CADA GOTA CONTA:
Economize, de Igor Cândido

MOSTRA OLHAR DO CEARÁ:
Cartuchos de Super Nintendo em Anéis de Saturno, de Leon Reis

MOSTRA COMPETITIVA BRASILEIRA DE CURTA-METRAGEM:
Troféu Samburá– Melhor diretor de curta-metragem: Guilherme Gehr, por Plantae
Troféu Samburá– Melhor Curta-metragem: O Vestido de Myriam, de Lucas Rossi
Olhar Universitário: O Vestido de Myriam, de Lucas Rossi
Prêmio Aquisição Canal Brasil: O Vestido de Myriam, de Lucas Rossi
Prêmio da Crítica: Nova Iorque, de Leo Tabosa

JURI OFICIAL:
Produção Cearense: A Canção de Alice, de Barbara Cariry
Roteiro: Sabrina Garcia, por Só Por Hoje
Direção: Lucas Rossi, por O vestido de Myriam
Filme: Nova Iorque, de Leo Tabosa

MOSTRA COMPETITIVA IBERO-AMERICANA DE LONGA-METRAGEM:
Prêmio da Crítica: Petra, de Jaime Rosales
Olhar Universitário: O Barco, de Petrus Cariry
Ator: Joan Botey, por Petra
Atriz: Natalia Aragonese, por Cabras de Merda
Direção de Arte: Carlos Garrido, por Cabras de Merda
Trilha Sonora Original: João Victor Barroso, por O Barco
Som: Yures Viana, Erico Paiva e Petrus Cariry, por O Barco
Montagem: Raphaelle Martin-Holger, por Diamantino
Fotografia: Petrus Cariry, por O Barco
Roteiro: Jaime Rosales, Michel Gaztambide, Clara Roquet, por Petra
Direção: Jaime Rosales, por Petra
Filme: Petra

(Fonte: Primeiro Plano)

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