Diamantino
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Gabriel Abrantes, Daniel Schmidt
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Diamantino
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2018
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Brasil / Portugal / França
Crítica
Leitores
Sinopse
Diamantino é uma estrela do futebol mundial, até que, de repente, perde todo o seu talento e se aposenta como um fracasso aos olhos da opinião pública. A partir disso, o ex-craque passa a procurar um novo propósito para a sua vida. Inicialmente, resolve confrontar o neo-fascismo, em seguida se envolve com a crise dos refugiados, chegando na questão da modificação genética até a busca pela origem do genial.
Crítica
Diamantino é jogador de futebol. Mas não qualquer um: é o melhor do mundo. Ele é português, tem o corpo sarado e o cabelo rente os lados, com um breve topete à frente. É moreno, e adora desfilar de cuecas – quando em casa – ou de sunga – nos momentos de folga em seu iate. Como se percebe por essa breve descrição, trata-se praticamente de uma cópia do Cristiano Ronaldo. Mas não basta a semelhança física: ele também se comporta, e fala, como o ídolo da seleção portuguesa. A proximidade, no entanto, termina aqui. Afinal, em Diamantino, segundo longa dos diretores Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, o que se passa em cena está mais no âmbito da fantasia do que na mera sátira proposital. Ainda que seja quase inevitável não se permitir ao exercício de imaginar como CR7 reagiria diante de situações tão absurdas. O conjunto, portanto, é atraente: ainda que não passe de uma brincadeira destinada ao campo das impossibilidades.
Diamantino se questiona sobre o mundo. Ao lado do pai e das irmãs gêmeas, ele oferece à família uma existência nababesca. No entanto, distante da realidade. Enquanto imagina o sexo dos anjos, a bordo de embarcações luxuosas rodeado de pessoas lindas e tão vazias quanto ele, avista ao longe um bote com africanos sobreviventes de um naufrágio. “Quem são aquelas pessoas e o que fazem ali?”, pergunta. Por instante, a plateia indaga se ele, ao menos, irá oferecer ajuda. Mas, sim. A comoção será tamanha que, logo em seguida, declara publicamente: “quero adotar um refugiadinho só para mim e oferecer a ele tudo de bom neste mundo”. Pois bem, essa será a válvula de escape que encontra para se recuperar após perder o pênalti que poderia ter levado seu país a ser campeão da Copa do Mundo da Rússia.
Como está claro, segue pensando em si. Assim o faz porque nunca foi ensinado a agir diferente. Da mesma forma, é como se comportam suas irmãs, aquelas que assumem o controle de sua carreira quando o pai morre. E qual a primeira coisa que fazem? Assinam com o ministério para que ele participe de um plano mirabolante do governo. Ao mesmo tempo em que elas enchem o bolso de propinas, ele servirá como garoto-propaganda de uma campanha xenófoba que defende a construção de um muro na fronteira e a saída do país da comunidade europeia. “Vamos fazer Portugal grande outra vez”, afirmam os slogans. Portugal ou Estados Unidos? E se as citações não foram óbvias o suficiente, uma pesquisadora começa a fazer testes nele, visando a elaboração de clones capazes de reproduzir suas habilidades – e o desenvolvimento de efeitos colaterais nele parece ser apenas um detalhe. Tudo isso, sem que o principal envolvido sequer suspeite do que lhe está acontecendo.
Isso porque Diamantino não é um rapaz como os outros. Quando está em campo, sua concentração só consegue focar na bola – e nos cachorrinhos felpudos gigantes que o cercam em um céu cor-de-rosa esfumaçado. Não há outros jogadores, nem campo, nem mesmo torcida. Somente os bichinhos, e a missão a ser cumprida. Quando estes o abandonam, sua força se esvanece. Por isso a necessidade de adotar – comprar – alguém para chamar de seu. E não se dar conta que está levando para casa uma espiã, uma mulher que finge ser um menino apenas para dele se aproximar e, com isso, descobrir informações que possam levar a uma denúncia de fraude fiscal, é parte do pacote de quem ele é. Para quem vive nas nuvens, ter que lidar com questões práticas parece ser um esforço que não se justifica – ainda que, muitas vezes, seja o último limite entre a morte e a sobrevivência.
A estrutura narrativa de Diamantino, como se percebe, é bastante arquetípica. É fácil prever o que irá acontecer a seguir. Quem confia o trai, e a desconfiança será recompensada com a ajuda de última hora que salvará sua pele. Já vimos isso milhares de vezes antes. No entanto, nessa mistura de diversos elementos – alguns dos quais, por sinal, nem bem dialogam entre si – ao menos temos uma combinação envolvente, da qual é fácil participar e seguir ligado até o seu desenrolar final. Torce-se pelo protagonista, mesmo que seja uma figura tão fora desse mundo a ponto de se tornar quase inverossímil – mérito de Carloto Cotta, já visto em boa forma também em Tabu (2012). Ele recria um Cristiano Ronaldo até mais atraente nesta colorida imaginação do que o real que todos acreditam tão bem conhecer. E entre uma enxurrada de referências e muitas pontas soltas, o que sobra é um suspiro de originalidade que se não se mantém em pé pelo conteúdo, ao menos convence de forma inusitada em que se apresenta.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Francisco Carbone | 10 |
MÉDIA | 7.2 |
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