Desde que foi anunciada a programação da Comic-Con Experience, um detalhe chamou a atenção dos fãs e alimentou os rumores pelo pavilhão da São Paulo Expo: a “atração surpresa” no painel da Netflix. Algumas pessoas apostavam na presença do elenco da série O Mundo Sombrio de Sabrina, enquanto outros torciam pela presença de Henry Cavill, já que os astros dos dois projetos se encontravam na América do Sul nos últimos dias.

Vitória de quem apostou em The Witcher. Cavill subiu ao palco nos primeiros minutos do painel, para o delírio dos fãs que gritavam a cada frase do astro. Ele antecipou um pouco sobre o personagem central da série, encarregado de caçar monstros: “Geralt é um personagem complicado. Ele demonstra uma aparência durona por fora, apenas porque isso é necessário para desempenhar o papel dele. O Witcher é tratado como vilão por todos os lugares onde passa”, alertou.

Ação com sentido

O ator e a criadora da série, Lauren Schmidt, fizeram questão de frisar que as diversas cenas de ação não servem apenas pelo prazer do combate, e sim para fazer a história avançar. “Vocês vão poder se identificar com ele”, promete a roteirista. Schmidt garante que as personagens femininas serão complexas, com muitos conflitos no passado. “Se você tem apenas um personagem central interessante, o espectador acaba perdendo o interesse na jornada dele. Por isso, as coadjuvantes são multifacetadas”.

“Eu treinei para a luta de espada em diversos filmes anteriores. Mas esta história é contada através do combate, nunca vamos oferecer apenas a ação pela ação”, completou Cavill. Ele avisa que as lutas se combinam com emoção: “A magia do personagem é básica, mas quando ela a combina com as habilidades da espada, pode se tornar mortal. A verdadeira arma dele é a capacidade de amar, de salvar quem precisa”, ao que a plateia da CCXP respondeu com um suspiro carinhoso.

Foto: Divulgação Netflix

A apresentação contou com nada menos que quatro cenas exclusivas da série, que estreia dia 20 de dezembro na Netflix. A principal delas trazia um complexo combate dentro de um castelo, com dezenas de lutadores se enfrentando ao mesmo tempo. Pela temática medieval, pelas lutas de poder e pelo papel da fantasia, não seria absurdo sugerir que esta é a aposta da empresa para ser sua versão de Game of Thrones. Uma cena sombria sobre uma jovem enterrando um recém-nascido morto também permitiu aproximar a trama dos momentos mais dramáticos da série icônica da HBO.

Mesmo assim, no final, transpareceu o discurso de Cavill e Smith sobre o fato de Geralt ser um homem “comum”, munido das melhores intenções: “Tudo o que ele queria era uma vida simples, mas o destino tem outros planos para ele”, afirmou o ator. “A série tem lutas incríveis, tem boa música, tem Henry numa banheira”, brinca a roteirista, “mas a mensagem mais importante diz respeito à empatia pelo diferente. O mundo é grande o bastante para todos nós”, conclui.

Começa o matriarcado

Outra série que despertou paixões durante o painel foi a apresentação de La Casa de Papel. Às vésperas de sua quarta temporada, a série trouxe a São Paulo o grupo composto por Pedro Alonso (Berlim), Alba Flores (Nairobi), Darko Peric (Helsinki), Esther Acebo (Mónica) e Rodrigo de la Serna (Palermo). Os atores interagiram bastante com os fãs locais, fazendo o possível para se expressarem em português.

Mesmo assim, a nova temporada ainda guarda muitos mistérios, e o elenco precisou driblar as perguntas para não entregar nenhum spoiler. “O grupo precisa se reordenar. Ele está bastante abalado depois dos últimos acontecimentos”, explica Alonso. “Ele precisa se encontrar, assim como toda família. Mas esta é uma família desestruturada. Conforme eles caminham mais perto da destruição, os vínculos se tornam mais profundos”, completou.

Foto: Divulgação Netflix

“Agora, o professor não tem todo o controle”, anunciou Acebo. “O que gosto nessa temporada é ver que as mulheres fazem o que precisam fazer por conta própria, sem acompanharem os personagens masculinos. Apesar de ser mãe e esposa, Mónica vai tomar parte das ações como qualquer outro”, afirma. Flores acenou para o futuro sombrio de Nairobi: “Nesta temporada, os roteiristas estão indo na contramão das expectativas do público. Quem gosta de Nairobi vai sofrer”.

Além de um trailer inédito, o painel de La Casa de Papel também contou com uma cena exclusiva na qual o Professor (Álvaro Monte) foge da perseguição policial, apenas para cair dentro do cercado de um touro. Ele precisa decidir rapidamente entre ser perseguido pelo animal ou pular o muro e enfrentar as balas. O momento de tensão representou um bom exemplo da mistura de ação, drama e comédia que a série pode proporcionar. Ao fim, os fãs descobriram enfim a data de estreia da quarta temporada: 3 de abril de 2020.

Michael Bay volta à boa forma”

Ao contrário de The Witcher e La Casa de Papel, o filme Esquadrão 6 (2019) ainda não traz uma marca consolidada, razão pela qual o público da CCXP estava mais reservado quanto à presença do painel. Mesmo assim, as habituais tiradas cômicas de Ryan Reynolds, sempre muito simpático e espontâneo, ajudaram o público a abraçar a apresentação que também contava com os atores Adria Arjona, Mélanie Laurent, Manuel Garcia-Rulfo e Corey Hawkins.

O elenco estava bastante descontraído, brincando com o estilo “peculiar” de direção do diretor Michael Bay, conhecido pelas histórias explosivas e frenéticas. “Bay guarda tudo na cabeça dele. É um caos para os atores e a equipe, mas existe um ritmo dentro da cabeça dele”, garantiu Reynolds. “Ele sempre grita: ‘Mais rápido, mais rápido!’, então a gente faz mais rápido, né?'”. O astro ainda brincou que este seria o retorno do diretor “à boa forma”.

Esquadrão 6 traz a história de um grupo de combatentes que finge a própria morte, e depois passa a agir como “fantasmas”, combatendo o crime sem constarem oficialmente nos registros. “Somos seres humanos, não super-heróis“, explica Hawkins. “Eles possuem falhas, e precisam aprender a trabalhar juntos. São heróis que não usam capas – pelo menos não nesse filme, talvez na sequência!”, completou.

Reynolds lembrou o gigantismo da produção, que conta com cenários gigantescos (“Nunca vi um navio tão grande na vida!”), e uma perseguição de carros em alta velocidade nas ruas estreitas de Florença (“Recomendo a todo mundo dirigir um carrão pelas ruas de Florença!”). Hawkins lembrou tinha o sonho de infância participar de “uma produção gigante de Hollywood, com tiros e explosões, passando por vários países”.

Foto: Eduardo Martins / AGNEWS

Mesmo assim, Ryan Reynolds lembrou que os atores precisaram se arriscar na maior parte das cenas de ação: “Não existem tantos efeitos visuais, muito do que aparece no filme é real. A gente sabia que seria assim, os riscos faziam parte. A cena do navio, por exemplo, ou os momentos com o helicóptero no Oriente Médio foram insanos!”. Quando questionados se fariam como seus personagens, apagando o passado para cortarem o laço com familiares, Arjona e Garcia-Rulfo responderam rapidamente “não”. Reynolds brincou: “Talvez eu apagasse alguns filmes”. Laurent preferiu outro caminho: “Poderia apagar alguns namorados”.

A apresentação incluiu uma longa cena de mais de cinco minutos de Esquadrão 6, quando os personagens se encontram na cobertura de um arranha-céu, tentando sobreviver ao ataque de dezenas de homens armados, enquanto um especialista em parkour (Ben Hardy) está grudado ao vidro do 90º andar. A cena combina tiros, explosões, piscinas gigantescas estourando e inundando o imóvel, gruas em movimento e outras imagens indescritíveis. “E isso foi Frozen 3!”, concluiu Reynolds ao final da cena, despertando gargalhadas da plateia.

Os assinantes da Netflix conferem o resultado desta superprodução a partir do dia 13 de dezembro.

 

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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