Berlinale 2020 :: Kleber Mendonça Filho afirma que cinema brasileiro tem sido destruído em silêncio
Clima quente no primeiro dia da Berlinale 2020, e já na coletiva com os integrantes do júri! Com a presença do diretor Kleber Mendonça Filho, é claro que não faltaram perguntas sobre o atual momento do cinema brasileiro, que vive uma gangorra: ao mesmo tempo em que bate recorde de participação no Festival de Berlim, com 19 filmes exibidos, enfrenta problemas sérios junto à Ancine, que não apoiou qualquer produção nacional selecionada e ainda enfrenta entraves burocráticos em relação às novas produções.
“É claro que estou preocupado”, declarou o diretor de Aquarius (2016) e Bacurau (2019). “Temos cerca de 600 projetos entre cinema e televisão congelados pela burocracia [..] O cinema brasileiro tem uma história longa, é muito diverso. Foram de 15 a 20 anos de trabalho duro para construir isso. Temos uma lista de cineastas muito diversa, não apenas do Rio de Janeiro e de São Paulo, que economicamente e historicamente era onde o dinheiro estava guardado. E é exatamente isto que estão tentando destruir neste momento, em silêncio.”
O diretor aproveitou a oportunidade para agradecer o interesse de Carlo Chatrian, novo diretor artístico da Berlinale, que recentemente declarou estar preocupado com a gestão da indústria de cinema no Brasil pelo governo Bolsonaro. “Muitos cineastas jovens me procuram e lhes digo que é uma época dura, mas também excelente para fazer filmes”, declarou Kleber Mendonça. “A tecnologia ajuda e temos um país ainda mais cheio de contradições, conflitos e drama.”
Kleber Mendonça Filho integra o júri oficial presidido por Jeremy Irons e, ao lado dos atores Bérénice Bejo e Luca Marinelli, dos diretores Kenneth Lonergan e Annemarie Jacir e da produtora Bettina Brokemper, irá definir quem serão os vencedores do Urso de Ouro e demais prêmios da 70ª edição do Festival de Berlim.
O Papo de Cinema está no Festival de Berlim, trazendo diariamente a você críticas, notícias e Instagram Stories. Acompanhe a cobertura do nosso incansável Bruno Carmelo em nossa área dedicada ao evento!
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Francisco Russo
Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.