É uma pena que certas figuras não sejam eternas. Que lástima noticiar, por exemplo, a morte de alguém da estatura de Michel Piccoli, um dos maiores atores do cinema. Embora sua família tenha comunicado o fato pesaroso apenas nesta segunda-feira, 18, o artista morreu no último dia 12, em decorrência de complicações de um AVC (acidente vascular cerebral). Ele tinha 94 anos e, de acordo com Gilles Jacob, amigo e ex-presidente do Festival de Cannes, morreu na companhia da esposa, Ludivine, e dos filhos Inord e Missia. Nascido no seio de uma trupe de artistas – o pai era violinista e a mãe pianista –, Piccoli conviveu desde muito cedo com esse ambiente de criação, algo que dilapidou logo com as aulas de interpretação que o levaram ao teatro. No começo dos anos 1960, ele não era exatamente um iniciante no cinema, pois já tinha feitos outros filmes, inclusive alguns para a TV, mas despontou como uma estrela enorme ao protagonizar, ao lado de Brigitte Bardot, O Desprezo (1963), de Jean-Luc Godard.
Antes, porém, ele já havia contribuído com dois outros gigantes. Em 1954 fez French Can Can, de Jean Renoir. Já em 1956 tinha dado o primeiro passo da larga parceria com o espanhol Luis Buñuel em A Morte no Jardim. Sob a batuta do espanhol ele faria, ainda, O Diário de uma Camareira (1964), A Bela da Tarde (1967), O Estranho Caminho de São Tiago (1969), O Discreto Charme da Burguesia (1972) e O Fantasma da Liberdade (1974). Se tornou um ator requisitado por grande autores, tais como Jacques Demy (Duas Garotas Românticas, 1967); Marco Ferreri (A Comilança, 1973, Dillinger é Morto, 1969); Alain Resnais (A Guerra Acabou, 1966, Vocês Ainda Não Viram Nada!, 2012); e Manoel de Oliveira (Party: Vou Para Casa, 1996, Belle Toujours, 2006). Trabalhou com Claude Chabrol, Louis Malle, Nanni Moretti, Leos Carax, Claude Sautet, entre muitos outros. Que carreira linda.
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No que diz respeito aos prêmios, Michel Piccoli venceu o de Melhor Ator no Festival de Berlim de 1982 por Une Étrange Affair (1981); no Festival de Cannes de 1980 por Salto Nel Vuoto (1979); foi quatro vezes indicado ao César; ganhou o David di Donatello de Melhor Ator por Habemus Papam (2011); isso além de ter sido homenageado nos eventos sediados em Veneza, Locarno e Shangai. Seu último trabalho foi emprestar a inesquecível voz ao curta-metragem Notre-Dame des Hormones (2015). Foi-se um gigante e o mundo ficou mais feio.
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