Crítica


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Sinopse

Decidido a entrar para o cangaço com 30 anos, o rico Zé de Julião logo se tornou um rico empreiteiro e líder político por conta do enfrentamento dos coronéis de suas região.

Crítica

O cinema e a literatura imortalizaram uma imagem do cangaceiro na memória de muitos brasileiros. Homens e mulheres em busca de liberdade para o povo do nordeste que percorriam o sertão ostentando armas e munição pesada e causando brilho no olhar dos jovens das pequenas comunidades comandadas por grandes fazendeiros. Ficção e realidade, neste caso, tem mais semelhanças que diferenças. Mas como toda regra tem sua exceção, houve integrantes do cangaço que foram além da troca de tiros com a volante, como era chamada a polícia da época. Um desses personagens que não se deram por satisfeitos com os feitos de Lampião e seu bando pode ser conhecido mais intimamente no documentário Zé de Julião: Muito além do cangaço.

Dirigido por Hermano Penna, o filme vai na fonte mais vasta sobre o tema, que são familiares e amigos que conviveram com Zé de Julião em suas mais diversas fases. Isto porque o início da produção parece ser mais um retrato dos muitos rapazes que, para fugir da perseguição policial, tornaram-se cangaceiros. Porém, o protagonista em questão era um homem de visão que, após dedicar-se a proteger seu povo das verdadeiras chacinas patrocinadas por donos de fazendas e perder a primeira esposa de maneira trágica, colocou o pouco que tinha na mala e foi para o Rio de Janeiro. Alfabetizado, algo raro para a sua geração, Zé de Julião virou construtor na cidade maravilhosa. Como diz um de seus filhos, José, ele era um “arquiteto por conhecimento”. Paralelo às construções, transformou sua casa numa espécie de república de nordestinos, abrigando conterrâneos que, assim como ele, vinham tentar a sorte longe do sertão. Do Rio de Janeiro para o canteiro de obras de Brasília, foi um pulo. Mas foi voltando para sua terra natal, Poço Redondo, no Sergipe, que conheceu a política e iniciou o seu fim.

Hermano Penna preza os depoimentos, sempre dando liberdade para seus entrevistados, que são vistos nos lugares onde moram. Seria um erro enclausurá-los em salas fechadas, sendo que a história de Zé de Julião aconteceu e é lembrada nas ruas do povoado do qual ele sonhava ser prefeito. O que faz com que Zé de Julião: Muito além do cangaço perca um pouco do ritmo são as passagens ficcionais, com atores representando alguns momentos da vida do personagem central. As leituras de jornais de época são desnecessárias, já que é nas vozes de quem conviveu com Zé de Julião que se obtém a sua essência.

Tiroteios, vaqueiros que trocam a lida com os bois pela guerra com os coronéis, vingança, roubo de urnas, muitas mentiras e um homem sonhador. A vida curta de Zé de Julião foi intensa ao ponto de parecer um roteiro de faroeste, ou mesmo de um western-feijoada, subgênero que levou o cangaço para as telas com ares de heróis do oeste norte-americano. O documentário de Penna consegue abranger seus principais feitos e mostrar para o resto do nosso país de proporções continentais que há muitas histórias não-contadas. E que houveram outros “cabras valentes” além de Lampião.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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