Crítica


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Sinopse

Um pouco sobre a vida e a obra de um dos mais importantes cineastas norte-americanos.

Crítica

Há um essencial clima de intimidade em Woody Allen: Um Documentário. Cineasta, escritor, comediante, ator e músico, Woody Allen não gosta de abrir sua privacidade às câmeras, é avesso à autopromoção, ao jogo que geralmente estrutura a imagem mediatizada das celebridades. A proximidade incomum conquistada pelo documentarista Robert B. Weide diminui a olhos vistos essa notória resistência, mostrando-se como o primeiro dos muitos méritos deste filme, pilar que sustenta os outros tantos, pois nos torna mais próximos do ícone, nos coloca em contato com a banalidade de seu cotidiano, com as anotações bagunçadas às quais ele recorre antes de começar um novo projeto, etc. Testemunhamos, mesmo que rapidamente, a relação quase simbiôntica entre ele e a máquina de escrever, companheira de mais de 40 anos com a qual trabalha até hoje, a despeito das facilidades da modernidade.

Em meio às histórias de formação, reveladas em Woody Allen: Um Documentário, sobretudo, pelos depoimentos da irmã (e também produtora) e da mãe que se ressente de não ter lhe dado uma educação menos severa, há uma inteligente aproximação entre a vida e a obra do cineasta. Passagens de sua infância no Brooklyn são ilustradas pelo pequeno Alvy, de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), garoto que deixa de fazer os deveres de casa ao saber da expansão irrefreável do universo rumo ao fim, assim como sua família é aludida pelos parentes do menino que cresce numa casa repleta de gente em A Era do Rádio (1987). Mesmo que Allen refute muitas vezes o caráter autobiográfico de seus filmes, Weide mostra que há bastante de Allan Stewart Königsberg nos personagens e nas situações que ganharam as telas em tramas ora bem-humoradas, ora existencialistas, quando não mesclas singulares dos dois vieses.

Woody Allen: Um Documentário é fruto de um minucioso trabalho de pesquisa e do entusiasmo de Weide em desvendar aspectos que ajudem a entender Woody Allen, até onde é possível, em sua complexidade. Os empresários falam das dificuldades para transformar o escritor de outrora no artista performático que saturou (no bom sentido) a televisão americana antes de estrear no cinema. Colegas como Martin Scorsese e Chris Rock celebram a longevidade e a tenacidade de Woody Allen como criador. Progredimos cronologicamente, guiados pelos filmes, dos essencialmente cômicos aos dramáticos, nos aproximando afetivamente do senhor de óculos pretos ao passo que acompanhamos as diversas fases de sua criação. Contudo, entre os testemunhos, os mais bonitos são os de Diane Keaton, ela que escancara o carinho pelo ex-namorado e parceiro de longa data. Para admiradores menos ocasionais da dupla, chega a ser emocionante vê-la se referindo a ele.

A partir de determinado ponto da carreira, o então cômico decidiu fazer filmes mais “sérios”, apoiando-se em Bergman, Fellini, seus ídolos europeus, nem sempre contando com a adesão do espectador. Woody Allen manteve ao longo dos anos a autonomia, dos produtores e até mesmo das expectativas do público, condição para trabalhar no cinema desde a primeira e frustrante incursão como roteirista e ator de Que É Que Há, Gatinha? (1965). Woody Allen: Um Documentário enfileira depoimentos de gente que trabalhou com Allen, expõe seu método de direção de atores, toca na polêmica com Mia Farrow – o suficiente, sem desviar o caminho principal -, em suma, faz um inventário inteligente da trajetória deste que é um dos maiores diretores do cinema norte-americano, embora ele próprio insista em repetir, naquele tom excessivamente autocrítico e peculiar, que apenas teima para, quem sabe, algum dia finalmente realizar um grande filme.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
9
Ailton Monteiro
6
MÉDIA
7.5

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