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Sinopse

De volta à sua cidade natal na Austrália rural, uma mulher transforma o panorama feminino local, vingando-se daqueles que não acreditaram em seu potencial.

Crítica

Por mais que se fale a mesma língua, o cinema australiano não poderia ser mais diferente do feito nos Estados Unidos do que o português é do brasileiro. São estilos, propostas, senso de humor e reflexões tão distintas que é compreensível como determinado filme pode funcionar tão bem em um país, e não no outro. Com isso em mente, é importante estar preparado antes de encarar uma sessão de A Vingança está na Moda, longa que tirou a diretora Jocelyn Moorhouse de um recesso de quase vinte anos. A espera pode ter sido um pouco longa – e motivos para tanto ela teve de sobra – mas o importante é perceber que seu olhar apurado e um discurso tão crítico quanto inesperado seguem afiados, mesmo ao lidar com gêneros já muito visitados.

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O início de A Vingança está na Moda lembra muito o de um sucesso brasileiro: Tieta do Agreste (1996). Ao invés de uma morena, no entanto, temos uma loira igualmente deslumbrante: Myrtle ‘Tilly’ Dunnage (Kate Winslet, exuberante e no completo domínio da personagem) está de volta à pequena vila onde nasceu, e pronta para se vingar daqueles que anos atrás a expulsaram dali. Os elementos entre o filme de Moorhouse e o livro de Jorge Amado são tão similares que o espectador poderia se perguntar se um não se trata de uma adaptação do outro, ao menos até percebermos que há, de fato, uma origem literária por trás do longa agora nas telas, mas não a que nós conhecemos: a autora do romance é Rosalie Ham, uma verdadeira best seller em seu país de origem, com mais de 75 mil cópias vendidas em todo o mundo. Se houve plágio ou não, bom, essa parece ser discussão para um outro momento. Até porque as semelhanças, tão fortes no início da história, logo começam a esvanecer.

O único elo que Tilly ainda possui no lugar onde nasceu é a mãe, Molly (Judy Davis, perfeita), que há anos enlouqueceu e da qual todos os demais também se afastaram. Mas estaria mesmo ela louca, ou seria esse somente o recurso que encontrou para, enfim, sobreviver? As duas, quando se encontram, não poderiam ser mais diferentes: uma é bela, estilosa e determinada, enquanto que a outra está aos trapos, abandonada e esquecida. À princípio sem reconhecer a própria filha, logo passam a se entender, ligadas pela única arma que terão para enfrentar os demais: uma máquina de costura.

É justamente essa proposta diferenciada que desperta atenção em A Vingança está na Moda. Tilly foi mandada embora acusada de ser a responsável pela morte de um menino, colega de escola. O trauma ainda repercute na reduzida comunidade, e poucos ali parecem dispostos a perdoá-la. Entre estes estão o atraente e atlético Teddy (Liam Hemsworth, quinze anos mais jovem que Winslet, porém interpretando alguém que supostamente teria sido amigo de infância dela) e o sargento Farrat (Hugo Weaving, reprisando o Robert De Niro de Stardust: O Mistério da Estrela, 2007, em sua paixão por vestidos). Todos os outros, envelhecidos e enraizados em suas pequenezas, terão suas vidas transformadas por coisas simples, como um corte de cabelos, um concurso de beleza ou mesmo um irresistível longo vermelho. Ao mesmo tempo em que suas defesas vão sendo derrubadas, a verdade sobre o que de fato ocorreu tanto tempo antes vem, finalmente, à tona.

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Mas Moorhouse, também autora do roteiro ao lado do marido, P.J. Hogan (diretor de O Casamento do Meu Melhor Amigo, 1997), não está disposta a entregar apenas mais uma comédia romântica. Por mais que relações amorosas e sentimentos instantâneos pareçam dominar a tônica do discurso em um momento ou outro, a cineasta – mãe de duas crianças autistas – revela estar interessada em debater temas mais profundos, como o surgimento do mal, a influência dos pais no comportamento dos filhos e os efeitos do conservadorismo ultrapassado daqueles alheios ao tempo em que vivem. Por mais visual que possa ser – e o filme é, de fato, belo de se ver – esta é uma trama de superação, de se livrar dos pesos do passado para, enfim, seguir em frente. E esta é uma tarefa que não se pode pedir que alguém a faça por nós, nem mesmo como ajuda. A responsabilidade é de cada um, uma obrigação solitária e, inevitavelmente, amarga.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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