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Crítica

Cherif (Zinedine Benchenine) tem 15 anos e dificuldade para se adequar às normas. Após mais um episódio de rebeldia, ele é enviado pela mãe para viver temporariamente com os tios no interior. Ressentido, sobretudo, da falta de uma figura paterna, o garoto, então, precisa começar de novo, agarrando-se aos estudos numa escola de construção civil como possibilidade de futuro. O diretor Hélier Cisterne mostra rapidamente essa transição do protagonista em busca de outros rumos. Aliás, a narrativa toda tem um inteligente caráter lacunar, estrutura que nos impele a completar certos espaços, a não esperar tudo mastigado na tela, já que a exposição das situações está longe do habitual passo a passo.

Tudo corre relativamente bem nesse recomeço, tirando alguns colegas que provocam Cherif para vê-lo sair do sério. Ele conhece uma garota durona por quem se interessa, revê o pai, relaciona-se com a nova família, assim se mantendo afastado das confusões. Contudo, inesperadamente, o primo lhe apresenta a rotina noturna dos grafiteiros que marcam muros, monumentos, paredes e onde mais couber tinta e traço. O perigo é o tempero necessário para fazer da nova atividade um atrativo fácil. Ainda por cima, no meio há uma lenda chamada Vândalo, figura que inspira pela audácia de atingir locais aparentemente inacessíveis e a competência de nunca ser pego.

Vândalo se atém às dificuldades e descobertas de alguém carimbado como delinquente e problemático ainda muito jovem. Entretanto, são meio truncadas as tentativas de harmonizar seus anseios e a significação do grafite, boa parte porque esta atividade no mais das vezes é vista somente como demarcação territorial repleta de adrenalina e rivalidade entre assinaturas. O grupo Orc, por exemplo, persegue o ídolo para desmascará-lo. Mas com qual intuito, já que, no frigir dos ovos, militam a favor de uma causa semelhante? Já na esfera particular, bem melhor estruturada narrativamente, vemos Cherif penando para estabelecer ligações sólidas, às vezes em virtude de más decisões, noutras por pura inabilidade.

Levantando uma série de questões particulares que, no geral, são comuns aos que transitam da infância à juventude, Vândalo se alimenta também das tensões sociais (que desaguam do macro ao microambiente) do conturbado cenário europeu atual – por isso a ascendência árabe de Cherif, alusiva à sempre difícil questão do imigrante na França. Infelizmente, só na parte final o grafite surge de verdade como agente transformador. Por fim, o protagonista entende que símbolos de inconformidade, inadequação e contrariedade ao status quo, como o Vândalo, perdem valor se reduzidos a identidades individuais. Eles podem e devem sobreviver, a despeito dos reguladores que os sufocam. Pena essa ideia, forte e significativa, aparecer apenas quando as cortinas estão prestes a se fechar.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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