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Sinopse

Kate é uma imigrante iugoslava que trabalha numa loja de artigos natalinos. Sua vida está uma bagunça quando conhece Tom, sujeito que consegue enxergar além das barreiras por ela construídas para se proteger.

Crítica

Kate (Emilia Clarke) é uma imigrante iugoslava morando em Londres. A questão migratória, no entanto, não é importante, pois reduzida a comentários superficiais, mas, ainda assim, cai bem como nota de rodapé nessa comédia romântica centrada num aprendizado. Sem perspectivas, brigada com a família, a protagonista de Uma Segunda Chance para Amar tem ameaçada até sua errância pelos sofás de amigos que lhe cedem espaço para pernoitar, isso por seu desleixo e egoísmo. Ela é inadequada e sofre as consequências disso. A curva dramática da personagem é clara, telegrafada desde o começo. Será preciso uma jornada de transformação e autoconhecimento para que as coisas comecem a andar nos eixos. E o gatilho para tal realização é a paixão, desabrochada não de cara, mas paulatinamente, pelo enigmático Tom (Henry Golding), desenhado como um anjo da guarda, alguém excepcionalmente ciente do que dizer, e quando, para tornar tudo menos angustiante.

Há uma idealização clara na construção dos vínculos em Uma Segunda Chance para Amar. O cineasta Paul Feig toma emprestada a magia natalina para dar ares de fábula a esse envolvimento que leva Kate a entender melhor seu lugar no trabalho e no seio da família turbulenta. Trata-se de uma comédia romântica açucarada, na qual os problemas aparentemente complexos acabam ganhando desfechos simplificados, milimetricamente concebidos para nos enredar nas demandas da jovem que experimenta toda sorte de infortúnios até voltar aos trilhos para seu próprio bem. Noel (Michelle Yeoh) é a chefe exigente, que vive a lhe chamar a atenção, mas obviamente preocupada com o andamento de sua vida; a mãe, Petra (Emma Thompson), figura impagável com sua mania de superproteção, igualmente representa uma autoridade da qual Kate deseja escapar, mas que está fazendo tudo aquilo para o bem da filha, de alguém que precisa urgente e invariavelmente de um prumo.

Uma Segunda Chance para Amar passa longe de apresentar as complexidades dos temas que lhe atravessam. O amor opera uma mudança no cotidiano de Kate que, inadvertidamente, se encanta por um sujeito distante de oferecer-lhe uma sustentação emocional maternal/paternal, aliás, pelo contrário. O carinho de Tom é praticamente destituído de interesse próprio. Ele está ali apenas para dar conta das demandas dela, a fim de garantir que dúvidas e problemas fiquem no passado. Paul Feig trabalha esse personagem particularmente bem dentro o esqueleto narrativo, pois o faz caber tanto na idealização romântica da estrutura quanto na verdade por trás do mistério. Ainda que seja absolutamente subserviente à mensagem central, o plot twist, senão de todo imprevisível, transforma radicalmente as intenções, especialmente por tirar o foco do esteio sentimental e direciona-lo completamente à necessidade da protagonista aprender uma lição para prosperar.

Há um esquema bem definido em Uma Segunda Chance para Amar. Mesmo que atenda a um itinerário surrado, o longa de Paul Feig se beneficia do carisma do elenco, a começar por Emilia Clarke e Henry Golding. A dupla funciona bem como o casal improvável. Emma Thompson é o destaque entre os coadjuvantes, com sua iugoslava rabugenta que afasta os familiares com suas demandas por atenção. Da perspectiva dos congêneres natalinos, temos aqui um que se aproveita de toda essa tradição. Valendo-se da renovação como signo sintomático do encerramento de um ciclo e começo de outro, o filme desenvolve um enredo simpático, igual a muitos feitos com elementos bastante parecidos, mas ainda assim funcional em virtude do estabelecimento de um percurso aparentemente de todo óbvio, mas alterado a tempo, com o intuito de reconfigurar a missão de Kate, influenciada pelo extraordinário e guiada pelo afeto. Tolo e bonitinho em semelhante medida.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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