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Sinopse

Lance Sterling, considerado o melhor espião do mundo, é chamado para salvar a população mundial (novamente) após um evento insólito. Ele precisará, então, unir forças com o jovem gênio Walter para salvar o dia com suas inventivas bugigangas.

Crítica

Se havia alguma sutileza no título original – Espiões Disfarçados, em uma tradução livre – o nacional Um Espião Animal a deixa completamente de lado. Afinal, essa animação – baseada no curta-metragem Pombo: Impossível (2009), de Lucas Martell – aposta quase todas as suas fichas numa única ideia: o que aconteceria quando o maior espião secreto do mundo é transformado em um... pombo? Em sua forma animal, ele, acostumado a agir sozinho, se vê obrigado e formar time com o atrapalhado cientista responsável por sua transformação, um jovem órfão que parece viver no mundo da lua. Os dois não poderiam ser mais diferentes entre si, mas acabam por formar uma equipe imbatível. Esse mesmo argumento, com uma ou outra variação, já foi visto inúmeras vezes na tela grande (e na pequena também). E se nada de novo é apresentado, ao menos restam personagens razoavelmente carismáticos e uma direção capaz de dotar o conjunto de um dinamismo suficiente para evitar o gosto de requentado e oferecer aos menos exigentes um passatempo minimamente curioso.

Desde pequeno, Walter (Tom Holland) esteve sempre ocupado com suas criações aparentemente malucas, mas que tinham um objetivo muito sólido: possibilitarem um mundo melhor e mais seguro. Suas motivações também eram evidentes: com uma mãe policial, tudo o que queria era garantir que ela voltasse para casa sã e salva. Bom, nem sempre o que se deseja acontece, e o rapaz acaba crescendo sozinho. Já adulto, vai trabalhar na agência mais disputada do governo norte-americano, mas uma das suas engenhocas termina por colocar o agente Lance (Will Smith) em perigo – e, por isso, se vê demitido pelo próprio. No entanto, quando esse é acusado injustamente de um crime que não cometeu, só lhe restará uma pessoa no mundo a quem pedir ajuda: justamente aquele que tanto maltratou poucos minutos antes! Os dois se reencontram, mas no meio de uma experiência pouco segura, uma confusão acontece e... pronto, Lance é agora um pombo!

E assim ele passará pela maior parte do filme. Seria até interessante acompanhar as desventuras de uma dupla formada por um jovem e uma ave, sendo essa capaz de falar, mas não de voar! Mas, assim como o recente Jumanji: Próxima Fase (2020), este também não consegue manter por muito tempo a sua suposta inversão de expectativas. Há passagens realmente envolventes – como a perseguição no spa ou a fuga por Veneza – mas isso parece ser pouco para os realizadores. Afinal, é o rosto do astro Will Smith – ou, melhor dizendo, da sua versão animada – que estampa os pôsteres de divulgação, e não o de um pombo olhudo e desajeitado. Assim, quando a inesperada parceria começa, enfim, a dar certo, a magia logo se desfaz, e mais uma vez Lance estará de corpo inteiro em ação. É quando o filme deixa de ser sobre a união de duas figuras completamente inadequadas, mas que, de alguma forma, conseguem atingir seus objetivos, para se voltar a sentimentos mais óbvios, como amizade e respeito às diferenças: elementos que merecem ser abordados, evidentemente, mas não da forma tão rasa e superficial como aqui se verifica.

Há um outro ponto de discussão em Um Espião Animal, no entanto, que demora a ser desenvolvido, mas acaba por ocupar boa parte da trama: Walter é um inventor, sim, e a serviço de uma operação reconhecida por seus intentos bélicos. No entanto, o que o move é a paz e a união, e não o confronto e a aniquilação. Tanto que todas as suas criações visam soluções não-violentas, revelando altas doses de criatividade que, ao menos no universo colorido do faz-de-conta aqui proposto, chegam a fazer sentido. Isso tudo vindo do país mais militarizado do mundo, e numa realidade em que se discute cada vez mais a real necessidade de armamento do cidadão comum – tanto nos Estados Unidos como também no Brasil, diga-se de passagem. Pode parecer bobagem, mas uma mensagem de forte apelo pacifista, ainda mais direcionada às crianças, pode ter um efeito reparador que não pode, nem merece, ser desconsiderado.

Bonitinho, porém, bastante ordinário, Um Espião Animal é o tipo de filme que acaba se valendo mais por elementos paralelos, com as questões acima discutidas, e menos por sua trama principal. Fosse apenas pelo enredo central, restaria ao projeto não mais do que um esquecimento quase automático ao término da sessão, terminando por ser relegado a uma vala comum e sem chances de recuperação, destino de tantos outros projetos similares. Sem garantir algum tipo de reconhecimento imediato, ao menos possui algo a mais que pode, eventualmente, justificar uma revisita futura. Os realizadores Nick Bruno e Troy Quane, ambos estreantes na função, deixam evidente em suas decisões a inexperiência em lidar com algo de tamanha amplitude. Não a ponto de prejudicar a diversão passageira, mas o suficiente para impedir um proveito mais duradouro, no entanto.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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CríticoNota
Robledo Milani
6
Alysson Oliveira
2
MÉDIA
4

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