Crítica


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Sinopse

Bertrand está no “auge” dos seus quarenta anos e sofre de depressão. Depois de usar uma série de medicamentos que não surtiram nenhum efeito, começa a frequentar a piscina municipal do bairro onde vive. Lá conhece outros homens com histórias semelhantes a sua. O grupo se junta e forma uma equipe de nado sincronizado masculino, algo incomum dentro do esporte. Sob o comando de Delphine, uma ex-atleta vitoriosa, Bertrand e os novos companheiros decidem participar do Campeonato Mundial de Nado Sincronizado, encontrando, enfim, um novo propósito para a vida.

Crítica

Que solução mais inusitada a encontrada por Bertrand (Mathieu Amalric) para dirimir os efeitos da depressão. Encurralado, sem grandes perspectivas, ele resolve se juntar a uma equipe masculina de nado sincronizado, somando esforços com figuras de personalidades heterogêneas, mas que, assim como ele, passam por turbulências gradativamente arrefecidas pelo trabalho conjunto e as conversas no vestiário. A cena dele misturando remédios controlados com cereal no café da manhã dá o tom do longa-metragem dirigido por Gilles Lellouche. Nela, bem como em toda a produção, a graça e o drama caminham de mãos dadas, nutrindo-se simultaneamente. Os instantes pesados, nos quais há demonstrações das misérias de cada um dos protagonistas, são entremeados por pontualidades cômicas que acentuam o sabor agridoce do conjunto. Os desajustados na telona são figuras centrais, podendo, para vias de premiações, por exemplo, serem separados entre principais e coadjuvantes. Porém, na verdade, há distribuição quase uniforme da centralidade.

Parcimoniosamente, o realizador desvela os infortúnios de todos, evitando a armadilha de se entregar demasiadamente a uma fórmula, promovendo esse progresso com particular habilidade. Laurent (Guillaume Canet), o esquentado da turma, aquele que cobra seriedade nos treinos, possui um temperamento instável que cria problemas familiares, além de uma mãe com severa bipolaridade; Marcus (Benoît Poelvoorde), o falastrão, está prestes a falir sua quarta empresa; Simon (Jean-Hugues Anglade), o roqueiro frustrado, trabalha na cantina da escola onde sua filha adolescente estuda. Thierry (Philippe Katerine), é o tímido com dificuldades de aproximar-se das mulheres; e Avanish (Balasingham Thamilchelvan), o imigrante que se faz compreender mesmo se expressando na língua materna. John (Félix Moati), entra depois no grupo, como peça vital por ser quem mais aguenta prender a respiração. A argamassa da equipe é a confiança que um deposita no outro.

Um Banho de Vida segue um caminho mais ou menos fácil de prever, com adversidades se avolumando ao ponto de provocar a sensação de encurralamento. As pessoas inequivocamente encontrarão algo parecido com uma redenção quando provarem ao mundo que podem vencer. Todavia, como num road movie, no qual menos importa, de fato, a chegada, já que o vital é partilhado no decurso, o mais relevante está na forma melancólica e terna como Gilles Lellouche, também um dos roteiristas, instila minuciosamente, por meio dos diálogos, a humanidade dos personagens, suas falibilidades expostas aos olhos de um entorno contestador, que cobra um preço relativamente alto dos não ganhadores. Há tiradas muito boas, como a sutil conquista da confiança dos demais por Bertrand, sem a necessidade de uma série de eventos marcando o compasso de tal êxito. Além disso, o elenco valoriza com louvor as possibilidades oferecidas pelo texto que serve de base.

Ainda que acabe reforçando a prevalência do sucesso para a imprescindível retomada da confiança e, por conseguinte, da autoestima, Um Banho de Vida dribla com graça armadilhas que poderiam torna-lo demasiadamente esquemático e/ou convencional. Assim, se estabelece como um feel good movie, daqueles feitos evidentemente para provocar sorrisos e fazer o espectador sentir-se bem, contudo não banalizando as intempéries para chegar a tal resultado. As demandas, inclusive as das treinadoras vividas por Virginie Efira e Leïla Bekhti, igualmente diante de obstáculos amainados pela convivência com os marmanjos, são desenvolvidas com atenção aos detalhes. No que tange à veia puramente humorística, além da sacada do estrangeiro compreendido independentemente do idioma falado, há momentos preciosos, como os treinamentos individuais da coreografia ao som de Physical, sucesso na voz de Olivia Newton-John, e uma mensagem, mesmo simples, de que atividades não pertencem intrinsecamente a este ou àquele gênero. E que delícia ver esse estrelado time se divertindo, como na ótima cena embalada por Easy Lover, de Phil Colins.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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