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Sinopse

Atualmente trabalhando na Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, o Capitão Nascimento se depara com o poder paralelo das milícias, um dos maiores problemas do Rio de Janeiro.

Crítica

Muito já foi dito sobre este alardeado blockbuster brasileiro. Ele foi esmiuçado por parte da imprensa especializada, nas conversas de bar, e seus aspectos, desde os mercadológicos, que dão conta do lançamento recorde e instantâneo sucesso de bilheteria, à discussão ideológica, a visão de país que ele apresenta, foram amplamente discutidos sob as mais diversas óticas. Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro é um dos mais contundentes filmes políticos feitos por aqui nos últimos anos, dos mais bem-sucedidos na história recente.

Para início de conversa, é, no mínimo, tentador comparar Tropa de Elite (2007) com Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro pelo fato de haver uma clara evolução no segundo, como cinema ou veículo de discussão sociológica/política. No entanto, se apurarmos o olhar e os sentidos, notaremos que os filmes formam um díptico coeso. Exemplo disso, para ficar em apenas um, é certa aproximação da conduta do Capitão Nascimento (Wagner Moura), agora Coronel, com a leitura ideológica que seu agregado Matias (André Mathias) propõe acerca da polícia e do dever em Tropa de Elite. Portanto, não se trata de falar bem da sequência, dizendo o quão melhor ela é em relação a seu precursor, mesmo que assim o seja. Há o complemento esperado das boas sequências, as que não anulam o antecessor, pelo contrário, o expandindo.

Se no primeiro filme os inimigos eram traficantes, "donos" dos morros que colocam sob estado de sítio a sociedade periférica carioca, em Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro os vilões se multiplicam numa teia bem mais intrincada. Vão desde as milícias formadas por policiais corruptos, que expurgam (ou se associam a) traficantes para controlar o poderio econômico e político das comunidades carentes, passando por figuras tragicômicas que ganham notoriedade por proferirem falácias populistas na televisão, indo às mais alta esferas do Executivo. Estas, de acordo com a denúncia diluída ao longo do filme, muitas vezes são financiadas por esquemas de cobrança de propina e enriquecimento ilícito por parte da ala podre da polícia militar.

Tropa de Elite 2 ainda deve muito ao protagonismo de Nascimento, que ganha tons carregados de complexidade, numa exigência suprida à altura por um intérprete em estado de graça como Wagner Moura. O Coronel lida com a distância do filho, que não entende porque o pai mata para sobreviver. As regras parecem existir somente para proteger uma minoria que as leis não alcançam, a não ser quando delas precisam para acobertar condutas não necessariamente éticas. Padilha parece nos dizer, pela luta de Nascimento dentro de uma esfera superior de poder, pelo representante dos direitos humanos que briga com as “armas” que lhe competem, ou pela jornalista que dribla sanções à imprensa, que enquanto raros fizerem esse esforço contra um conjunto de proibições e de intrincados esquemas que regem os poderes, pouca coisa pode mudar. É a constante luta quase solitária do homem contra o gigantismo do sistema, seja ele qual for. Por isso Nascimento é visto por parte do público como o herói que se ergue contra o que há de podre no reino da terra brasilis.

Impreterivelmente, como todo bom filme político, Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro gera mais comentários por conta de sua visão ideológica do que propriamente em virtude de suas qualidades cinematográficas. Isto é parcialmente bom, pois nessas águas da dialética em amplos campos é que um bom filme político deságua. Mas, não podemos nos esquecer de que, estritamente como cinema, tem-se aqui uma mistura narrativa muitíssimo eficiente entre o drama de ação e o já citado filme político. José Padilha está mais seguro, Wagner Moura continua encarnando visceralmente Nascimento e temos ainda coadjuvantes que fazem trabalhos dignos de premiação, como Irandhir Santos e o surpreendente Sandro Rocha. Enfim, o filme encontra na qualidade uma justificativa para ser sucesso. Padilha consegue provocar reflexão corajosamente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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