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Sinopse

Thor está preso do outro lado do universo. Ele precisa correr contra o tempo para voltar a Asgard e parar Ragnarok, a destruição de seu mundo, que está nas mãos da poderosa e implacável vilã Hela.

Crítica

Thor: Ragnarok é um considerável salto de qualidade em relação aos seus antecessores, Thor (2011), uma tentativa heroico-shakespeariana, e Thor: O Mundo Sombrio (2013), uma completa bagunça. A primeira lição que o neozelandês Taika Waititi aprendeu com os erros de seus predecessores no cargo de diretor de um longa-metragem do Deus do Trovão foi não se levar tão a sério. Ele abranda a solenidade das intrigas palacianas e do iminente apocalipse por meio de um clima bastante descontraído. Já no começo, com Thor (Chris Hemsworth) enfrentando uma criatura milenar que ameaça erradicar a existência em Asgard, sobressaem as piadas, as sacadas jocosas, diga-se de passagem, muito bem encaixadas, cristalizadas como tempero principal da narrativa. Tal guinada (brusca) em direção a um estilo ameno, desdobramento, sobretudo, do sucesso dos Guardiões das Galáxias de James Gunn, garante a bem-vinda renovação das aventuras cinematográficas do Vingador que se recusa a assumir o seu reinado.

A grande vilã de Thor: Ragnarok é Hela (Cate Blanchett), Deusa da Morte e irmã primogênita de Thor e Loki (Tom Hiddleston), que reivindica para si o trono. Por conta de um infortúnio no retorno a casa, os dois herdeiros mais novos se perdem na galáxia, deixando livre o caminho para ela colocar em prática o Ragnarok, ou seja, a hecatombe profetizada. Todavia, boa parte do longa-metragem se passa no planeta sucateado em que o outrora senhor do Mjolnir cai acidentalmente. Toda a fase de adaptação à nova realidade, ao exílio forçado e à completa falta de perspectiva quanto a voltar e defender o reino é marcada pelo bom humor. Personagens como o Grão-Mestre (concebido de forma impagável por Jeff Goldblum), ajudam a renovar a graça constantemente, evitando que a inclinação à comédia torne tudo banal ou desprovido de peso dramático. A própria Hela, ainda que lance mão de expedientes violentos para garantir a dominação, é atravessada por uma deliciosa aura paródica, méritos do trabalho da atriz.

Como alardearam os trailers, um dos maiores momentos de Thor: Ragnarok é o encontro entre Thor e Hulk (Mark Ruffalo). Aliás, o Gigante Esmeralda está diferente, em comparação a sua última incursão na telona, em Vingadores: Era de Ultron (2015), falante e com um ar ligeiramente infantil. É curiosa a abordagem de Taika Waititi, que aproxima o super-herói mais forte, por vezes, de uma criança mimada e carente de atenção, garantindo, assim, boas risadas. As cenas de ação são executadas com vigor, especialmente o embate entre os antes colegas no coliseu repleto de espectadores formando torcidas organizadas. Vários coadjuvantes bem construídos são apresentados, enriquecendo o todo e, felizmente, descentralizando o foco. A principal delas é a Catadora 142 (Tessa Thompson), uma das melhores figuras do longa, representante das mulheres independentes e fortes implicadas na batalha, além de beberrona incorrigível e guardiã de um segredo extremamente valioso para os esforços de deter o mal.

A prevalência do humor não asfixia os demais vieses em Thor: Ragnarok, um espetáculo pirotécnico – e a qualidade dos seus efeitos especiais deixa a malfadada técnica de Thor: O Mundo Sombrio para trás –, mas que sabe dosar habilmente os tons secundários. Taika Waititi aproveita os exemplos de bem-sucedidas realizações anteriores da Marvel para resgatar o Deus do Trovão do limbo, oferecendo algo que mescla engenhosamente aventura e comédia. Embora o roteiro se coloque abertamente refém de um padrão, com a sucessão de deixas e subsequentes chistes instaurando uma atmosfera de leveza até em meio a ocorrências de gravidade clara, a diversão é soberana. O mundo pode estar literalmente acabando, mas sempre há espaço para um esbarrão fora de hora e uma tirada provocativa, inclusive na interação entre Thor e Loki. Como bônus, a participação especial de outro herói da Casa das Ideias e de certo ator famoso num papel minúsculo, cuja essência sintetiza o espírito debochado, aqui predominante.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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