Crítica


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Sinopse

Um criador de satélites precisa impedir que uma tempestade de proporções épicas destrua o planeta. Para isso, terá que atuar em parceria de seu não tão querido irmão.

Crítica

Tempestade: Planeta em Fúria ataca em três frentes principais para tentar extrair algo de relevante de mais uma narrativa sobre o possível cataclismo planetário. Na primeira delas, há a deflagração da situação extrema que o aquecimento global provocou, com distúrbios climáticos severos ocorrendo no mundo todo. Tendo os Estados Unidos como líder, 17 países resolvem criar um mecanismo de satélites ao redor da Terra para equilibrar as coisas, cuja administração se centraliza na Estação Espacial Internacional. Jake (Gerard Butler) é o homem responsável pela construção e manutenção da estrutura durante anos, até ser destituído do cargo pelo irmão caçula, Max (Jim Sturgess). Esse evento expõe a segunda esfera do longa-metragem, o drama familiar, representado pela dificuldade de comunicação entre os consanguíneos. A terceira, e menos relevante, é o contexto político, acessado com superficialidade e logo relegado à condição de componente periférico de um filme-catástrofe.

Anos após a briga, Max volta a procurar Jake por conta de uma falha crítica no programa Dutch Boy, alcunha do sistema responsável por manter o planeta a salvo. O privilégio do cineasta (e produtor) Dean Gavin pela ação, pura e simples, fica evidente já na forma como esse conflito de interesses se resolve “para o bem da humanidade”, com o primogênito aceitando embarcar novamente num foguete, a despeito da ojeriza pela sujeição ao mais novo. Ainda dentro dessa dinâmica familiar, a filha do protagonista, Hannah (Talitha Eliana Bateman), desempenha a função de ancorar o desejo de voltar para casa, a despeito do amor que o profissional sente por seu trabalho. Aliás, no que tange ao campo das interpretações, Talitha sobressai, especialmente diante de um Gerard Butler atuando no piloto automático, reproduzindo o tipo “brucutu, mas de bom coração” pelo qual ficou célebre em Hollywood. Logo, há uma divisão narrativa em duas partes iguais, sendo uma na estratosfera e outra no planeta agonizante.

São claras as fragilidades de Tempestade: Planeta em Fúria, filme repleto de inconstâncias, inconsistências e incongruências. Na medida em que é exposto o plano terrível para fazer do Dutch Boy uma arma de letalidade sem precedentes, o que afasta a hipótese inicial de falha meramente mecânica, o roteiro aproxima a fórceps os irmãos que, então, precisam trabalhar em conjunto, isso por querer salvar a espécie. Pretensamente intrincada, a trama desvelada aos poucos, sem qualquer sutileza e impacto dramático, oferece apenas a certeza de estarmos diante de uma produção bem genérica, sem lugares para aprofundamentos nas questões climáticas, familiares ou políticas, seus três pilares essenciais. Dean Gavin constrói um espetáculo pirotécnico, com direito a efeitos digitais que dão conta da grandiloquência de inundações, superaquecimentos e demais fenômenos decorrentes da ganância. Nem o Rio de Janeiro escapa, pois vemos gente morrendo, no verão, congelada à beira mar do Leblon.

O caráter rocambolesco do enredo ganha ainda mais destaque quando Tempestade: Planeta em Fúria nos entrega os responsáveis por tamanha atrocidade. No espaço, Jake encarna o típico herói disposto a penhorar a própria vida para frustrar os planos do vilão. Já na Terra, Max, em meio a banal dinâmica com a namorada, Sarah (Abbie Cornish), funcionária do serviço secreto, convenientemente próxima do presidente vivido por Andy Garcia, faz sua parte. De determinado ponto em diante, a ação desenfreada toma de assalto o longa-metragem, soterrando relações interpessoais e motivações mais densas. O discurso de pluralidade é tão raso que não se justifica para além das falácias de cooperação internacional, já que, embora o plano emergencial do começo seja encabeçado por norte-americanos e chineses, numa coalizão de países “amigos”, quem acaba garantindo a interrupção dos planos malignos é um ianque. Nem nos filmes de super-heróis as crises se revolvem tão facilmente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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