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Sinopse

A pequena traça Teca vive com sua família e seu fiel ácaro de estimação Tuti numa caixa de costura. O que eles mais gostam é de comer papel, mas quando Teca aprende a ler, descobre que os livros guardam histórias.

Crítica

Temas como analfabetismo/alfabetização podem ser considerados quase que desleais na narração de qualquer história. Como não se emocionar com uma criança que tem a educação básica negada pelos problemas sociais em Central do Brasil (1998)? Ou na obstinação de um idoso que nunca ganhou ensino formal em Uma Lição de Vida (2010)? É praticamente como se o próprio tópico dissesse ao realizador que as cartas estão na mesa, basta jogar com atenção. Mas há quem consiga, a partir desse conteúdo, misturar as peças e produzir algo sensacionalista, que apenas provoca resposta emocional rápida e pouco profunda, como o Oscar bait (filmes que parecem ter sido produzidos com o único propósito de receber indicações ao Oscar) Preciosa: Uma História de Esperança (2009). Em Teca e Tuti: Uma Noite da Biblioteca - novo longa do vibrante cinema de animação brasileiro, que tem se destacado continuamente - os responsáveis não buscam o choque, mas sim o interesse natural pelo aprendizado através da fantasia.

Misturando personagens em stop motion com pessoas reais, a trama apresenta Teca, uma simpática traça, que vive na casa de uma costureira idosa. Teca e seus amigos estão sempre em busca de papel para comer, desafio constante na casa da vovó, onde eles acabam se alimentando principalmente de lã e tecidos, que são menos saborosos. O panorama muda quando a anciã começa a ler livros para seu neto, que os retira regularmente na biblioteca. Com a chegada do novo “oásis” de novas folhas a cada semana, a vida das traças melhora significativamente. No entanto, enquanto todos se deliciam com a abundância de páginas, Teca descobre que os “desenhos” e "bolinhas" presentes nelas escondem valor adicional.

O surgimento do interesse é encantador, revelando enfoque sensível e genuíno. A forma como Teca abandona seu instinto natural de se alimentar de papel e, em vez disso, mergulhar no mundo das histórias contadas pela vovó, é retratada de maneira refinada, que pode ser observada na sagacidade das perguntas pertinentes que faz a si própria, enriquecendo a trama e permitindo que o público se envolva plenamente com sua jornada. A obra, enriquecida pelas canções de Hélio Ziskind e Ivan Melo, possui potencial notável para estimular o interesse dos pequenos.

No entanto, é válido observar que certos elementos introduzidos no terceiro ato destoam da lógica diegética estabelecida anteriormente, conturbando, de algumas formas, a coesão do enredo, como a inserção de referências que não contribuem substancialmente para a narrativa. Na mesma linha, outra dimensão emocional, com o surgimento da ancestralidade de Teca, é jogada ao espectador, o que poderá gerar certa dispersão no público alvo. Uma abordagem, talvez, mais concisa teria preservado certas naturalidades.

De qualquer forma, Teca e Tuti: Uma Noite da Biblioteca se destaca como mais um exemplo notável de projetos nacionais que se incorporam a um grupo distinto de filmes, como O Menino e o Mundo (2014) e Placa-Mãe (2023). Esses trabalhos fazem parte de tendência emergente na animação brasileira, caracterizada por perspectiva que vai além do mero compromisso com o entretenimento, mas engajando-se também em pertinentes questões sociais e culturais.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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