Crítica
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Sinopse
A protagonista de Placa-Mãe é uma androide que, dotada de cidadania, recebe o direito de adotar duas crianças humanas. Na animação exibida na 17ª Mostra CineBH, o preconceito da localidade com essa nova família é insuflado pelas postagens de um influenciador digital sensacionalista.
Crítica
É interessante perceber a evolução do cinema animado brasileiro. Em dado momento, o contexto parecia fadado a extremos, sendo difícil encontrar meio termo entre, por exemplo, o genial, mas hermético, trabalho de Otto Guerra, e empreitadas regulares de projetos como o da saga Brichos, infantis, por excelência. Felizmente, essa conjuntura está em franca metamorfose. Placa-Mãe, aposta capaz de suscitar interesse de diferentes públicos, é um bom exemplo dessa conversão.
Na história, somos apresentados à simpática androide Nadi. Desenvolvida pelo dócil cientista Theon, ela ampliou suas capacidades neurais a ponto de ser considerada quase humana. Sendo assim, tornou-se a primeira robô a ganhar cidadania do Estado brasileiro. Esse suposto respeito lhe conferido é colocado à prova quando tenta adotar os irmãos órfãos: David e Lina. As crianças, desde sempre se virando como podem, se dividem entre se entregar à mãe-robô ou cortar pela raiz esse amor que pode não vingar. Simultaneamente, essa situação delicada é tratada com desdém por Asafe, político extremista que, às vésperas da reeleição, precisa de um “inimigo” para rechear seus discursos e temas polêmicos para inflar seus seguidores.
Num primeiro momento, a trama aparenta grande complexidade. São dispostas diversas metáforas que, mal engendradas, poderiam confundir o espectador menos atento. Mas o desenrolar dos fatos dá conta de amarrar todas as bases. Isso porque, ainda que estreante em longas, Igor Bastos dirige a aposta com apuro. Na construção, que irá transitar entre as ambientes política e infantil - mirando, respectivamente, maduros e ingênuos - o cineasta estabelece uma bifurcação inicial, que pretende se encontrar no desfecho. Nesse meio, para que os paralelos se alinhem, nada poderá ser por acaso. E, de fato, isso acontece, não há momentos desimportantes.
As possíveis complicações das pautas são suavemente contornadas por personagens magnéticos. Nadi, por si só, já carrega busca pessoal intrigante que, mesmo múltiplas vezes tratada no cinema, possui tempero brasileiro. David e Lina são o yin-yang das fragilidades e embrutecimentos de crianças que precisam amadurecer sozinhas. Algumas outras máquinas animadas dão conta de bons momentos cômicos. Entretanto, aí provavelmente esteja o grande desperdício da obra. Produzido inteiramente em Minas Gerais, o filme encontra brechas para exercer seu “mineirismo”, que se manifesta em frases de efeitos e inspirações folclóricas, marcando pontos altos da trama. Estes, lamentavelmente, não podem ser encontrados em abundância.
Virtuosamente, Placa-Mãe não se contenta com o “fizemos o que podíamos”, e vai além. No terceiro ato, principalmente, é incitante perceber que, mesmo com arcos finalizados, caminhos foram abertos para discussões variadas, não somente para que o projeto possa ganhar continuação. Mesclando ficção-científica e rusticismo, o longa lança argumentações pertinentes, habilitadas a dialogar muito bem com sua época e, além de tudo, encantar dos pequenos aos mais crescidos.
Filme visto durante a 17ª CineBH: Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte (2023).
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Victor Hugo Furtado | 8 |
Alysson Oliveira | 6 |
Maria Caú | 7 |
MÉDIA | 4.3 |
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