Crítica


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Sinopse

Quando chega em casa, depois de mais um dia corriqueiro no trabalho, Virgílio liga a secretária eletrônica e ouve um recado fora do comum. É uma mensagem de Clara, comunicando o término do relacionamento dos dois. Ele, contudo, não faz a menor ideia de quem seja essa mulher. Perturbado devido ao seu jeito metódico e controlador, ele não se lembra de ter se relacionado com ninguém, mas todos ao seu redor pareciam saber do relacionamento dos dois, perguntando como ele está se sentindo com o término. Agora, ele precisa encontrar essa mulher misteriosa.

Crítica

Para um personagem tão controlador como Virgílio (Mateus Solano), que chega ao ponto de programar minuciosamente sua rotina e exibir o cronograma na geladeira, que sabe exatamente a quantidade de canetas sobre a mesa de seu escritório, o “talvez” é um inimigo feroz. Não à toa, o protagonista de Talvez Uma História de Amor começa o filme justamente discutindo acerca das imprevisibilidades amorosas, dos desdobramentos impossíveis de antever. O gatilho para sua jornada acontece com certa mensagem gravada na secretária eletrônica. Clara (Thaila Ayala) deixa um recado terminando o namoro deles, dizendo-se apaixonada como nunca, mas impossibilitada de seguir adiante. O fato do publicitário sequer lembrar-se da existência da então ex cria uma premissa curiosa, pois ele precisa recordar-se dessa mulher que o está deixando, especialmente a partir dos contatos com os amigos em comum. Estamos diante de uma comédia romântica com os trejeitos caros ao gênero, que parte da construção de uma personalidade obsessiva o suficiente para justificar o término.

Diretor de curtas-metragens e minisséries televisivas, Rodrigo Bernardo realiza seu primeiro longa-metragem. Essa inexperiência transparece em dados momentos, como na reunião da agência com uma importante cliente de perfumaria. Otavio (Marco Luque) quase perde a atenção da empresária, sendo salvo no último momento por um insight supostamente brilhante de Virgílio, mas que na verdade é feito apenas de máximas publicitárias sem qualquer conteúdo. Pode parecer bobagem, mas a ausência de uma consistência maior, justo nesses instantes de transição, vai minando a narrativa, tornando-a tola desnecessariamente. O próprio Luque, humorista famoso, não é capaz de se desvencilhar dos tiques e meneios característicos que o fizeram célebre em programas e esquetes cômicos, mas que aqui apenas atrapalham o delineamento da figura do melhor amigo que torce ao êxito do protagonista. Há um excesso, também, no que tange à exposição do comportamento substancialmente regrado do homem que parece viver confinado no passado, com celulares e aparelhos antigos em casa.

A mensagem que sustenta Talvez Uma História de Amor é bastante clara. Será preciso que Virgílio abandone seu patológico medo de mudanças para sentir o sabor de novas experiências, sobretudo as amorosas. O roteiro do longa-metragem logo deixa exposta uma fórmula seguida praticamente sem variações. Cada amigo, a quem o protagonista recorre para saber mais da amada esquecida completamente, adiciona peças do quebra-cabeça. Embora fuja do óbvio nesse sentido, pois as informações não são como epifanias ao desmemoriado, servindo mais ao espectador que gradativamente tem clarificada uma imagem geral da dinâmica afetuosa do antigo casal, o percurso não evita um vício contraproducente. Toda vez que algum famoso aparece na telona, por poucos minutos – Paulo Vilhena, Nathalia Dill, Dani Calabresa, entre outros tantos – sabemos que mais uma camada será adicionada, não sem boas doses de artificialidade. Aliás, essa falta de organicidade se observa também na relação das pessoas com os espaços, que soam demasiadamente cênicos e, portanto, falsos.

A despeito das fragilidades, Talvez Uma História de Amor possui charme, e o mesmo vai se impondo na medida em que a trama anda, sem grandes surpresas, é verdade, mas oferecendo outras texturas emocionais. Mateus Solano dá conta do recado apenas parcialmente, sobretudo por preterir as nuances em favor da tipificação. A atriz norte-americana Cynthia Nixon, em sua pequena participação especial, consegue evidenciar as diferenças entre o registro inclinado ao histriônico (o de Mateus) e o seu, permeado por sutilezas. A entrada da jovem Katy (Bianca Comparato) em cena ensaia guinar a trama a outros caminhos, mas a sensação se configura apenas numa pista falsa, já que o realizador se aferra com determinação apenas à demonstração da trajetória singular de um homem com amnésia lacunar, que precisa resgatar dentro de si uma figura com a capacidade de mudar sua vida. O potencial dessa situação inusitada é subaproveitado, assim como a realidade identificada pelo protagonista, de ter desperdiçado inúmeras oportunidades com mulheres por ele interessadas amorosamente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
5
Robledo Milani
7
MÉDIA
6

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