Crítica
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Sinopse
Aparentemente condenado a uma vida de fracassos profissionais, um aspirante a astro do cinema tem a grande chance de sua vida ao ser escolhido para viver um super-herói nas telonas. Mas, ele acaba perdendo a memória.
Crítica
O cinema besteirol já nos presenteou com filmes hilários, vide Apertem os Cintos...O Piloto Sumiu (1980) e os integrantes da trilogia Corra que a Polícia Vem Aí. Esse tipo de produção se agarra aos clichês de certos gêneros e/ou filões e os estica até as raias do absurdo. Como atualmente as principais figuras das produções de ambição comercial são os super-heróis, nada mais justo do que surgir alguém disposto a demolir a seriedade atrelada a mocinhos extraordinários lutando contra vilões maldosos e extrair alguma graça ao utilizar uma série de disparates escancarados. Super Quem? é uma realização francesa dirigida, escrita e protagonizada por Philippe Lacheau. Ele vive Cédric, ator fracassado que parece uma encarnação do Salsicha do Scooby-Doo. Depois de tantos “não”, é escolhido para interpretar Badman nas telonas. No começo há a impressão de que o longa-metragem vai ser uma paródia dos bastidores do cinema, a julgar pela produtora com excesso de sinceridade e ausência total de noção do ridículo, as pressões dos patrocinadores para inserções publicitárias e mesmo o tratamento dispensado aos aspirantes ao firmamento cinematográfico. No entanto, isso logo deixa de ser importante, assim como todos os outros vieses que a história adiante sugere como vitais e logo descarta. Podemos dizer que o resultado é um amontoado de situações que não sustentam numa trama consistente.
Evidentemente, a prioridade de Super Quem? é tornar ridículos alguns componentes e figuras costumeiros em filmes de super-heróis. Depois de desconsiderar o olhar ácido aos bastidores do cinema – não sem antes deixar bem escrachada a cópia do Batman –, o roteiro assinado por Julien Arruti, Pierre Dudan, Philippe Lacheau, Pierre Lacheau faz um malabarismo danado a fim de tornar minimamente interessante o protagonista desesperado para ter notícias do pai batendo o carro, perdendo a memória e transitando entre a realidade e a ficção. Aliás, esta é outra ideia ótima que se perde num fluxo de sacadas de gosto duvidoso e inúmeras menções ao universo que se pretende escarnecer. Pegando emprestada a lógica principal das comédias de erros – em que um equívoco leva a vários outros –, Philippe Lacheau coloca seu personagem em sucessivos esquetes que deveriam ser encadeados para formar um painel ridículo, talvez indicativo do olhar cáustico ao filão dos super-heróis. No entanto, infelizmente não é isso o que acontece. Enquanto Cédric é guiado por deduções completamente estapafúrdias aos próximos passos de sua saga quixotesca rumo à vergonha e ao embaraço, a irmã e os melhores amigos têm uma jornada própria que agrega pouquíssimo à linha principal do longa-metragem. Eles sequer funcionam como fiéis escudeiros desse protagonista desmemoriado, tolo e sem graça.
Nos filmes besteiróis, geralmente o protagonista é um bufão cercado de figuras igualmente imbecis por todos os lados. Faz parte do jogo. Esse artifício aqui poderia ajudar a romper com a pompa comumente atrelada aos heróis que vemos salvar o dia nas telonas. Nesse sentido, Super Quem? cumpre bem a missão de apresentar personagens que valem o quanto pesam as suas imbecilidade e inocência. No entanto, o elenco carece de alguém equivalente em talento, por exemplo, ao falecido Leslie Nielsen, ator que transformavam os seus personagens de besteirol em figuras cativantes por conta da sua capacidade de desconstruir a pompa. Nesta produção francesa, os membros do elenco não atingem esse resultado, pois demonstram certa dificuldade para lidar com as caricaturas e outros exageros propícios ao besteirol que critica a presunção. Voltando brevemente aos coadjuvantes, eles sinalizam o gosto do filme pelas piadas repetidas sem variação, o que torna a sessão um pouco enfadonha. Por exemplo, existe uma atenção desproporcional às restrições do amigo com relação ao namoro da mãe com o seu amigo de infância. Existem muitas piadas com isso, assim como há várias delas motivadas pelo efeito colateral alucinógeno do remédio. De tanto utilizar os mesmos termos para tentar arrancar risos do espectador, o realizador acaba criando um círculo vicioso de chistes cansativos e desgastados.
Mesmo as paródias ácidas também são uma forma de homenagem. Nesse sentido, Super Quem? opta por um caminho simplista para manifestar consideração pelos super-heróis. Em vez de brincar com lógicas, engrenagens e motores do seu alvo de admiração, Philippe Lacheau enche a história com menções a situações famosas e personagens não menos célebres. Na verdade, o fiapo de trama gradativamente se mostra uma desculpa esfarrapada para o realizador brindar os fãs, vide a sucessão de imitações escancaradas. Há o beijo de cabeça para baixo à lá Homem-Aranha; o arremedo de Professor Xavier; o Logan obeso dirigindo um carro Logan da Renault; a dancinha célebre de Coringa (2019) nas escadas; o ator famoso convidado a interpretar o Palhaço do Crime; entre muitas outros fan service dedicados aos espectadores acostumados com os universos Marvel e DC Comics. A única dessas paródias realmente engraçada é da breve formação dos vingadores de araque liderados pela falsificação barata do Homem-Morcego. Porém, é algo rapidamente desfeito pelo desfecho anticlimático da cena que, ao menos, prometia ter graça. Para quem espera uma zombaria divertida com os filmes de super-heróis, fica aqui o aviso: estamos diante de uma iniciativa mais preocupada em brindar a existências desse tipo de filme por meio de citações do que necessariamente em corroer as suas bases.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Alysson Oliveira | 1 |
MÉDIA | 2.5 |
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