Crítica
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Sinopse
O Fantasma do Natal Presente seleciona anualmente uma alma bondosa para ser recuperada por três espíritos. No entanto, as coisas mudam completamente de figura quando o escolhido questiona o Fantasma do Natal Presente.
Crítica
O clássico Um Conto de Natal, escrito por Charles Dickens, foi adaptado tantas vezes para o cinema e em outros meios, que quando o Fantasma do Natal Presente se apresenta ao protagonista de Spirited: Um Conto Natalino, esse de imediato reconhece o personagem. Só que, ao invés de ligá-lo ao comerciante avarento que serviu de inspiração para, entre outros, o popular Tio Patinhas dos gibis de Walt Disney, prefere citar “aquele do filme do Bill Murray?”, fazendo uma referência à comédia Os Fantasmas Contra-Atacam (1988) – que recebeu esse título no Brasil apenas para pegar carona no sucesso do mesmo protagonista de Os Caça-Fantasmas (1984), mas essa é outra história. Ou seja, não mais se privilegia o original, optando, portanto, por uma ‘cópia da cópia’. Eis a melhor definição para esse filme que encontra seu início e fim nos dois atores principais – Ryan Reynolds e Will Ferrell – ambos atuando em suas há muito conhecidas zonas de conforto e jogando apenas para os fãs, sem oferecer nada de novo ou desafiador.
O “senhor idoso e rabugento, que conta até as migalhas do pão e se recusa a ajudar os mais necessitados mesmo na véspera do dia mais emocionante do ano”, dessa vez, é substituído por um perfil mais adaptado aos novos tempos. Clint Briggs (Reynolds) é um empreendedor que construiu um império manipulando as opiniões dos outros de acordo com as suas vontades. Alguns os chamariam de “influenciador em grande escala”, mas nada mais é do que um gerenciador de fake news, dono do seu próprio “gabinete do ódio”, para se ater a uma expressão bastante em voga no Brasil atual. Ele não se preocupa muito com o que diz e nem se há veracidade nessas declarações, desde que tais falas causem o efeito esperado junto aos públicos aos quais elas se destinam, independente do estrago ou das consequências que possam provocar entre os envolvidos, sejam eles proprietários de poderosas corporações ou adolescentes em campanha para a presidência da classe.
Ao conhecê-lo, o Fantasma do Presente (Ferrell) identifica nele o desafio que precisava para continuar o seu trabalho como “recuperador de casos perdidos”. Ele, ao lado dos fantasmas do Passado (Sunita Mani, de Mau-Olhado, 2020) e do Futuro (Tracy Morgan, de 30 Rock, 2006-2013), trabalha em uma espécie de “repartição pública do além”, o que é uma visão interessante, ainda que não muito original – basta lembrar da telenovela brasileira Deus nos Acuda (1992-1993), exibida há nada menos do que três décadas e cujo mote era basicamente o mesmo do visto por aqui: seres celestiais se unindo para recuperar uma alma dada como “perdida”. Quando o diretor do “escritório” afirma que Briggs seria uma causa irrecuperável, Presente lembra que, apesar de raro, alguém com o mesmo diagnóstico chegou a ser “recuperado” muito tempo atrás. Não precisa ser nenhum gênio para imaginar a quem ele possa estar se referindo – afinal, a autocitação parece ser lema no roteiro escrito pelo diretor Sean Anders em parceria com John Morris (a mesma dupla de De Repente Uma Família, 2018): tanto em relação a uma suposta releitura de um clássico, como também nas referências que tanto Ferrell quanto Reynolds trazem consigo (a participação de Judi Dench, rápida, porém marcante, é uma das poucas que escapam do óbvio).
Para um filme cujo orçamento declarado foi de US$ 100 milhões – sendo que 75% desse valor foi gasto apenas com o elenco (cada um dos dois protagonistas embolsou a quantia astronômica de US$ 20 milhões) – Spirited: Um Conto Natalino é até tímido diante de suas pretensões. Visualmente trata-se de uma obra realmente pensada para a televisão e outras telas de menores dimensões (com exceção de algumas exibições-teste nos Estados Unidos, o filme foi lançado diretamente em streaming pela AppleTV+ em todo o mundo), seja pelo enfoque excessivo conferido aos atores, que abusam de caras e bocas para buscar alguma reação mais imediata do público – a única que escapa dessa rotina é Octavia Spencer, que funciona bem em qualquer posição, seja formando um interessante casal ao lado de Ferrell, como a ajudante em crise de consciência de Reynolds ou mesmo sozinha, defendendo um dos números mais singelos e comoventes da trama. Ah, sim, bom lembrar disso: ainda que tal escolha não se justifique dramaticamente, eis aqui um musical. E apesar das canções terem ficado sob a responsabilidade de Benj Pasek e Justin Paul, a dupla está longe de demonstrar a mesma criatividade que lhe rendeu o Oscar por La La Land: Cantando Estações (2016).
Portanto, o que se tem pela frente é um filme cujo final pode ser antecipado desde o início – não há dúvidas quanto ao sucesso da empreitada do Presente em busca da salvação do ganancioso, porém solitário, Briggs – e, justamente por isso, opta-se por investir todas as suas fichas não no destino ao qual o rumo das coisas se dirige, mas ao processo que opta por percorrer: ou seja, o durante, e não o depois. Nem mesmo esse, no entanto, é dos mais motivadores, pois entre canções fracas e não muito memoráveis – a melhor talvez seja Do A Little Good, entoada já ao final, ainda que Good Afternoon tenha também a sua graça – tem-se basicamente Ferrell em modo tímido (sem o histrionismo que lhe é característico, o que é um bom sinal), e Reynolds falando pelos cotovelos e transbordando charme, que é basicamente tudo o que tem feito desde o absurdo sucesso de Deadpool (2016). Enfim, com duas ou três boas piadas, cenários que não agregam nada de novo ao jogo e melodias bonitinhas, mas ordinárias, o que se tem é um “de e para” fãs, que talvez aproveitem mais do que a maioria. Já aos demais, deverá se mostrar tão passageiro quanto irrelevante. Resultado um tanto cruel, ainda mais frente a um investimento que em momento algum chega a oferecer como retorno algo na mesma medida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Miguel Barbieri | 8 |
MÉDIA | 6.5 |
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