Crítica
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Sinopse
Sorria 2 acompanha a cantora pop Skye Riley (Naomi Scott) quando, prestes a embarcar em uma turnê mundial, começa a viver experiências aterrorizantes e inexplicáveis. Tomada pelo horror e pela pressão da fama, ela é forçada a confrontar seu passado para retomar o controle de sua vida antes que seja tarde demais.
Crítica
É como torcer para o raio cair duas vezes no mesmo lugar, algo que, sabe-se bem, é quase impossível de acontecer. Mas isso não demoveu Parker Finn de insistir nessa (pequena, ínfima, praticamente inexistente) possibilidade. Porém, com Sorria 2, sequência do avassalador Sorria (2022), ele não se contentou em apenas reproduzir o efeito inicial – algo que dificilmente alcançaria – ao mesmo tempo em que evitou aumentar o escopo, propondo, por exemplo, uma continuação grandiosa e repleta de distrações. Pelo contrário, se esforça o tempo todo em manter o alcance, porém aprimorando aquilo que antes, percebe-se, foi feito não da melhor maneira, mas da que era possível diante das condições que dispunha na época. Assim, fez um filme ainda melhor do que o primeiro. Mas há um custo em assumir tamanho risco. E assim, decepcionou os fãs cegos e acomodados, obtendo um retorno mais tímido das bilheterias. Seria esse um preço pequeno a ser pago para uma maior liberdade criativa? A resposta parece óbvia, mas em Hollywood, nada é tão simples assim.
Lançado nos primeiros meses pós-pandêmicos a um custo irrisório (para os padrões hollywoodianos) de apenas US$ 17 milhões, o longa de estreia de Finn como realizador acumulou mais de dez vezes esse valor ao redor do mundo, além de ter recebido elogios da crítica especializada e indicações a prêmios importantes no gênero, como o da Academia de Cinema de Fantasia, Ficção Científica e Horror dos EUA (Melhor Filme de Horror), MTV Movie + TV (Melhor Filme e Performance Mais Assustadora) e Critics Choice Super Awards (Melhor Filme de Horror). Tamanho impacto não passaria desapercebido, e um segundo capítulo foi encomendado de forma quase instantânea pela Paramount, estúdio que tem tropeçado em suas investidas originais e se agarrado com força a qualquer possível franquia que surja em seu caminho (Missão: Impossível segue como carro-chefe, enquanto títulos como Gladiador II, 2024, e Sonic 3, 2024, tem se revelado apelos derradeiros de tramas que já não guardam mais novidades).
Sorria 2, portanto, está inserido num contexto de pouco risco e muita expectativa. O diretor, ciente do potencial que tinha em mãos, opta por investir no que lhe é caro, desprezando em grande parte do jogo das audiências, cada vez menos dispostas a se arriscarem para além de suas zonas de conforto. Finn consegue um meio termo: ao mesmo tempo em que pouco se afasta da trama básica, agora se dispõe a radicalizar neste conceito, explorando visões mais ousadas e provocadoras. O prólogo é bastante indicativo dessa vontade. Joel (o policial interpretado por Kyle Gallner), é o único elo com o filme anterior. É quem está amaldiçoado e precisa passar adiante a ameaça que lhe persegue. Sua intenção faz sentido, mas tudo acaba dando tão errado que ao final de um longo e elaborado plano-sequência pouco sobra, não apenas do seu plano, mas dele mesmo. O choque é inevitável. E somente aqueles com muito estômago conseguirão seguir sem revirar os olhos e ou desprovidos de expressões de espanto.
Deixando de lado qualquer necessidade de explicação – algo que se verificava no capítulo inicial – Sorria 2 trata logo de se colocar em movimento. Estará em Lewis (Lukas Gage, em participação rápida, porém marcante) o sorriso macabro, e sem conseguir se livrar dessa perseguição, dará fim à própria vida diante de Skye Riley (Naomi Scott, mergulhando com intensidade na neurose maníaca que a ameaça, entre fantasmas do passado e o perigo tão absurdo quanto real que passa a experimentar), uma cantora de imenso apelo popular que vem enfrentando problemas pessoais. O cinéfilo mais atento perceberá que ao molho já povoado por elementos oriundos da saga O Chamado e de produções similares, como Corrente do Mal (2014), acrescenta-se agora uma ambientação que vai de títulos mais obscuros, como Vox Lux: O Preço da Fama (2018) até o recente Armadilha (2024) – passando, claro, por todas as versões de Nasce uma Estrela (2018). Ou seja, a morte tem prazo para ocorrer, e dessa vez, o cenário se dá nos bastidores do mundo da música e do entretenimento.
Esta escolha oferece um vigor até então inédito dentro do universo proposto por Finn. E ele faz bom proveito do que então conjura. Skye é uma mulher atormentada, não apenas pelos próprios erros e pela incessante busca por um lugar sob os holofotes, mas agora também se vê vítima de uma paranoia que a ela se apresenta cada vez mais difusa entre o real e o imaginário. Dessa forma, além da reação imediata tão comum a este tipo de conto de culpa e danação, Sorria 2 encontra espaço também para distribuir uma pitada de crítica à engenharia que lhe concebeu, disfarçando tal propósito por meio de um discurso ainda mais feroz e vertiginoso. Em resumo, não deve agradar como sua versão inicial. Mas aos que se mostrarem abertos ao risco, tem-se enfim um conjunto capaz de combinar ousadia com algo a ser dito. E tal vontade não pode – e nem deve – ser desprezada.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Ailton Monteiro | 8 |
Alysson Oliveira | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
Ticiano Osorio | 7 |
Carlos Helí de Almeida | 7 |
MÉDIA | 7.5 |
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