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Sinopse

Um grupo de 70 presos políticos é enviado ao Chile como moeda de troca pela libertação do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher. Mais de 40 anos depois, parte desses homens e mulheres relembra o episódio.

Crítica

O número 70 está em destaque neste documentário dirigido por Emilia Silveira – sua estreia como realizadora – sob mais de um aspecto. Primeiro temos o ano de 1970, época em que ocorreu o episódio revisitado pelo olhar documental da cineasta. Segundo, está também na quantidade de pessoas envolvidas diretamente como consequência deste evento aqui relembrado. E há, por fim, após sua análise, uma tendência forte em avaliá-lo sob este mesmo aspecto quantitativo – uma nota sete, por consequência. Afinal, o tema é relevante e vale ser visitado, ao mesmo tempo em que a investigação e pesquisa desenvolvida para a realização de Setenta impressionam. Por outro lado, o formato escolhido para seu desenvolvimento e a construção do mesmo pouco surpreendem, se confirmando mais como uma interessante aula de história, e menos como uma inovadora proposta audiovisual.

No dia 7 de setembro de 1970, grupos de combate à Ditadura Militar no Brasil sequestraram o embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher. O evento – que lembra muito a mesma passagem dramatizada em O Que É Isso, Companheiro? (1997), sobre a captura e cativeiro do embaixador americano Charles Elbrick, também durante o governo ditatorial – teve como consequência imediata a liberdade de setenta presos políticos, que foram expulsos do país por decreto presidencial e enviados para o Chile, em exílio, no ano seguinte. Os porquês deste resgate são os fatores que diferenciaram essa ação revolucionária. Primeiro, esse foi o mais longo sequestro político da nossa história. Segundo, a trama bem planejada que terminou atingindo seus objetivos com muito efeito, não só retirando da prisão pessoas que apenas lutavam por um estado democrático como também possibilitando a sequência de uma série de outras atividades relacionadas, fortalecendo, assim, o movimento contrário à repressão.

Mais de quarenta anos depois do ocorrido, Emilia Silveira fez um abrangente trabalho de investigação e foi atrás de vários dos envolvidos neste episódio em particular. Como resultado, conseguiu os depoimentos de dezoito personagens dessa história. Convidados a relembrarem os fatos de anos atrás, eles oferecem um panorama completo de como tudo ocorreu, desde o princípio, abordando como se uniram, os motivos que os levaram a assumir essa ofensiva, os envolvimentos dos familiares, as consequências pessoais, e, principalmente, o que pensam e como levam suas vidas tanto tempo depois. Setenta não se resume apenas àquele ano em particular, indo além e apontando que muito da sociedade de hoje é reflexo direto do nosso passado. É a História se repetindo, mudando para não se tornar igual e evitar os mesmos pecados, enquanto precisa aprender a crescer e superar velhos traumas, assimilando, portanto, suas lições.

As pessoas presentes na tela de Setenta não estão ali por acaso. Ouvimos os relatos de jornalistas, professores, economistas, sociólogos, administradores, diretores sindicais e escritores. São profissionais letrados e influentes, com uma bagagem importante que não pode ser desconsiderada. Além deles, há os testemunhos de alguns dos que estiveram próximos e acompanharam de soslaio estes acontecimentos, como filhos e irmãos. Por fim, cenas de filmes como Brazil: A Report in Torture (1971) e Batismo de Sangue (2006) complementam a narrativa, complementando esse painel rico e bastante diversificado.

Setenta, no entanto, peca por não ir além do esperado. Seu formato é convencional, com os entrevistados falando diretamente para a câmera ou com a equipe de filmagem. Há muitas imagens, fotos e cenas de arquivo, dispostas sem surpresa ou originalidade. Se por um lado essa maneira mais tradicional é positiva, por não rouba a ‘atenção’ do que está sendo dito – e é este, afinal, o tema do documentário – por outro pode entediar aquele espectador mais acostumado com um dinamismo comercial, que terminará afastado da boa mensagem que o filme carrega. Assumidamente didático, vale pelo material que apresenta e debate que propõe, ao mesmo tempo em que deixa passar uma oportunidade de, enfim, fazer diferença dentro de um assunto já muito explorado, porém ainda longe de ser esgotado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
7
Chico Fireman
6
MÉDIA
6.5

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