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Sinopse

Cinco frades dominicanos se engajam na guerrilha contra a Ditadura Militar nos anos 1960 no Brasil. Por apoiarem a luta armada, são considerados comunistas, e acabam presos e torturados.

Crítica

Filmes que abordam grandes tragédias sociais sempre são bem vindos. Só pela coragem, já partem com alguns créditos no bolso. Porém, justamente por tratarem de temas bastante conhecidos, precisam ter cuidado e originalidade na abordagem, para não parecerem explorativos e/ou repetitivos. Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton, escorrega nestes dois quesitos. Mas veja bem: "escorrega", ou seja, passa desajeitadamente por estes limites. Em alguns momentos se sai muito bem. Em outros, deixa muito a desejar.

O filme se passa em São Paulo, fim dos anos 60, quando a repressão militar da ditadura estava cada vez mais forte. Ao invés do agito estudantil (1972, 2006), de movimentos organizados (O Que É Isso, Companheiro?, 1997) ou de reflexos no mundo civil (Zuzu Angel, 2006), a parcela da sociedade aqui afetada é um convento de frades dominicanos, que caminhava para se tornar uma trincheira de resistência aos atos do governo. Movidos por ideais cristãos, alguns frades decidem apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Maringhella. Ao chamar a atenção da polícia, começam a ser vigiados e, conseqüentemente, em seguida são presos. É quando sofrem as mais terríveis torturas, gerando destinos bastante diferentes para cada um dos envolvidos.

Apesar de ser baseado num livro autobiográfico do Frei Betto, não é ele o protagonista de Batismo de Sangue. Tendo como intérprete um dedicado Daniel de Oliveira, Betto aqui é quase um espectador, apesar de suas andanças serem também relevantes (como o tempo que passou refugiado no interior do Rio Grande do Sul). No centro da ação, entretanto, está o Frei Tito (Caio Blat, presente também em O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, 2006, que abordava o mesmo período histórico, numa interpretação visceral). Ele é o que mais sofre nas mãos dos militares, é o que mais se empenhou para tentar fazer diferença numa época tão complicada para a sociedade brasileira. Foi igualmente o que mais saiu abalado após sua libertação. Exilado na França, acabou se suicidando em 1974.

Premiado no Festival de Brasília com os candangos de Melhor Direção e Fotografia, para Lauro Escorel, Batismo de Sangue é o resultados de dois pesos, duas medidas. Se por um lado o discurso é contundente, com interpretações acima da média (Cássio Gabus Mendes, como um dos torturadores, está impressionante, bem distante do tom cômico por ele empregado em sucessos de público como Caixa Dois, 2007, e Trair E Coçar É Só Começar, 2006), por outro o roteiro força muito na intenção de chocar, assumindo um tom panfletário em momentos que o melhor seria ser sutil e contundente com pouco esforço. A mão pesada de Ratton também não ajuda muito. A impressão que passa é que o público enfocado é o internacional, ou pior, aquele espectador completamente ignorante do que está se tratando, como se fosse necessário explorar cada imagem violenta, cada gesto revoltante, cada frase de efeito. E, ao invés do menos significar mais, temos o oposto: um grande filme que se perde em exageros e descuidos. Infelizmente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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