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Sinopse

Os habitantes de um pequeno vilarejo sofrem com os constantes ataques de um bando de pistoleiros. Revoltados com os saques, alguns moradores contratam pistoleiros desempregados para contra-atacar os bandidos.

Crítica

Uma das obras referenciais do cinema de Akira Kurosawa, Os Sete Samurais (1954) contava a história de moradores de um pobre vilarejo que, ao serem ameaçados por bandidos exploradores, decidiam sair em busca de auxílio e acabavam reunindo sete valentes guerreiros que, praticamente sozinhos, conseguiam dar um jeito na ameaça. O sucesso foi tanto que poucos anos depois foi encomendada uma adaptação hollywoodiana no faroeste Sete Homens e um Destino (1960), clássico do gênero que ganhou três continuações na década seguinte e agora volta às telas em uma versão repaginada. Mas tolo for o que pensar que o novo Sete Homens e um Destino é apenas uma releitura de um antigo conto de justiça: esta adaptação, além de resgatar uma trama inesquecível, ainda é eficiente em colocá-la em sintonia com os tempos atuais.

Se desde a virada do milênio os filmes de super-heróis das histórias em quadrinhos se tornaram a coqueluche do momento em Hollywood, cinco décadas atrás o estilo que ditava as regras por lá era o faroeste. E no meio de tantos títulos genéricos muito parecidos entre si, alguns se destacavam pela originalidade ao abordar o tema e pela sinceridade do discurso que defendia. Sete Homens e um Destino encaixa-se sem muito esforço nessa segunda posição. Tem-se em cena mais uma vez a velha história do forte desgarrado que, compadecendo-se de um mais fraco em igual situação, decide investir o que tem – tempo, experiência, valentia, habilidade – em sua defesa. Porém, se antes o pedido de socorro vinha de um grupo de latinos, agora é a vez de uma mulher ser brava o suficiente não somente em reconhecer que precisa de ajuda, mas também para partir para a ação quando for necessário.

Quando os moradores de Rose Creek se veem ameaçados pelo violento Bartholomew Bogue (Peter Sarsgaard) – e isso por ter sido descoberta uma mina de ouro nas proximidades – eles possuem apenas duas opções: abandonar tudo que construíram ou permanecer e enfrentar o perigo. A viúva Emma Cullen (Haley Bennett, mostrando-se amadurecida desde os tempos em que viveu o ídolo teen de Letra e Música, 2007) parte em busca de auxílio, contando apenas com o apoio do jovem Teddy Q (Luke Grimes). Logo na primeira parada encontram no sisudo Chisolm (Denzel Washington) aquele que procuravam. O caçador de recompensas aceita ouvi-los e, ainda que sua decisão não seja imediata, acaba se convencendo em partir ao lado deles. Só que não irá sozinho – esta, afinal, não é tarefa para um só homem. E assim se dá o início do grupo de desgarrados que encontrarão serventia, enfim, não em cada um, mas no conjunto que irão formar.

Não se questiona o fato do líder ser um negro, e se alguma dúvida a respeito chega a surgir por um momento ou dois, ela logo se dissipa frente a hombridade e segurança que Denzel agrega ao personagem. O visual soturno, sempre de preto, e o rosto de poucos sorrisos deixa claro seu perfil: nele não há espaço para arrependimentos. Talvez por isso sua primeira escolha recaia sobre o aventureiro Josh Faraday (Chris Pratt), um debochado bom de tiro que assumirá o posto de seu braço direito. E se o mexicano Vasquez (Manuel Garcia-Rulfo, de Cake: Uma Razão para Viver, 2014), o oriental Billy Rocks (Byung-hun Lee, de O Exterminador do Futuro: Gênesis, 2015) e o índio Red Harvest (Martin Sensmeier) parecem preencher todo tipo de cota para minorias, a dupla Ethan Hawke e Vincent D’Onofrio (que já interpretaram irmãos em outro longa do gênero, o subestimado Newton Boys: Irmãos Fora-da-Lei, 1998) surgem como rostos familiares para garantir o elenco estrelado.

Na superfície, a linha narrativa de Sete Homens e um Destino pode ser bastante simples. No entanto, estarão nos meandros dos eventos explorados os maiores pontos de interesse. Por exemplo, a própria formação dos protagonistas. Se antes eram todos homens brancos similares em aspecto e perfil – o mais diferenciado era o galã Yul Brynner – dessa vez o que se denota é um esforço Benetton de representatividade. Para alguns isso pode parecer forçado – o politicamente correto se dá até entre os indígenas, pois há um em cada lado do combate, e é claro que terminarão por se enfrentar (em pleno século XXI, apenas índio pode matar índio, pois aos brancos tal prática não é mais permitida nem sob forma de escapismo). Mas quando se percebe que mesmo para uma mulher há espaço entre os sete, e que dois deles compõem um casal gay – basta ter olhos atentos para percebê-los – fica evidente o avanço do discurso. O diretor Antoine Fuqua pode ter desejado apenas prestar uma homenagem a uma obra inesquecível, mas o que entrega é um trabalho eficiente não apenas como entretenimento, mas capaz também de se manter em pé pelas próprias pernas. Porém, se daqui há mais meio século ela continuará relevante, isso apenas o tempo dirá.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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