Crítica
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Sinopse
A polícia dos Estados Unidos e o FBI começam uma caçada ao autor de um crime que deixa 29 mortos.
Crítica
Celebrado internacionalmente depois de ter dirigido o ótimo Relatos Selvagens (2014), o argentino Damián Szifron aproveitou a visibilidade para chegar a Hollywood, assim atingindo a meta de muitos realizadores nativos de cinematografias economicamente periféricas. Já vimos isso acontecendo inúmeras vezes, inclusive a partir do Brasil, como quando o nosso Walter Salles foi comandar Água Negra (2005) nos Estados Unidos após a efusiva aclamação mundial do seu Central do Brasil (1998). Aliás, é comum que essa transição à Hollywood coloque talentos emergentes sob o cabresto de uma estrutura de produção sem tantas margens à criatividade. Se é para rodar um filme genérico, por que escolher alguém em ascensão ou reconhecidamente habilidoso? Bom, desenvolver essa questão fica para outro momento. À introdução segue a constatação que felizmente Szifron não teve uma estreia hollywoodiana dessas decepcionantes. E, ponderando a partir da sistemática asfixia de artistas promissores em Hollywood, Sede Assassina chega a ser surpreendente, sobretudo por ir além do genérico. A trama gira em torno de uma caçada a assassino em série. No réveillon, alguém executou 29 pessoas enquanto os fogos de artifício que anunciavam o Ano Novo pipocavam nos céus de uma metrópole. Em meio à briga jurisdicional entre polícia local e FBI, somos apresentados à Eleanor (Shailene Woodley), cujo jeito acabrunhado e antissocial a destaca no panorama dos falastrões colegas de distintivo.
Diante dessa breve descrição, você pode estar se perguntando: “sério mesmo, outro filme de serial killer?”. Entre alguns erros e diversos acertos, Sede Assassina se trata de um exemplar relativamente atípico desse filão tradicional no cinema norte-americano. Isso porque não é necessariamente a identidade do matador letal que está em jogo, mas as estruturas políticas que dificultam a progressão do combate à violência, bem como as enfermidades causadas por um país que adoenta a população enquanto camufla discursos segregadores – e o aspecto humano esfarrapado é emoldurado por tamanha sordidez. O longa-metragem até ensaia reduzir Eleanor ao arquétipo da novata surpreendida por uma realidade canalha, ao ser cooptada para trabalhar na equipe de investigação principal. No entanto, o roteiro assinado por Damián Szifron e Jonathan Wakeham não concentra atenções e esforços numa única jornada de personagem. Os autores estão mais preocupados em gerar radiografias sociais, para isso diagnosticando que determinadas anomalias são decorrentes da inevitável exposição aos ambientes degradados. Eleanor tentou suicídio algumas vezes e se autodefine como jovem mulher que encontrou na polícia a proteção contra si própria. Já o seu chefe, Lammark (Ben Mendelsohn), paga o preço pela postura ética. O bravo McKensie (Jovan Adepo) completa a trinca no encalço do culpado.
O roteiro nos informa pouco sobre o passado dos personagens. Não sabemos, ao certo, o que levou Eleanor anteriormente à autodestruição e tampouco a respeito da história pregressa de Lammark. As atenções de Sede Assassina permanecem depositadas no contexto. Cada passo do personagem desempenhado com vigor por Ben Mendelsohn o faz empacar numa barreira burocrática, num plano de carreira ambicioso de certo colega influente, na disposição dos mais altos escalões para criar labirintos legais que, ao mesmo tempo, inviabilizam o trabalho e atribuem responsabilidades dos eventuais fracassos aos elos frágeis da corrente. A personagem de Shailene Woodley (outra que está bem em cena) parece uma panela de pressão constantemente prestes a estourar, cujo potencial é travado, ora por sua fragilidade emocional, ora pelas preconcepções que dela fazem, por exemplo, em virtude do antigo vício em drogas ou da falta de escolaridade. Desse modo, a caça ao assassino que aterroriza a cidade é menos angustiante do que as ordens de gente ignorante que alcançou postos proeminentes da autoridade, a partir dos quais podem desmandar de modo arbitrário. O filme poderia ser mais enfático e cáustico. Frequentemente há uma sensação de que a agudeza do discurso está sendo amenizada enquanto persiste a dúvida sobre o meliante. Ainda assim, o resultado é muito bom.
Ao ser perguntando sobre desde quando é casado, Lammark diz: “desde que é permitido”, com isso sintetizando a sua condição até ali incógnita. É o tipo de fala inteligente por evitar excessos de exposição, mesmo que durante o enredo haja concessões ao didatismo, vide os monólogos explicativos (inclusive a respeito dos sentimentos dos personagens dialogando). Esse tipo de filme de caça ao serial killer geralmente tem como seus heróis homens brancos, às vezes jovens impetuosos que aprendem algo durante a aventura, noutras sujeitos experientes que demonstram a capacidade de contribuir próximos à aposentadoria. Em Sede Assassina, o trio principal é formado por uma mulher, um homem negro e outro homossexual. Ainda que a tríade não seja explorada simbolicamente como conjunção de maiorias minorizadas em prol da salvação do dia, essa brigada de resgate é relevante dentro da perspectiva de combate efetivo às doenças dos Estados Unidos. E, felizmente, ninguém é romantizado, todos têm suas zonas sombrias e arestas, por mais que elas tampouco sejam aprofundadas. Lammark diz em discurso aos colegas: “o suspeito não é um monstro, não é um tipo, é alguém que ama, é amado, uma pessoa de carne e osso”, logo rompendo o estigma de que apenas monstros cometem crimes hediondos. Mesmo às vezes contendo o ímpeto crítico, o filme tem personalidade própria e foge do ordinário. Muito boa a estreia de Damián Szifron na Hollywood moedora de carne/talento.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 7 |
Carlos Helí de Almeida | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
Ticiano Osorio | 7 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
MÉDIA | 6.6 |
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