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Sinopse

João se compromete a pegar o filho na casa da ex-mulher. Porém, ele não contava com uma série de imprevistos atrapalhando essa jornada aparentemente corriqueira.

Crítica

A comédia Se Puder... Dirija! é o típico reflexo de uma cinematografia nacional que começa, aos poucos, a tentar andar com as próprias pernas. Muito se critica o cinema norte-americano – o de Hollywood, principalmente – por só produzir porcarias, mas é preciso ter em mente que é de lá também que saem alguns dos melhores longas de todos os tempos. Ou seja, quantidade traz consigo qualidade (ainda que em menor escala, evidentemente). Se na maioria dos países – caso do Brasil, por exemplo – a atividade cinematográfica é subsidiada pelo governo – e, por consequência, pelos impostos pagos pelos cidadãos – nos Estados Unidos isso não acontece. Lá tem-se uma indústria estabelecida, e, como tal, necessita dar lucro para seguir funcionando. E se os brasileiros buscam essa mesma independência, volta e meia terão que se sujeitar a algumas exigências do mercado. Como as que agora encontramos nesta obra descartável, sim, mas também necessária.

Assim como Roberto Santucci, cineasta que deu seus primeiros passos em projetos autorais e agora busca agradar maiores audiências com os passageiros De Pernas Pro Ar (2010) e Até que a Sorte nos Separe (2012), Paulo Fontenelle também deixou de lado obras pessoais como o documentário Evandro Teixeira: Instantâneos da Realidade (2003), que marcaram o início de sua carreira, para assumir Se Puder... Dirija!, um trabalho que em nada lembra seus esforços anteriores. Se é curioso perceber uma quebra tão marcante no estilo do realizador, isso se dá pelo fato de que antes sua autoria era completa, o que não se repete agora: Fontenelle é apenas um diretor contratado para executar de modo minimamente competente o que lhe é solicitado: ou seja, uma trama engraçada, que apresente uma ou outra novidade, e que siga os mesmos moldes de outros lançamentos dos produtores Marcos Didonet e Vilma Lustosa, como Divã (2009) e Se Eu Fosse Você 2 (2006). Percebe-se, no entanto, que lhe falta maior familiaridade com o gênero para evitar os clichês mais comuns e acrescentar algo de fato original a uma história tão batida.

Luiz Fernando Guimarães (afastado das telas desde Os Normais 2, de 2009) é João, empregado de um estacionamento em problemas com a ex-mulher (Lavínia Vlasak) e o filho. Apesar de não ser seu dia de folga, ele ficou de passar o dia com o pequeno para tentar recuperar suas faltas habituais. Auxiliado por um colega (Leandro Hassum) no emprego, decide pegar um carro emprestado (sem que o proprietário saiba) para atender ao compromisso. Esse pequeno passeio, no entanto, se transformará numa jornada de um dia inteiro, envolvendo assaltantes, um ciclista atropelado, um cachorro com problemas estomacais, uma grávida em trabalho de parto, um policial decidido a multá-lo e até uma delicada motorista do guincho da prefeitura. O objetivo evidente é que João, a cada parada exigida, aprenda com seus erros e, assim, consiga assumir seus problemas e superá-los. Mas este processo não será tão fácil, em ambos os lados da tela.

O grande problema de Se Puder... Dirija! é a total falta de graça de sua trama. Os atores, entre os esforçados (Hassum, Vlasak) e aqueles no piloto automático (Guimarães, Reynaldo Gianecchini), são um ponto menor diante tamanho constrangimento. Trata-se, afinal, de uma comédia de erros, mas ao invés de nos remeter à clássicos como Depois de Horas (1985), de Martin Scorsese, tudo o que conseguimos são bocejos constantes. O casal principal não possui a menor química, a criança age de forma pouco natural, os eventos que impedem o protagonista de cumprir seus objetivos são forçados e o uso do 3D, tão badalado pela equipe de marketing, não faz o menor sentido – situações específicas e previamente anunciadas, quase alheias ao enredo, são criadas para o seu aproveitamento, num desperdício de tempo e de dinheiro. A existência de um filme como esse até pode ser justificada dentro de um cenário mais amplo, mas não teria feito mal algum maiores cuidados em sua realização.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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