Crítica


7

Leitores


3 votos 6.6

Onde Assistir

Sinopse

Alice já passou dos 30, é casada com João, tem um filho e é uma executiva bem sucedida. Na verdade, é uma típica workaholic, que tenta se equilibrar entre a rotina de trabalho e a família, mas perde o emprego e o marido no mesmo dia. É quando passa a contar com a ajuda da vizinha Marcela para mostrar que é possível ser uma profissional de sucesso sem deixar os prazeres da vida de lado. Para isso, Alice vira sócia da nova amiga em um sex shop falido, enquanto Marcela a ajuda a descobrir os prazeres dos sex toys.

Crítica

Não é segredo que comédias nacionais com apelo popular fazem enorme sucesso comercial no Brasil. Filmes como Se Eu Fosse Você (2006), e sua sequência (2009), Divã (2009), A Mulher Invisível (2009), Cilada.com (2001) e E aí Comeu? (2012) são alguns dos títulos que fizeram bilheterias maiúsculas e se estruturaram basicamente em um elenco famoso da televisão e em roteiros pretensamente engraçados. De Pernas pro Ar, de Roberto Santucci, segue o padrão pré-estabelecido, mas com uma vantagem sobre seus concorrentes: consegue ser engraçado. Ninguém vai rolar de rir, vamos deixar bem claro. Mas é possível notar uma saudável preocupação com o timing das piadas e existe, aqui e ali, algumas gags inspiradas.

Com roteiro de Marcelo Saback e Paulo Cursino, De Pernas pro Ar traz Ingrid Guimarães como a executiva Alice, uma mulher que não tem tempo algum para seu marido (Bruno Garcia) e seu filho (o estreante João Fernandes). Depois de uma confusão no trabalho, ela é demitida e, ainda por cima, é surpreendida pelo esposo, que pede um tempo na relação. Perdida, Alice acaba conhecendo sua vizinha, a extrovertida Marcela (Maria Paula), que lhe apresenta um novo mundo: o do prazer. Calma. Alice não entra em um relacionamento com Marcela. Esta, na verdade, é dona da sex shop Sex Delícia e convence Alice a utilizar um de seus brinquedinhos – após descobrir, atônita, que a executiva nunca havia tido um orgasmo. As duas acabam sócias e este é apenas o começo das confusões pelas quais Alice se meterá por causa de seu novo trabalho.

De Pernas pro Ar começa de maneira nada promissora. A protagonista, notória comediante, não convence como uma executiva séria e focada. Neste primeiro ato da história, o filme gira exclusivamente em torno de Alice e de como sua vida atarefada a impede de curtir sua família. Nem o rosto do marido ela olha mais – capturado de forma interessante pelo diretor, que nos esconde igualmente sua identidade. O filme só cresce quando Alice passa a freqüentar a sex shop de Marcela, de onde surgem as melhores gags da trama. A cena com a calcinha musical é engraçadíssima, graças ao talento de Ingrid Guimarães para a comédia física. E se Maria Paula está longe de ser uma atriz completa, ao menos consegue convencer no papel que lhe é proposto.

De Pernas pro Ar lembra, em alguns momentos, a comédia espanhola, pelo ritmo frenético de algumas situações. Aliás, as coisas acontecem tão rápido que, em uma hora de projeção, parece estar tudo resolvido. Pequeno problema de roteiro que é logo resolvido ao colocarem novos obstáculos na felicidade de Alice – e novas piadas, claro.

O problema do filme de Roberto Santucci, ora vejam, não reside na falta de boas piadas. Está na mensagem caretíssima que o filme passa. Apesar de ter uma sex shop no meio do enredo e de martelar a, digamos, libertação do orgasmo feminino, De Pernas pro Ar revela seu lado retrógrado ao colocar uma protagonista tendo de escolher entre o sucesso profissional e seu futuro familiar. Em que século estamos? É possível que ainda hoje um homem intervenha na profissão de sua esposa – que está ganhando rios de dinheiro, diga-se – simplesmente para tê-la em casa? O roteiro acaba reforçando esta idéia ao colocar sua personagem principal pensando seriamente em abandonar tudo o que conquistara por um capricho do esposo. Pergunto-me como feministas reagiram a isso.

Se esta mensagem surge como um equívoco dentro do longa-metragem, ao menos algumas cenas engraçadas salvam o programa. As veteranas Denise Weinberg e Cristina Pereira (Trair e Coçar é só Começar, 2006) garantem alguns momentos divertidos, enquanto que Ingrid Guimarães prova ter talento para carregar um filme sozinha. Uma comédia que agradou o público alvo, foi um dos grandes sucessos de 2011 e que ainda gerou uma sequência que tem tudo para suplantar os números do original.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
avatar

Últimos artigos deRodrigo de Oliveira (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *