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Sinopse

Tino é um pai de família que tem sua rotina transformada ao ganhar na loteria. Em dez anos, o fanfarrão gasta todo o dinheiro com uma vida de ostentação. Ao descobrir que está falido, é obrigado a aceitar a ajuda de Amauri, seu vizinho, um consultor financeiro nada divertido e extremamente econômico. Tino faz de tudo para esconder da esposa que estão novamente pobres, pois ela está grávida e a recomendação médica é que evite fortes emoções. Nessa missão, ele vai contar com ajuda de Adelson, seu melhor amigo, e dos filhos.

Crítica

O talento das comédias brasileiras se limita a provocar duas risadas: uma de arrependimento por assisti-las e outra de vergonha alheia. Dependendo quanto você pagou por isso, não exatamente nessa ordem. Como praga que se alastra pelos campos, a mediocridade do humor brasileiro tomou conta das telas. Em tese, quem gosta de ser surpreendido deve arriscar. No caso de Até que a Sorte nos Separe, a aposta não seria às cegas. Longe da inexperiência de muitos diretores, bastaria saber se Roberto Santucci repetiria o competente Bellini e a Esfinge (2002) ou o fraco De Pernas pro Ar (2010).

Tino (Leandro Hassum) e Jane (Danielle Winits) formam um casal jovem e bonito. A sorte lhes brinda com um prêmio milionário, mas a riqueza modifica completamente as suas personalidades. O esportista Tino torna-se um esbanjador sedentário. Jane converte-se em uma perua. Os filhos desconhecem limites. Dez anos de irresponsabilidades se passam até que o dinheiro chega ao fim. Como abrir mão das facilidades às quais se acostumaram? A questão conturbará o ambiente familiar. A única salvação está em aceitar a ajuda do vizinho e desafeto declarado Amauri (Kiko Mascarenhas).

Os números das bilheterias encobrem, enganam e, pior, alimentam produções cinematográficas de nível precário, grande parte delas inspirada em programas televisivos como Pânico e CQC. Costuma-se erguer louros ao papel social que a televisão cumpre apontando-a como a principal responsável pela articulação cultural de um país de grandes dimensões. O que não está de todo errado oculta, porém, o viés da massificação do gosto e da centralidade da informação. Se a culpa está no sofá ou por detrás da imagem, não cabe discutir aqui. O importante é que a postura acrítica está na base do problema a legitimar uma série de filmes na toada de Muita Calma Nessa Hora (2010) As Aventuras de Agamenon, O Repórter (2012) e Totalmente Inocentes (2012).

Escrito por Paulo Cursino – do igualmente problemático O Diário de Tati (2012) – e pela estreante em cinema Angélica Lopes, o roteiro funda-se nos estereótipos. O recurso tem sua funcionalidade cômica e consegue desenvolver um bom primeiro ato. Apesar de a primeira cena ser dublada e vergonhosamente artificial, a partir de então a construção dos personagens se dá de forma espontânea, amparada em momentos bem encadeados e de humor leve. A narrativa evolui bem até o momento da crise financeira. Ou seja, quando o mínimo de tensão é exigida  – caso contrário não temos uma estrutura dramática, mas uma sequencia de gags tematicamente aproximadas –, o filme esmorece. O primeiro sintoma se faz sentir nas atuações. Winits, que antes passava sem atrapalhar, agora atrapalha. Sem recurso cômico ou técnica expressiva, seu personagem chega a dar pena. Hassum, por sua vez, faz o possível e o impossível para sustentar o ritmo do longa. Com experiência no gênero, ele é o responsável por evitar o desastre em Até que a Sorte nos Separe. Prova de que o roteiro falha no desenvolvimento da narrativa é que ao introduzir um segundo núcleo, o casal de vizinhos Amauri e Laura (Rita Elmôr) não ajuda a alavancar o filme. Bem pelo contrário, atravanca e conflitua, deixando a clara impressão de que os dois novos personagens servem mais a um respiro da dupla desgastada Tino e Jane do que à história.

Sem inspiração e com momentos de exploração descomedida das habilidades de Hassum, o filme empilha piada sobre piada, sem empolgar. A expectativa sobre Santucci talvez tenha sido ainda pior, pois seu filme segue a trajetória ingrata dos antecessores, unindo-se a um mar de frivolidades. Pelo menos Até que a Sorte nos Separe evita referências apelativas. O que, diante da situação atual, o dignifica. Dos males, o menor.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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