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Sinopse

Rogério Duarte é um dos nomes mais importantes da Tropicália, movimento cultural brasileiro da década de 1960. O artista plástico foi um dos primeiros a denunciar publicamente as torturas cometidas no regime militar. Durante a ditadura, a sua atuação política e seus feitos culturais mobilizaram muitos artistas e inspiraram toda uma geração.

Crítica

Figura proeminente do Tropicalismo, Rogério Duarte é a razão de ser do novo filme do cineasta José Walter Lima. A narrativa compreende tempos e instâncias distintas, nem sempre encadeadas de acordo com a sequência cronológica ou obedecendo cartesianamente a uma sucessão de blocos temáticos. Tal estrutura de roteiro é, ao mesmo tempo, própria para contar a história de um homem que não se condicionou às convenções, tampouco às de sua época, e um dos pontos frágeis do todo, por conta da dispersão gerada. De toda maneira, Rogério Duarte: O Tropikaoslista cumpre, de cara, a função, cuja nobreza é inconteste, de realizar uma espécie de cartografia da vida e obra de um dos sujeitos mais criativos do âmbito artístico brasileiro, um espírito irmão de Hélio Oiticica, Torquato Neto, Waly Salomão, Glauber Rocha, Caetano Veloso e Gilberto Gil, iconoclasta nato, vocacionado a transformar a realidade através da arte e de atitudes.

Aos amantes do cinema, Rogério Duarte surge como persona fascinante, sobretudo pelo trabalho memorável na criação de cartazes, sendo deles o mais famoso o de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963). Aliás, José Walter Lima chega a ensaiar centralidade à relação entre Rogério e Glauber, uma amizade que atravessou os anos e as eventuais desavenças. Todavia, ao invés de trabalhar esse potencial de uma vez, o cineasta prefere pulveriza-lo ao longo do documentário, do que decorre o enfraquecimento de sua presença como elemento expressivo. Rogério Duarte: O Tropikaoslista vai trafegando, gradativamente, pelas diversas áreas dominadas por seu protagonista, não se atendo demoradamente a qualquer dimensão, seja a de ilustrador industrial ou partícipe influente do movimento que levava em consideração o conceito da antropofagia apregoado pelo escritor Oswald de Andrade. A trama é urdida com desigualdade, cada vez menos tonificada e densa.

Rogério Duarte: O Tropikaoslista é uma colcha de retalhos alinhavados com relativa competência, mas vítima da inconstância dramática dos fragmentos. Não há depoimentos no filme, ou seja, apenas o próprio Rogério e a câmera, bem como a dinâmica da montagem, falam sobre esse intelectual torturado nos porões da ditadura, mestre do design nacional, além de linha de frente de iniciativas culturais instauradas na vanguarda da resistência aos anos de chumbo. José Walter Lima justapõe falas de Rogério captadas obviamente em momentos e cenários bastante diferentes, criando um mosaico. A falta de jeito na transição entre os segmentos fragilmente estabelecidos nem sempre permite o melhor aproveitamento do material, tanto o filmado quanto o de arquivo. Acaba sobressaindo uma sensação de superficialidade em vários momentos, exatamente para que a abrangência seja preservada, ou seja, se apresentando como efeito colateral do abraço a vários tópicos.

O realizador também peca ao privilegiar um excesso de pontuação. Toda e qualquer personalidade apresentada na tela é devidamente creditada, não importando se já o tenha sido anteriormente. Há, portanto, uma discrepância entre a tentativa de registrar a essência de Rogério e o percurso conservador/engessado, sem muitas aberturas formais para procedimentos que porventura o aproximem de seu objeto. Rogério Duarte: O Tropikaoslista timidamente acessa a potência daquelas mentes efervescentes que lutavam para chacoalhar a sociedade tupiniquim nos anos 60 e 70, nessa seara contentando-se com meros apontamentos oriundos de rememorações do protagonista. A transição à esfera religiosa, o exílio na propriedade rural, o enfrentamento do câncer e a passagem por instituições psiquiátricas são tratadas como meros dados incontornáveis da biografia repleta de controvérsia, trabalhos impressionantes e episódios não menos relevantes como emblema.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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