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Sinopse

Um campeão ofendido por Rocky o desafia para uma luta, e para a surpresa de todos, Balboa aceita, saindo da aposentadoria e começando um intensivo treinamento para voltar ao ringue uma última vez.

Crítica

Toda a saga do pugilista Rocky Balboa está intimamente ligada a biografia pessoal de autor e intérprete Sylvester Stallone. Desde o primeiro filme – Rocky: Um Lutador (1976) – em que ele também ascendia para o estrelato, passando pelos volumes três e cinco, na popularidades descerebrada de um e na decadência do outro. Rocky Balboa, o sexto volume da franquia, resgata seu astro a uma reverência que lhe é merecida, dado todo o esforço que fez durante sua carreira.

Os períodos de Rocky Balboa são bem distintos. A primeira metade é bastante sentimental, simbólica e saudosista, e por isso mesmo, profundamente elogiada pela crítica de cinema tradicional, enquanto que a segunda é dedicada aos fãs do terceiro e quarto episódio, com a luta repleta de adrenalina e testosterona, ainda que sob um olhar mais cauteloso e reticente, semelhante à condição já idosa do herói. Os elogios a parte inicial são justos, já que a condução que Stallone dá a sua história é sensível, singela e reverencial ao personagem que criou nos idos dos anos setenta. Rocky segue fiel aos seus, acompanhado dos mesmos coadjuvantes que lhe foram apoio durante sua vitoriosa trajetória, mas claramente lhe faltava algo, um motivo.

A construção em volta da diferenciação entre Rocky e Paulie (Burt Young) compõe um dos momentos mais tocantes, em que a típica redenção aludida nos filmes de Sly finalmente faz sentido em uma movimentação que não soe piegas. Paulie declara que as lembranças envolvendo a falecida Adrian fazem mal para si, pois trazem à tona lembranças dos maus tratos que ele dedicava a sua irmão. Rocky Balboa trata basicamente sobre os fantasmas do passado e de como é duro seguir a vida sem os mesmos holofotes, glórias e adrenalina do passado, resultando em cenas comedidas e pontuais sobre tais conflitos internos.

As reações de Balboa durante a entrevista coletiva são de silêncio, a mesma que ocorreu nos cinco capítulos anteriores, mas nesse faz ainda mais sentido, já que a escolha por ceder à pressão da imprensa faz eco com o tratamento dado ao monstro que há em seu porão emocional, do ser selvagem que briga para ganhar espaço e que busca sua liberdade. As emoções conflituosas que Rocky sofre provém não só do luto, mas também da sensação de não conclusão de seu ciclo, culpado, evidentemente, pelo quinto e penúltimo longa. Seu treinamento com Duke (Tony Burton) não poderia ser mais simbólico, ligado basicamente à força bruta, como foi no retorno de George Foreman, e como deve ser a um guerreiro já idoso.

Poucos momentos no repertório recente de filmes esportivos são tão emocionantes quanto o instante em que o clipe musical de Gonna Fly Now, de Bill Conti, começa a tocar, o que mostra um real declínio do subgênero, além de fortalecer a antologia de Rocky como algo presente na memória de seu público como algo clássico. Em meio a batalha contra Mason Dixon (Antonio Tarver) ocorre um dejá vù das passagens em que o lutador encarava Apollo Creed, seu maior rival, o mesmo que permitiu a ele sair do anonimato. Balboa não parece ter problemas em ser coadjuvante de suas próprias histórias, nem se envaidece por isso: seus anseios são em preencher vazios e inevitavelmente ocorrerão na alma de um guerreiro.

O que deveria ser apenas uma exibição torna-se o último movimento de uma lenda que se recusa a ser esquecida. A mitologia em torno do Garanhão Italiano prossegue viva, mesmo após o soar do gongo e o anúncio da manutenção do cinturão de seu adversário. As últimas cenas, com Rocky apontando para o público e segurando a mão de um de seus fãs na plateia é o final perfeito para o personagem mais caro de Sly. Incluindo aí a evolução deste, que não precisa mais manter uma cadeira na árvore próxima do túmulo de sua esposa, podendo, enfim, descansar na memória de seus admiradores como o filho pródigo da Filadélfia, finalmente retornado para a glória que sempre mereceu.

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é Jornalista, Escritor e Editor do site Vortex Cultural (www.vortexcultural.com.br). Quer salvar o mundo, desde que não demore muito e é apaixonado por Cinema, Literatura, Mulheres, Rock and Roll e Psicanalise, não necessariamente nessa ordem.
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