Crítica
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Sinopse
Discute a violência no Rio de Janeiro, o olhar de quem vive e a enfrenta diariamente: a Polícia Militar. Policias militares da ativa e da reserva, de patentes e gerações diferentes, homens e mulheres, ora vistos como heróis, ora tratados como vilões, falam da sobrevivência nas ruas, das escolhas, dos medos e desafios da profissão.
Crítica
Um dos grandes pontos fracos da administração pública brasileira, em qualquer esfera, a segurança geralmente é alvo de muitas controvérsias. Quando estreitamos o foco no Rio de Janeiro, estatisticamente uma das cidades mais violentas do país, o assunto se torna sobremaneira intrincado. Rio do Medo, documentário de Ernesto Rodrigues, começa externando em chave satírica a fascinação que instituições como o BOPE, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar, exercem no imaginário popular, principalmente após o lançamento em 2007 de Tropa de Elite. O fato de um menino de quatro anos solicitar que o destacamento seja o tema de sua comemoração de aniversário é inusitado, aqui utilizado para expor o absurdo. Isso, por meio da música recreativa e da disposição de apetrechos festivos que obviamente se chocam com os signos pelos quais os homens de preto são conhecidos, especificamente o logotipo da faca encravada na caveira, alusivo à morte.
Rio do Medo tem fortes contornos de reportagem, vide a forma como o realizador privilegia o encadeamento dos subsídios, visando a forja de um painel informativo, especialmente no que tange aos bastidores da polícia. Também remonta ao caráter jornalístico o privilégio das chamadas “cabeças falantes”. No mais das vezes, temos pessoas discorrendo acerca de suas proximidades com a corporação, esmiuçando regras, estatísticas, eventos traumáticos e, sobretudo, oferecendo experiências como dados à constituição de algo que (ainda bem) ao menos intenta quebrar paradigmas e lugares-comuns. A parte mais significativa do discurso do filme provém dos homens e das mulheres que em algum momento fizeram ou fazem parte da vida militar. Isso o limita. Embora esquemático, o contrabalanceio das críticas por elogios, entremeados pela constatação de uma situação alarmante que começa em instâncias superiores, geralmente surte efeito e equilibra elementos potencialmente polêmicos.
A intervenção de Ernesto é pontual, se resumindo, em boa parte do documentário, à articulação da retórica dos depoentes, chegando, inclusive, a incorrer na repetição do procedimento surrado de fazer a fala de um complementar a do outro. Muito mais eficiente, e pungente, embora bastante ocasional, é quando ele transita no sentido contrário, ou seja, nos instantes em que, através da montagem, promove fricção, não complementariedade. A estrutura do roteiro dá a incômoda sensação da dinâmica “morde e assopra”, já que logo após a observação de problemas internos da polícia, com ex-integrantes reconhecendo a brutalidade dos métodos de abordagem, ainda mais em áreas empobrecidas e, por isso, marginalizadas, vêm informações do sucateamento do efetivo, a deflagração da ausência de condições para que o policial trabalhe com segurança e sem trafegar no limiar entre a sanidade e a estafa. As constatações são providenciais, essenciais, não se podendo dizer o mesmo de sua disposição.
Uma das poucas passagens em que Ernesto produz sentido, para além da costura, oferecendo dados para apontar causas e efeitos, ocorre quando observa as políticas públicas de segurança implantadas por Leonel Brizola nos anos 80. O cineasta obviamente demonstra simpatia pela abordagem menos operacional, pois focada na integração do efetivo com a comunidade, haja vista o destaque à figura do político retratado nas páginas de jornal. Rio do Medo traz questões relevantes acerca de um panorama absolutamente caótico, como o da luta contra a criminalidade no Rio de Janeiro. Infelizmente, não o faz sem recorrer demasiadamente às ferramentas jornalísticas, se alinhando mais à veia explicativa. Faltam pontos incisivos como o da análise do sucesso do filme de José Padilha na idealização popular de uma atividade que envolve tensão contínua e preparação de guerra – outro ingrediente externo bem-vindo. Dá para perceber a euforia juvenil contrastando com a ponderação dos mais velhos, exceção feita ao veterano que claramente demonstra uma paixão quase cega, algo subaproveitado, até como pretenso efeito colateral da doutrinação militar.
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