Crítica


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1 voto 8

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Sinopse

Gilbert e Simone formam um casal de aposentados que vive uma rotina intensa numa aldeia localizada no sul da França. Todavia, a partida do vizinho (amante dela), a falta de dinheiro e a crescente rabugice dele, levam Simone a debandar dali. Sem chão, Gilbert sabe que precisa fazer de tudo para ter de volta o amor de sua vida.

Crítica

Para além da dinâmica um tanto genérica do triângulo amoroso, aceno a uma convenção do cinema francês, o que surge inicialmente como promissor em Quem Me Ama, Me Segue! é o olhar um pouco mais atento à personalidade de Gilbert (Daniel Auteuil), típico sujeito que foi encaretando ao longo do tempo, ao ponto de se tornar praticamente intragável. Tanto que na festa de despedida de um amigo das antigas ele não consegue, sequer, observar sem desconforto as fotos da juventude projetadas nas fachadas das casas charmosas das cercanias. Nesse molho ainda cabe o racismo. Sim, pois o ex-mecânico ranzinza, cujo passatempo favorito parece ser criar intrigas e inimizades, rechaça a presença do novo vizinho em virtude deste ser negro, algo passível de constatação por conta da soma da animosidade com a ciência, adiante, de que uma desavença familiar se deu por ofensa racial. Portanto, o protagonista é um homem complexo. Pena que o cineasta José Alcala não aproveite essa potencialidade, rapidamente fazendo seu filme cair num espaço bem comum.

Tudo começa a desandar ao banal quando a esposa de Gilbert, Simone (Catherine Frot), verbaliza seu descontentamento com o reacionarismo do marido e um profundo incômodo com sua acomodação e o modo automático de levar a vida. Tal passagem tem mais a ver com a vontade do realizador de reafirmar um panorama previamente estabelecido nas entrelinhas, fazendo desse movimento de desabafo uma simples muleta para que o espectador entenda perfeitamente as nuances do personagem. A se lamentar, também, que as gradações percam sutilezas no decorrer da trama, logo servindo apenas como pano de fundo a discussões triviais acerca da forma como a perda afetiva abre os olhos à importância de certas coisas. Ao invés de entender as pessoas a partir de suas peculiaridades, Alcala prefere incorrer numa lógica quase uniformizadora, passando batido, inclusive, pela amizade de outrora, cuja expressividade é importante à compreensão do todo.

Quem Me Ama, Me Segue! se beneficia de um elenco carismático, de experientes intérpretes que dão conta de dirimir, esporadicamente, a sensação de “já vi esse filme umas tantas vezes”. Daniel Auteuil está ótimo como o ranheta que valoriza sua mulher somente quando esta debanda atrás de outro amor, apesar do roteiro teimar em boicota-lo pela falta de uma curva dramática consistente. Catherine Frot igualmente dá conta do recado ao interpretar a insatisfeita com a repetição de sua rotina aborrecida, ainda que o andamento das ocorrências enfraqueça seu movimento de emancipação dos desígnios machistas. Bernard Le Coq completa o trio com classe, vivendo o amante esportista – contrapondo o marido –, mesmo que o filme lhe coloque num espaço meramente apendicular. Falta solidez na construção dessas figuras vitimadas por consecutivas fragilidades, tais como comportamentos aparentemente contraditórios e/ou aleatórios sem qualquer pegada crítica.

A entrada do menino Térence (Solam Dejean-Lacréole) em cena serve para jogar o filme num terreno ainda mais próximo do lugar-comum. Depois do começo tenso, o pequeno vai quebrar as barreiras impostas pelo avô e permitir que este se reencontre com sua porção menos intragável. A isso sobrevém uma reação em cadeia conveniente, na qual as discussões acerca do racismo, por exemplo, acabam desaparecendo como num passe de mágica. Em se tratando de uma comédia dramática claramente condicionada pelo palatável, é compreensível que o cineasta não queira pesar a mão na leitura social das circunstâncias. Porém, o começo, animador pela aparente atenção a subtextos enquanto matéria de discussão, se ocupa de criar expectativas gradativamente frustradas pelo andamento frugal, em meio ao qual os dissensos arrefecem à medida que reconexões são feitas, ao passo que todos passam a valer o quanto são bons e afetuosos num âmbito íntimo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
5
Alysson Oliveira
7
MÉDIA
6

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