Crítica


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Sinopse

Vivemos um tempo diferente. Corremos sempre, corremos sem motivo, corremos por nada. Como se o tempo tivesse ficado mais rápido. Tudo sugere velocidade, urgência. Mas afinal de contas, por que o tempo parece tão curto? Uma profunda reflexão sobre o tempo, a civilização e o futuro da existência.

Crítica

Em Quanto Tempo o Tempo Tem, a diretora Adriana L. Dutra encara a tarefa hercúlea de tentar entender o tempo, nos seus mais diversos vieses e efeitos. Para isso, se apoia em pensadores e especialistas de áreas aparentemente díspares, da geriatria à cosmologia. Reside nessa pluralidade de vozes o grande acerto do filme, a característica proeminente de sua relevância, ainda que esta se mostre essencialmente informativa, para além de qualquer aspiração artística. No começo, as problematizações conceituais que abarcam presente, passado e futuro, surgidas, principalmente, na fala de filósofos e de outros profissionais estreitamente ligados às ciências humanas, dão a falsa ideia de uma abordagem reducionista, em cujo cerne estaria tão e somente o esforço de dimensionar a complexidade por trás da necessidade de criar sistemas métricos e nomenclaturas para marcar o transcorrer da vida.

O leque se abre gradativamente, abrangendo assuntos e desdobramentos intrinsicamente ligados à questão central. Adriana alinhava os depoimentos de maneira inteligente, criando um conjunto sólido de ideias, marcado pela multiplicidade. Personagens célebres, como o sociólogo italiano Domenico De Masi, o jornalista Arthur Dapieve, a escritora e poeta Nélida Piñon, a Monja Coen Sensei, entre outros, dão suas contribuições, que vão das questões históricas, passam pelas de ordem prática e desembocam nas de cunho futurístico, estas tanto as especulativas quanto as já cientificamente viáveis. Todavia, Quanto Tempo o Tempo Tem peca pela frouxidão no inter-relacionamento desses blocos. O motivo de ser do longa-metragem arrefece em virtude da fragilidade das interseções. Às vezes, as ramificações da temática principal ganham o protagonismo, relegando assim o núcleo à coadjuvância.

Codirigido por Walter Carvalho (que assina também a fotografia ao lado de Bacco Andrade), Quanto Tempo o Tempo Tem possui imagens de transição meramente decorativas, funcionais unicamente na condição de simples interlúdios. Mesmo com sua curta duração, 76 minutos, consegue certo aprofundamento em meandros bastante vastos, como a diferença entre o tecido social das eras industrial e pós-industrial e as expansões tecnológicas que podem dar sobrevida ao corpo, algo até então impensável, e que, em tese, incorreria numa ressignificação da própria noção de tempo. Essa projeção de futuro, no qual pretensamente o inorgânico ajudaria o homem a transcender sua subjetividade, ganha peso com a palavra de Raymond Kurzweil, renomado cientista, e de Max More, fundador do Transumanismo, movimento que prega a melhora da condição humana a partir da tecnologia.

Quanto Tempo o Tempo Tem apresenta uma sensível desigualdade no enfrentamento dos subtemas levantados, o que prejudica o ritmo no geral. Há, também, um desnível no que diz respeito às participações dos convidados. Alguns, tais como o cineasta e jornalista Arnaldo Jabor, pouco contribuem efetivamente, enquanto o conteúdo oferecido por outros justifica totalmente a preferência diretiva. O bissexto tom semiconfessional da autora/narradora é outro dado subaproveitado, no mínimo insuficiente para suscitar envolvimento e/ou aproximação emocional. A irregularidade e a falta de inventividade no que tange à linguagem limitam o alcance do filme de Adriana L. Dutra, tornando-o instigante apenas pelo grau de informações e curiosidades transmitidas sobre coisas que nos afetam como raça e indivíduos, seja no plano teórico ou nos exercícios mais ordinários do cotidiano.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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