Crítica


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Sinopse

Depois que uma menina desaparece num movimentado parque de trailers, seus pais decidem fazer justiça com as próprias mãos. Ao buscarem indícios do que teria acontecido, ambos se deparam com uma revelação estarrecedora.

Crítica

A família Cullen rendeu frutos diversos aos cinéfilos de plantão. Se por um lado Robert Pattinson despontou como um ótimo ator de obras ousadas como Cosmópolis (2012) e O Farol (2019) e Elizabeth Reaser tem marcado presença em séries de prestígio como A Maldição da Residência Hill (2018) e The Handmaid’s Tale (2019), por outro tudo o que Kellan Lutz conseguiu foi estrelar bombas como Hércules (2014) e Operação Resgate (2015), por exemplo. Pois o patriarca dos vampiros comportados da Saga Crepúsculo ressurge agora, após pequenos papéis em séries como Glee (2013-2014) e Supergirl (2015-2016), como responsável pelo thriller Procura-se. Como se pode imaginar, uma tarefa ambiciosa demais para alguém que não tinha condições de abraçá-la. Justamente por isso, o resultado é não apenas decepcionante, como chega ao ponto de ser desrespeitoso com o espectador. Uma tragédia, portanto, e no pior sentido do termo – para quem está do lado de cá da tela, que fique claro.

Peter Facinelli nunca fez nada de grande destaque, seja no cinema ou na televisão – possui somente duas indicações ao prêmio do Sindicato dos Atores, ambas como Melhor Elenco em Série – ou seja, foi lembrado no meio de um monte de gente – por A Sete Palmos (2005) e Nurse Jackie (2013). O diretor de maior prestígio com quem já trabalhou foi Walter Hill, e mesmo assim foi num filme tão ruim – Supernova (2000) – que o realizador se recusou a assinar com o próprio nome, tendo preferido usar um pseudônimo (Thomas Lee, no caso). Mesmo assim, tendo dirigido somente um longa antes (Breaking & Exiting, 2018) e roteirizado apenas um outro (O Trapaceiro, 2011), pelo jeito o astro imaginou que seria tranquilo ficar à frente de um projeto no qual ele não apenas assina o roteiro e comanda a direção, como também faz parte do elenco. Não chega a ser surpresa, portanto, que não tenha se saído bem em nenhuma das frentes.

Importante deixar claro que seu personagem, o oficial Rakes, é o menor dos problemas – afinal, mal aparece como um dos ajudantes do xerife Baker (Jason Patric, que já viveu dias muito melhores). Esse é chamado para investigar o caso do sumiço da filha do casal Paul (Thomas Jane) e Wendy (Anne Heche). A família está viajando de motorhome pelo interior do país, e decide passar o feriado de Ação de Graças acampados à beira de um lago. Ao chegarem, nem bem começam a se instalar quando o sinal de alerta é dado: a pequena Taylor (interpretada pelas gêmeas Kk e Sadie Helm, vistas antes como as icônicas irmãs Grady em Doutor Sono, 2019) desapareceu. Assim que estacionam, a mãe vai até o escritório central do parque acertar os detalhes da hospedagem, enquanto o pai começa a descarregar o bagageiro no outro lado do veículo. Assim que se reencontram na porta da van, percebem que Sortudo, o cãozinho de estimação, está sozinho. Onde a garota pode ter ido? Ou pior, teria alguém a levado embora? E como tudo isso pode ter ocorrido num espaço tão limitado de tempo?

A premissa, ainda que longe de ser original, é intrigante. Porém, há erros gritantes tanto no seu desenrolar como na estrutura narrativa. Pra começar, há pouquíssimos personagens coadjuvantes: um casal vizinho de turistas, o dono do acampamento, o ajudante de comportamento errático. Assim, a possibilidade de elementos suspeitos é reduzida drasticamente. E todos possuem comportamentos altamente irregulares: a mulher do camping ao lado é sexy e sedutora, o proprietário do local é grosseiro e cheio de segredos, e o rapaz faz-tudo é drogado e a todo instante toma atitudes aleatórias. Para piorar o cenário, os protagonistas também são pouco convincentes. Jane, que deixa claro não saber em que tipo de filme está, alternando posturas cômicas com outras violentas, chega a declarar em certo momento que “tudo o que quero é uma noite normal, jantando com minha mulher e vendo um filme depois”, como se nada de trágico lhes tivesse ocorrido. Já Heche, a única em cena que ao menos demonstra algum tipo de esforço, sofre pela condução que recebe, como se estivesse em uma comédia de erros: tudo o que faz acaba dando errado. É sério isso?

Pior que sim. Pra completar o quadro da dor, Facinelli ainda tenta, nos últimos instantes, criar uma reviravolta digna dos momentos mais inspirados de M. Night Shyamalan, mas sem oferecer as mínimas condições para tal. Em O Sexto Sentido (1999), todas as razões para o personagem de Bruce Willis ser problemático – a separação da esposa, o suicídio do paciente, a depressão que o abate – estão expostas, mas o espectador é induzido a se focar em outra dinâmica (a relação dele com o menino vivido por Haley Joel Osment) para, enfim, ser pego de surpresa no final. Em Procura-se, o realizador gostaria de emular a mesma sensação, mas está longe de possuir a habilidade do colega acima citado. E quando, enfim, começa a dar suas explicações para o mistério criado – com direito a um didatismo enervante, repleto de cenas de flashbacks que, supostamente, deveriam servir de comprovações – tudo o que alcança é o desprezo de uma audiência que, mesmo diante tantos tropeços, ao menos insistia atenta na esperança de um desenlace minimamente convincente – o que nunca chega a acontecer.

 

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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