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Sinopse

Violet Markey e Theodore Finch têm suas vidas mudadas para sempre quando se encontram. Juntos, se apoiam para curar os estigmas emocionais e físicos que adquiriram no passado. Quando todas as circunstâncias fazem com que a vida seja dolorosa, os dois amigos se consolam e descobrem que ainda vale a pena continuar tentando. 

Crítica

Violet está mal. Sua irmã morreu em um acidente de trânsito há cerca de um ano, mas ela ainda não conseguiu superar a perda. O trauma foi tão forte que a impede de entrar em carros, deixou os amigos de lado e sai de casa apenas para ir ao colégio, como uma zumbi, indo sem falar com ninguém e voltando para o seu quarto o mais depressa possível. Certo dia, perdida na própria dor, só se dá conta de estar na murada da ponte onde a tragédia ocorreu quando é chamada por Theodore. Ele se assusta ao vê-la ali, parada. Pois quem observava de longe, passava a impressão de ser uma suicida, pronta a pular no rio. Ele a acorda de um tipo de transe, e assim começa uma amizade um tanto enviesada. Por Lugares Incríveis mostra o surgimento dessa relação, repleta de cantos escuros, não apenas do lado dela, mas dele também. E aquilo que parecia ser uma história de entrega e superação logo se vê sem saber ao certo para onde ir, restando apenas uma série de eventos frívolos que, no final das contas, pouca diferença conseguirão fazer.

Baseado no romance homônimo de Jennifer Niven, Por Lugares Incríveis se apresenta como um novo A Culpa é das Estrelas (2014), ou seja, é um romance adolescente – ou ‘jovem adulto’, como preferem chamar atualmente – sobre dois indivíduos prestes a descobrir o mundo, mas que precisam lidar com um futuro abreviado ao mesmo tempo em que vão conhecendo um ao outro. Se a situação dela, ao menos na superfície, não parece ser tão grave – e é importante ressaltar a questão da aparência, pois depressão geralmente é muito mais séria do que qualquer análise superficial pode revelar – a de Theodore (ou apenas Finch, seu sobrenome, como prefere ser chamado) é mais grave. Afinal, ainda que não seja tão didático a esse ponto, o comportamento errático dele revela uma bipolaridade aguda. E é justamente por ser tão leviano nesse retrato que o filme do diretor Brett Haley perde os poucos pontos que tinha a seu favor.

Afinal, Finch é visto, desde o início, como um lampejo de vida no mundo cinza da protagonista. Até a paleta de cores do figurino que ele usa contrasta diretamente com a morbidez do visual dela, condizente com o estado deprimente que enfrenta. Ele chega sem ser convidado, e mesmo que a ligação que começa a surgir tenha tudo para ser meramente pontual, será pela postura insistente dele que sentimentos irão se desenvolver entre eles. É sabido, por um lado, que uma pessoa bipolar atravessa extremos, indo da tristeza à alegria sem passar por intermediários. No entanto, o Finch que se vê em cena é puro exagero. Se num instante soa como determinado e objetivo, no seguinte simplesmente desaparece, deixando todos os demais na mão. “Ah, mas ele é assim mesmo, é bom você ir se acostumando”, diz um amigo mais antigo. Mas não seria justamente esse o tipo de sinal que deveria estar em evidência?

Brett Haley pode ter revelado grande sensibilidade ao abordar relacionamentos amorosos na terceira idade em filmes como Reaprendendo a Amar (2015), mas ao se voltar para a adolescência neste Por Lugares Incríveis tudo o que se emprega são visões estereotipadas e soluções clichês. A começar pelo próprio título, tirado de uma lição escolar que os dois recebem – escolher um lugar inesquecível da região onde moram e escrever um trabalho a respeito – tudo é bastante óbvio, desprovido de uma sutileza que faria bem aos delicados assuntos que são abordados. Essa ausência de delicadeza insere na narrativa um imediatismo – para a paixão, para o desespero, para a frustração, para a conquista – que esvazia tanto a sua importância, como também seus significados.

Se por um lado Elle Fanning transita por caminhos seguros, entregando uma Violet muito próxima de outras construções anteriores suas, como a homônima de Espírito Jovem (2018) ou a Jesse de Demônio de Neon (2016) – ou seja, não decepciona, mas também não surpreende – seu contraponto nunca consegue sequer se mostrar à sua altura. Justice Smith parece mais à vontade quando diante de exigências físicas, como em Jurassic World: Reino Ameaçado (2018) e Pokemón: Detetive Pikachu (2019), revelando grande dificuldade nessa busca por emoções mais interiores. Essa irregularidade entre eles é tão marcante que, quando um dos dois sai de cena, a ausência nem chega a ser um problema. E entre escolhas equivocadas e possibilidades desperdiçadas, Por Lugares Incríveis revela-se acanhado, bem distante das possibilidades levantadas por um argumento dono de tanto potencial.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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