Crítica
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Sinopse
Após um desempenho na peça "Electra", uma famosa atriz, Elisabeth Vogler, para de falar. Sua psiquiatra, Lakaren, a deixa sob os cuidados de Alma, uma dedicada enfermeira. Após três meses sem dizer uma palavra, a médica decide que a paciente deva ser mandada para uma isolada casa de praia. Na casa, a enfermeira fala pelas duas. Com o convívio, Alma fica uma pouco enamorada pela atriz. Pouco depois, lê uma carta que a atriz tinha escrito, e fica chocada ao descobrir que ela pensa nela como um divertido objeto de estudo.
Crítica
No princípio temos o dispositivo do cinema, a película em seu movimento mecânico para virar filme. Logo depois, um menino tateia dois rostos femininos que se confundem por conta do desfoque. Esse garoto pode bem nos simbolizar, a nós, espectadores de Persona: Quando Duas Mulheres Pecam, que igualmente tateamos as personagens em busca de respostas, por mais que suspeitemos da impossibilidade de obtê-las plenamente. Após uma temporada interpretando Electra (da peça de Sófocles), a famosa atriz Elisabeth Vogler (Liv Ullmann) simplesmente para de falar, permanecendo prostrada numa cama, sem qualquer sinal de abalo físico ou mental que justifique a paralisia. Alma (Bibi Andersson) é designada como sua cuidadora, primeiro no hospital, depois numa casa à beira mar.
O silêncio de Elisabeth parece convidar a fala de Alma a impor-se. Os monólogos da enfermeira, inicialmente parte do tratamento, pois tentativa de fazer sua companhia voltar a interagir, logo ganham intimidade. Histórias do passado vêm à tona enquanto a convivência das duas é acrescida de complexidade. A força da palavra emerge com violência definitiva no relato de Alma sobre um episódio do passado, em que, acompanhada de uma quase desconhecida, tomou banho de sol completamente nua na praia e transou com garotos que antes as observavam de longe. Difícil encontrar no cinema uma passagem tão erótica, ainda mais se pensarmos que nela a excitação é alimentada apenas verbalmente. A partir dali se cria um vínculo de profundidade inequívoca, por meio do qual os papeis inclusive se confundem lá pelas tantas.
Ingmar Bergman constrói Persona: Quando Duas Mulheres Pecam numa chave narrativa que afasta a possibilidade de interpretações absolutamente literais do que vemos ou ouvimos, embora em determinados segmentos haja a falsa sensação de estarmos num terreno confortável, onde as imagens e as palavras se oferecem a nós em seus sentidos mais evidentes. Elisabeth, até então apenas uma atriz que de repente entrou em estado brando de catatonia, vira um enigma crescente em seu ruidoso silencio. Alma, por sua vez, ao sentir-se traída pela indiscrição da figura que tomou como materna, assume traços de Electra, despejando contra essa “mãe” uma ira alimentada por frustrações e angústias. Duas mulheres isoladas na vastidão de uma ilha, cujos rostos unidos num só (em cena emblemática) denotam ao mesmo tempo atração e repulsa.
Não bastasse a inflexão no relacionamento das protagonistas de Persona: Quando Duas Mulheres Pecam, Bergman radicaliza ainda mais essa dinâmica entre Alma e Elisabeth, gradativamente embaralhando mesmo a percepção de quem elas são, ora fundindo-as numa mesma, ora colocando em xeque a sanidade de uma e as ações da outra. Os closes, cada vez mais rígidos, transferem aos rostos de Liv Ullmann e Bibi Andersson a carga expressiva do filme. É nesses espaços delimitados pelo enquadramento radical que tanto representa o ideário de Bergman, feito de investigações intimas e existencialistas, que realmente se desenrola Persona: Quando Duas Mulheres Pecam. Não é à busca de respostas que ficamos presos, mas a um fluxo narrativo feito da retórica bergmaniana sobre a condição humana, no caso, a condição feminina, universo que o sueco tão bem explorou ao longo de sua carreira.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 10 |
Thomas Boeira | 10 |
Bianca Zasso | 10 |
Francisco Carbone | 10 |
Matheus Bonez | 10 |
Maria Caú | 10 |
Chico Fireman | 10 |
Ailton Monteiro | 10 |
Alysson Oliveira | 10 |
Isabel Wittmann | 9 |
MÉDIA | 9.9 |
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