Sinopse
Crítica
Exibido na sessão de abertura do 23o Cine PE – Festival do Audiovisual de Recife, Parto Sim é um curta-metragem escrito e dirigido por Kátia Mesel, realizadora de longo histórico de serviços prestados ao desenvolvimento e à estruturação do cinema pernambucano. Tanto que, não é preciso ir muito longe: no ano anterior, no mesmo evento, ela foi uma das cineastas homenageadas pela organização. Ou seja, recebida de braços abertos. É de se lamentar, portanto, o nível de amadorismo e a imensa carência de condições técnicas que surgem na visualização do seu mais recente trabalho, um produto repleto de boas intenções – o que é inegável – mas, assim como diz o ditado, disso o inferno está cheio. De que adianta querer o melhor, quando não se tem nem as condições mínimas para sequer alcançar o regular?
Parto Sim já é conflitante a partir do próprio título. Afinal, a expressão de batismo tanto pode dar ideia de celebrar o parto – natural ou incentivado – das gestantes, proporcionando uma maior liberdade das futuras mães decidirem quando e como irão abraçar a maternidade, como pode oferecer um sentido completamente oposto. Afinal, o cenário principal da produção é a ilha de Fernando de Noronha, lugar conhecido no Brasil e no exterior pelos espaços paradisíacos cobiçados por turistas, mas que também muito castigam os moradores locais, seja pelas péssimas condições habitacionais ou em virtude dos altos preços praticados por lá. Tudo é muito difícil para quem decide ficar mais do que uma curta temporada. Ou seja, o que será que Mesel ambicionava: apoiar a gravidez na região ou promover a partida de todos os que demonstrarem sentimentos contrários ao modo como por lá as coisas são praticadas? Não chega a ser nenhum mistério responder a essa questão, mas tal dubiedade poderia muito bem ter sido evitada.
Obra de ficção, Parto Sim é centralizado numa garota que chega à ilha para visitar a tia e acompanhar os últimos dias de gestação da prima. Uma verdade, no entanto, logo se impõe: as mulheres, pelo simples fato de não haver condição humana, são encorajadas a deixar Noronha já no sétimo mês de gravidez para que possam ter seus filhos no Recife. Ficam longe de suas famílias e das próprias casas em nome da maior segurança no momento de dar à luz. Através de diálogos absurdamente expositivos e didáticos, nos quais essa realidade é explicada nos mínimos detalhes – oferecidos muito mais aos espectadores do que aos personagens em si – a audiência é convidada a acompanhar essas mulheres na jornada rumo ao continente. Mas Mesel não está satisfeita em apenas explorar tal miséria, que muito bem teria cabido em um documentário. Ela quer mais, e assim passa a assumir um tom crescentemente melodramático, tornando o que já era complicado numa verdadeira novela, com todas as reviravoltas e artimanhas necessárias, porém condensadas em cerca de 15 minutos de narrativa – o que, é preciso dizer, talvez seja o seu maior mérito.
Tornado possível por conta de um edital para realizadoras mulheres, Parto Sim dificilmente seria viabilizado de qualquer outra forma – somente uma iniciativa tão específica poderia, de fato, oferecer-lhe o mínimo de estrutura para sua realização. Há um caráter de denúncia que não pode ser ignorado – e precisa, sim, ser discutido. Mas há mais, e é esse ruído que termina por prejudicar o resto. Atuações constrangedoras, soluções fáceis e um roteiro que beira o amadorismo fazem do filme uma experiência bastante amarga que, ao invés de chamar atenção para um tema urgente, apenas distrai e afasta, eliminando qualquer possibilidade de debate. Uma lástima, portanto.
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