Para Sempre Chape

LIVRE 74 minutos
Direção:
Título original: Para Sempre Chape
Gênero: Documentário
Ano: 2018
País de origem: Brasil

Crítica

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Sinopse

Em 2016, a Chapecoense, time de futebol da cidade de Chapecó, se classificou para a final do campeonato Sul-Americano, algo inédito para o clube até então. No entanto, a trajetória histórica foi interrompida no dia 28 de novembro do mesmo ano, quando o avião que transportava o time para a grande partida sofreu um grave acidente, provocando a morte de 71 pessoas. Depois de meses de luto e muita comoção, a Chapecoense se reergueu e deu continuidade ao legado daqueles que partiram, rumo ao topo novamente.

Crítica

Relativamente jovem, pois fundada em 1973, a Associação Chapecoense de Futebol infelizmente entrou para a História por conta de uma tragédia. Em 28 de novembro de 2017, quando o time rumava à Colômbia para disputar a primeira final internacional de uma curta, porém vitoriosa, trajetória, a queda de seu avião em solo estrangeiro ocasionou a morte de 71 pessoas, entre jogadores, dirigentes, comissão técnica, jornalistas e tripulação. Uma comoção tomou conta do mundo, com manifestações múltiplas de pesar e solidariedade. Para Sempre Chape, ao invés de focar-se nesse episódio fatídico, toma um caminho mais conservador, partindo da fundação do clube, seguindo em linha cronológica. Nascido nos Estados Unidos, mas de ascendência uruguaia, o cineasta Luis Ara oferece um prólogo no qual discorre acerca da biografia da agremiação que começou pequena, mas rapidamente galgou degraus no futebol, chegando à Série A e adiante ao cenário latino-americano.

Para Sempre Chape possui uma linguagem burocrática e estanque, mas funcional. Das glórias da Chapecoense, partindo da Série D à elite do futebol brasileiro em cinco anos, passa-se a abordar a queda do avião, narrativa entremeada pelos depoimentos de jogadores, cartolas, torcedores, familiares e sobreviventes do acidente aéreo. A trilha sonora reforça desnecessariamente o tom melancólico intrínseco ao episódio referido, induzindo a emoção. Do ponto de vista estrutural, falta criatividade ao realizador que recorre às famigeradas “cabeças falantes”, ocasionalmente oferecendo recursos iconográficos para tornar o percurso menos convencional. No entanto, falta um ponto de apoio mais consistente, do que decorre a dispersão prevalente. Num momento, o foco é a emoção dos consanguíneos que falam dos mortos com orgulho e saudade. Já no subsequente, é notável a forma como o filme se esforça para sublinhar o caráter heroico do clube, inclusive a sua capacidade de regeneração.

Se, por um lado, Para Sempre Chape apela ao sentimentalismo do espectador, especialmente ao mesclar músicas e relatos dolentes, por outro, evita invadir a privacidade alheia, não recorrendo ao choro dos remanescentes. Luis Ara oferece um olhar direto, sem firulas, gerando um panorama inchado, conduzido apressadamente para caber nos pouco mais de 70 minutos do longa-metragem. A ligação da Chape com a cidade; a euforia dos torcedores com a ascensão esportiva; a dor de quem recebeu a notícia da tão absurda perda; o relato dos sobreviventes que desejam manter vivas as memórias dos colegas que se foram; tudo é pinçado, mas não aprofundado. Próximo a uma reportagem televisiva, principalmente por conta da maneira de articular depoimentos e imagens de arquivo, a produção claramente teve de lidar com restrições determinantes ao molde de sua linguagem. Por exemplo, não há cenas de partidas da Chape, apenas alusões, provavelmente por questões relacionadas às imagens e aos seus direitos de TV.

Dono de alguns momentos emocionantes, Para Sempre Chape, contudo, serve de documento ilustrativo, quando muito para nos aproximar rapidamente de pessoas que foram diretamente atingidas pela tragédia responsável por extirpar a vida de tantos. Outra fragilidade patente é a tendência à reiteração, com informações sendo um par de vezes utilizadas. Determinadas cartelas somente reforçam coisas que os testemunhos já deixaram absolutamente claras. O processo de reerguer a Chapecoense dos escombros também ganha espaço, menor, se comparado aos das demais esferas, inflando ainda mais o conjunto temático. Mesmo que possua contornos indefectíveis de vídeo institucional, sobretudo em virtude da ausência de variações em seus procedimentos-base, o filme lança mão de vários vieses da circunstância terrível, contextualizando-os na história de uma agremiação aguerrida, cujas particularidades são bastante elogiadas enquanto exumam-se as lacerações da perda coletiva.

Marcelo Müller

Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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